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Jorge Vicente - [Poeta Português]

1.

deles não cuidará a sobretarde:
os homens que cansam palavras
na imen(c)idade devorada, nas
pedras que, amarelecidas, resistem
ao passar das eras

deles não cuidará o poema,
que morreu para todos excepto
para aqueles que ainda amam o
amanhecer da casa, quando o baloiço
ainda promete da vida e quando a
criança que é criança olha o alto das
casas e vê aí um fio branco transparente:

[será o divino sopro que ascende]?

deles não cuidará a memória,
que tudo invade com a sua sede selvagem
de rememoração. deixai que as nuvens caminhem
em sentido contrário e não cuides de nada
senão do tempo que é o único que existe
e que amas agora, quando a garça que és
não quer mais nada do que abrir as asas

para o grande caminho branco.

2.

e porquê das mulheres sai sempre a vestimenta dos minutos? e dos caminhares do sol? e dos passos abertos pela justeza das árvores, dos arbustos que, em sintonia com os dedos, abrem a mão e a fecham numa voz contínua, aberta? e porquê desse sorriso caminham os olhos, com a lágrima presa na pedra que encostada está à berma do passeio. ou da estrada. porque nem todos os caminhos, nem todos os arbustos são feitos da mesma substância original. aquela que povoa as cidades e as habita desde tempos (mais que) remotos. tempos em que os dedos não abriam covas nem acendiam aves na vertente agreste das palavras.

Jorge Vicente
Todos os Direitos Autorais Reservados ao Autor.

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