Paulo Monteiro - [Poeta Brasileiro]
Endereço para correspondência:
Paulo Monteiro
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CEP: 99001-970
Rubayat
Neste mundo de coisas abjetas,
onde falam por Deus falsos profetas,
da mesma forma que nos tempos bíblicos,
Deus fala pela boca dos poetas.
Quase poema
Eu quisera escrever um poema
que falasse do amor.
O amor é tão banal
que não pensamos nele
sem que nos sepultemos no lugar comum,
e tão bonito
quando falamos nele
sem que nos persiga o pecado.
Eu quisera escrever um poema
que começasse por teus pés
e subisse por teus seios
ou que iniciando em teus cabelos
fitasse teus olhos,
beijasse teus lábios,
lambesse teu colo
e fosse descendo, descendo...
até mergulhar no teu ventre
e se tornasse poesia.
E germinando em ti,
crescesse até tomar-te
a cor dos olhos e dos cabelos,
dando-nos as mãos e nos cobrindo de beijos.
Seria belo te amar,
beber tranqüilidade nos teus lábios.
Como é doce te ouvir
e ver tuas mãos conduzindo
crianças que não têm teu sangue!
Quanto é belo ver teus seios
balouçando sob a blusa,
acenando para os filhos
que teu ventre não gerou.
Peco ao pensar nas sementes
que não plantei em ti.
Peco ao me imaginar
lavrador de tuas carnes.
Meu Deus! Tu, que és amor,
por que inventaste o pecado?
por que me fazes – ao vê-la –
sentir o dulçor dessa mulher?
dizem que sou poeta
dizem que sou poeta não sei não
a vida é dura demais para poesia
a vida é crua é nua demais para poesia
a sobrevivência exige inventividade
astúcia vivacidade demais para poesia
por isso o poema é duro cru e nu
se não for duro cru e nu não será poema
será uma bruxa metafísica
montando um cabo de vassoura
perdão montando uma lista de sangue
vermelha rubro fazendo estripulias
pelos fios telegráficos do vento
tenho que falar de flores de jardins de mulheres belas e sãs
mas como falar se as flores estão envenenadas
se os jardins estão sujos de lixo
se as mulheres estão sendo devoradas por elementos químicos
são flores jardins mulheres ainda serão flores jardins mulheres
então que poema existirá logicamente
que poema senhores críticos amantes de uma senhora histérico-estéril
mas de alta sociedade então
que poema existirá que não seja duro cru e nu
(do livro inédito eu resisti também cantando)
poema
poema das ruas tortas
desertas cheias de pó
com homens cheios de pó
e a consciência deserta
os homens caminham sós
pelas ruas sem destino
com a marmita vazia
e muito pó no estômago
o meu poema caminha
com homens empoeirados
por essas ruas poeirentas
com a marmita vazia
homens que não sabem
o que é fazer poema
poema é coisa de rico
poema de pobre é fome
sua língua é diferente
de uma língua semelhante
os homens cheios de pó
têm uma língua somente
a língua de sua barriga
barriga de vila fome
(do livro inédito eu resisti também cantando)
compreensão
olho o cansaço que trazem teus olhos
a fome e a sede de teus lábios secos
compreendo teu ódio surdo-mudo indefinido
compreendo o cansaço de teus olhos
compreendo que tens
e não tens
apenas
família
propriedade
e
tradição
compreendo que tens
e não tens
apenas
cabeça
tronco
e
membros
por isso meu ódio não é surdo-mudo indefinido
em ti vejo meu próprio pai cansado
compreendo que não teremos descanso
logo
enquanto
tudo continuar como está e que
minha poesia não terá nenhum valor
enquanto
não carregar em si o cansaço de teus olhos
a fome
e a sede
de teus lábios
(do livro inédito eu resisti também cantando)
da poética
a poesia das ruas é poesia
muito melhor que a dos poemas
a poesia a poesia das ruas é poesia
como só a poesia pode ser
e não ser poesia versos livres
e não versos concretos e abstratos
simplesmente versos e não versos
falsos todos não falsificados
a poesia das ruas é poesia
simplesmente poesia aquém
além dos poemas puramente poesia
simplesmente poesia das ruas
muito melhor que a dos poemas
com gosto de wisky escocês
escocês made in brazil
por isso o manifesto não manifesto
dizia o que ninguém disse
abaixo a poesia dos poemas
a poesia das ruas simplesmente
poesia e não poesia puramente
poesia e não poesia de cabeça
tronco e membros pó concreto e abstrato
(do livro inédito eu resisti também cantando)
marketing
branca sombra de negro canto e coração
e sombra e canto e coração e
poema rasgado nos olhos sem cor da
mulher encontrada perdida na rua do
poema que compus com pus e tudo mais
que existe na dor da branca sombra de
negro canto e coração e sombra
poema que morreu o olhar cansado e
triste da mulher perdida e encontrada
na esquina de um olhar à noite
encontram-se todos os gemidos e
todos os lucros accout executive
advertising agency broadcast design
marketing plan proxy selling expenses
dudget open marketing
(do livro inédito eu resisti também cantando)
o canto
o canto terá que ser
à moda do cantador
se não o canto que canto
não terá nenhum valor
por isso canto sem medo
o medo que a gente sente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
canto o livre que se encontra
na minha imaginação
é canário que se bate
contra as grades do alçapão
o pão que falta nas mesas
e se acha numa somente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
pelos sertões e cidades
a abolição não chegou
se chegou ficou à porta
por ser dada não entrou
só quando for conquistada
reinará eternamente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
sempre há mais pedra e pau
que granada e mosquetão
sempre há mais gente sem
que tendo arma na mão
com sangue também se escreve
com nosso sangue inocente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
(do livro inédito eu resisti também cantando)
Paulo Monteiro
Todos os Direitos Autorais Reservados ao Autor
Um comentário
Grande escritor!
Parabéns.
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