Nilson Pimenta. Nasceu em 25/06/1957 em Caravelas - BA.
Reside atualmente em Cuiabá-MT, Brasil. É servidor da Universidade Federal de
Mato Grosso - UFMT. É considerado um dos mais importantes ou, o mais importante e
atuante pintor brasileiro na arte naïf.
*Artista
plástico há 29 anos, Nilson Pimenta já participou de várias exposições
coletivas e individuais, nos mais importantes museus e galerias do Brasil e do
exterior. Entre outras, integrou coletivas como a “Primitivos de Mato Grosso”
no Museu de Arte de São Paulo em 1980; a “Brasil/Cuiabá: Pintura Cabocla” nos
museus de Arte Moderna no Rio de Janeiro e em São Paulo, e na Fundação Cultural
do Distrito Federal, em Brasília, em 1981. Em 1988 participou também da “Negra
Sensibilidade”, exposta no Museu de Arte e de Cultura Popular, em Cuiabá.
Atualmente, Nilson participou da “Naïve Paintings of Far-Western Brazil” na
Galeria IZZI em Londres, em outubro 2006.
As premiações que chegaram em 1983 e 1985, no VI e no
VIII Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro, inspiraram a
escritora Aline Figueiredo, que descreve Nilson em seu livro “Arte Aqui é
Mato”, como um artista procedente da vida rural. “A presença do mato, do bicho
e do homem é constante. Em Nilson essa trilogia melhor se impõe. O mato é massa
colorida. Porém, derrubadas e mais derrubadas vencem as matas e atestam a
penetração devastadora”, realça.
Ainda
na passagem ela relata as formas da fauna e flora desvendadas por Nilson em
suas obras e descreve as relações homem-bicho na vida interiorana. “Onças,
caititus, jacarés, sucuris, mateiros, macacos, urubus, cães, cavalos e bois se
consomem nessa relação com o homem, fera maior. Acuados, mais vencidos do que
vencedores, homens toscos, enxadas e foices nas mãos, lutam, procriam, matam,
morrem e vivem cenas atrozes nos bastidores do Brasil agrário. É a visão da
vida esquecida no interior, do interior, “brabo” e surdo que aparece nas telas
do lavrador que se fez pintor”.
*Fonte: http://rmtonline.globo.com
Nilson Pimenta orientou vários alunos/pintores...
hoje, muitos destes são artistas renomados.
Seus
temas apresentam com frequência assuntos ligados á vida pantaneira: plantios e
colheitas, garimpos, a fauna, casamentos e festas. A sensualidade permeia seus quadros, onde a
mulher tem papel preponderante. Certos
trabalhos parecem evocar o mito das amazonas, com mulheres empenhadas em
liderar, impor, seduzir.
Animais
da floresta se misturam harmoniosamente aos humanos em muitas situações. Há um
clima surreal, de sonho, em muitas obras, Mas, sobretudo, prevalece a
graciosidade, a cor luminosa, e a constante palpitação que envolve os seres e
as coisas, numa aura de celebração da
vida e da paisagem solar dessa região, tão sagrada para os primitivos Bororos
que ali viviam, bem ali, no umbigo da América do Sul.
Roberto Rugiero.
CONTATO:
e-mails: npimentaartes@gmail.com
OU valquesartespopular@gmail.com
Telas
de Nilson Pimenta
Artigo sobre Nilson Pimenta e sua obra.
Nilson
Pimenta - Imagens do Brasil
(Oscar
D’Ambrosio
(jornalista, crítico de arte e autor
de
Os
pincéis de Deus:
vida e obra
do pintor naïf Waldomiro de Deus -
Editora UNESP-)
Há pintores naïfs que vão perdendo sua
autenticidade e originalidade ao longo da carreira. O contato com o mundo
urbano, os críticos de arte e os jornalistas faz com que deixem de lado a
espontaneidade que os caracteriza como criadores talentosos e representantes da
cultura de uma nação.
Nilson Pimenta percorre trajetória inversa.
Ao longo dos anos, seus olhos se voltam cada vez mais para o Brasil. Em suas
telas, revela aspectos multifacetados de um país caracterizado pelo trabalho
árduo, pela natureza frondosa e por um grau de violência rural e urbana cada
vez maior.
Nascido em Caravelas, BA, em 1956, Pimenta
saiu de lá nos braços maternos rumo a Prata dos Bainos, ES. Aos seis anos,
mudou-se para Mato Grosso, percorrendo, durante 15 anos, diversas cidades da
região leste do Estado, como Irenópolis, Jaciara, Barra do Garças, Brasilândia
e Finca-Finca.
Ao longo desses anos, trabalhou em
plantações não mecanizadas de arroz, milho e feijão, e como peão. Conheceu a
vida da roça e o cotidiano das fazendas, derrubando matas e arando a terra, mas
não colhendo os frutos. Roceiro nômade, também cortou e moeu cana para usinas
de açúcar e participou de mutirões, festas e caçadas.
Na infância, rabiscava em papéis avulsos e
mesmo em carteiras de cigarro vazias. Com pedaços de carvão, deixava suas
marcas em tocos de madeira e cancelas de fazendas; com gravetos, no chão; e com
os dedos, sobre a poeira na carroceria de automóveis.A partir de 1978, Pimenta,
sem ter terra própria para trabalhar, passou a morar em Cuiabá.
O ano seguinte foi muito importante.
Primeiro, começou a desenhar com lápis de cor sobre papel; segundo, passou a
trabalhar como guarda de campo. Como o serviço era pouco, este Henri Rousseau
brasileiro, de revólver na cintura como a função exigia, aproveitava o tempo
livre para representar graficamente seu passado recente.
Os primeiros desenhos foram feito com lápis
de cor em papel; e a crítica Aline Figueiredo tomou conhecimento deles, ainda
em 1979, graças ao pintor Adir Sodré, morador do bairro do Pedregal, em Cuiabá,
que desenvolve diversas atividades artísticas, formando, desde o final dos anos
1970, um núcleo artístico popular, com dezenas de artistas jovens que, como
ele, encontram na arte uma resposta aos seus anseios existenciais.
Em 1980, Humberto Espíndola, então diretor
do Museu de Arte e de Cultura Popular, presenteou Pimenta com as primeiras
tintas a óleo, introduzindo-o no mundo da pintura.Assim surgiram as telas de
grandes dimensões em que são retratadas cenas dramáticas ou bucólicas. Como
aponta Aline, o artista pinta, desde então, "estórias que lhe contam,
fatos da atualidade, enredos inventados, recriados ou recordados". Além
disso, em 1981, ele passou a trabalhar no Ateliê Livre da Universidade Federal
do Mato Grosso, onde continua atuando como supervisor.
Um exemplo da pujança visual do trabalho de
Pimenta é Queimada do Xingu. Animais mortos em meio ao fogo são vistos próximos
a bombeiros que, com suas mangueiras vermelhas, lutam para conseguir vencer as
chamas. No centro da tela, índios fogem com seus arcos, atravessando a tela
numa diagonal que vai do canto inferior esquerdo ao superior direito.
Merece destaque na tela a vegetação,
destruída na metade inferior da imagem, e ainda de pé na superior, embora com
poucas folhas, ressecada pelo calor. A cena transmite intenso vigor, e as cores
quentes passam ao observador toda a agonia de uma mata destruída em proporções
cada vez maiores.
Festival dos índios é ainda mais
significativa pela composição utilizada. Centenas de indígenas, inicialmente
retratados de corpo inteiro e em traços cada vez mais precisos de acordo com a
proximidade do observador, cercam um homem que, com um machado, corta uma
árvore, na qual um macaco se pendura pelo rabo. No chão, há diversos arcos com
flechas preparadas para serem lançadas e, perto do destruidor da mata, algumas
ocas indígenas se espalham.
O resultado é de grande efeito visual. As
moradias e o homem estão dentro de uma figura quase geométrica que remete à
imagem de útero materno, como se os índios estivessem tentando proteger a única
árvore que resta, enquanto ela está sendo covardemente destruída.
Festival de mulheres já é bem mais
colorido, com predomínio do verde e do amarelo, as cores nacionais. Dezenas de
brasileiras são mostradas bebendo e dançando em rituais de celebração. Ao
fundo, dezenas de biquínis parecem estar voando, soltos em busca de corpos
diluídos na imagem. O resultado final oferece alegria e dinamismo.
Um quadro de características distintas é
Vila do Serrado. Um povoado é mostrado em suas atividades primordiais, como o
retorno de uma carroça com frutas, um homem jogando sinuca, um vendedor de aves
mortas, mulheres trabalhando e crianças brincando. Comparecem ainda elementos
religiosos católicos e o trabalho numa rede elétrica.
Assim, a modernidade se integra à imagem,
fato não muito comum nos quadros do artista, mais caracterizado por quadros
como Onça, que mostra dois felinos em primeiro plano, com sua pele rica em
garatujas contrastando com flores vermelhas desabrochando, que combinam com as
línguas dos animais.
Ao fundo, homens em canoas compõem o
ambiente, dialogando com a água em delicado tom azul. A grandiosidade das feras
parece mostrar que, de fato, elas detêm o poder na região. Pimenta sabe disso
muito bem, porque conviveu com esses animais. "É o bicho que mais dá
trabalho para matar", diz.
Os grandes temas nacionais também surgem na
sua pintura Movimento dos sem terra, por exemplo, mostra dezenas de
trabalhadores rurais com enxadas, inclusive crianças, tomando posse de terras.
A cena possui intenso movimento e cativa pelo uso de espaços amarelos à Van
Gogh. O intenso colorido dá uma idéia de frenesi, transmitindo a pujança do
movimento.
Colheita da castanha-do-pará, embora não
tenha um conteúdo social, é uma das telas melhor realizadas em termos de
cromatismo e composição. Homens com carabina nos ombros que puxam animais que
carregam cestos do produto, mulheres com cestos na cabeça, uma onça próxima a
uma armadilha e índios em frente a suas ocas compõem a cena.
Desde a primeira mostra individual no Museu
de Arte e de Cultura Popular na UFMT, em 1981, a arte de Pimenta foi
se consolidando. Na Bienal Naïfs do Brasil de 1998, em Piracicaba, SP, por
exemplo, ele mostrou dois trabalhos: Fazendo pamonha e Carro de boi. O primeiro
mostra quatro pessoas se protegendo do sol inclemente e trabalhando
incessantemente.
No fundo, o céu azul e as árvores completam
o cenário. Merece destaque a forma como é mostrado o chão, com pinceladas breves,
numa espécie de pontilhismo muito particular, enquanto as telhas, por seu
turno, feitas com extrema cuidado, contrastam com as figuras humanas,
realizadas com a desproporção típica da arte naïf, em que os olhos e o cabelo
das mulheres predominam.
Carro de boi coloca dois pares de bois
carregando melancias. As frutas se espalham pelo chão e o cenário reúne ainda
quatro cabanas, e a vegetação típica do Brasil central. O vermelho interno das
melancias se espalha em pequenos pontos ao longo da tela, reforçando a
importância dessa cor, que, embora levemente presente, transmite energia e
vibração às imagens expressas no quadro.
Na Bienal seguinte, em 2000, Nilson Pimenta
obteve o Prêmio Aquisição com a tela Moto Boy, que trata, com incrível crueza
de Francisco de Assis Pereira, que trabalhava nessa função e violentou e matou,
em 1998, dez mulheres, levando-as ao Parque do Estado, região Sul da Capital
paulista.
A moto e os corpos em decomposição das
mulheres se destacam na tela, assim como a desproporção entre o assassino,
conhecido como "Maníaco do Parque", que pegou mais de 120 anos de
prisão, e a mulher que ele está estrangulando. Ela, muito maior do que ele,
será a próxima a se juntar àquelas que surgem espalhadas na tela. Bolsas de
mão, calças, calcinhas, sapatos e um guarda-chuva contribuem para acentuar o
clima de dramaticidade e de registro interpretativo de um fato jornalístico.
Pela sua força intrínseca, a imagem chamou
a atenção da Comissão Julgadora, que também teve a oportunidade de ver, na mesma
exposição, Nordeste, tela em que a miséria da seca é a temática. Um avião
militar aparece em terra, parado, enquanto militares distribuem alimentos às
esfomeadas vítimas da seca.
Mulheres carregam jarros na cabeça, uma
mulher grávida segura um calango e uma bandeira do Divino Espírito Santo, que
insiste em se manter de pé, representando a esperança de toda uma população. As
carcaças de animais e as árvores secas integram esse cenário de miséria, que os
soldados procuram reduzir.
Pimenta, orientador do Ateliê Livre do
Museu de Arte e Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso desde
1980, é hoje um legítimo representante das artes plásticas mato-grossenses é um
de seus principais destaques. Para Miguel Jorge, da Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA), as telas de Pimenta são "feitas com amor, humor e
com suas cores vivas e a luminosidade da região do Pantanal".
Aline Figueiredo, por sua vez, ao discorrer
sobre os quadros do artista, diz: "Plasticamente a pintura é rica pela
sensibilidade das massas coloridas e pela espontaneidade do traço que resulta
sem erro, limpo e seco. A composição é cheia, e a ação da pintura tem
objetividade graças à expressividade das formas e de sua singular colocação nas
cenas, como se obedecessem uma ‘ordem’ irreverente mas que resulta harmoniosa.
As cores são vivas, com o predomínio do verde, cor da natureza. Mato, bicho e
gente fazem a trilogia do seu tema."
De fato, homens derrubando matas,
incêndios, antas, caititus, jacarés, sucuris, macacos e homens com enxada nas
costas ou espingarda oferecem um painel do trabalho dos moradores da região,
que convivem diariamente com as maravilhas e os caprichos da natureza, podendo
usufruir de seus frutos e riquezas, mas também convivendo com seus perigos,
como as mencionadas onças e queimadas.
Os homens e mulheres não são mostrados
apenas nas atividades na roça ou com gado que Pimenta conhece tão bem. O
artista inclui em seu repertório imagético cenas não muito comuns nos naïfs,
como a polícia jogando corpo em despenhadeiros. Assim, o artista realiza a sua
crítica social num estilo em que o ambiente sempre predomina sobre o indivíduo,
que se integra ao todo não como agressor, mas como mais um integrante de um
todo que funcionaria harmonicamente se não fosse o poder destruidor do ser
humano.
Com o estímulo da obtenção do Grande Prêmio
no V Salão Jovem Arte Mato-grossense (Fundação Cutural de Mato Grosso), em
1981, Pimenta vem se dedicando com afinco à atividade artística. No começo de
1996, por exemplo, sem interromper a pintura, ele começou a realizar
experiências escultóricas. Sobre pequenos blocos de pedra, moldou figuras com
areias das Praias do Rio Coxipó ou das cachoeiras da Chapada dos Guimarães.
Aline Figueiredo conta que, naquele ano, a
prefeitura depositou um caminhão de pedras, tipo brita, num terreno próximo à
sua casa, no bairro Pedregal. O material era duro e difícil de esculpir, mas
sugeriu ao artista relevos de pequenas montanhas, colinas e barrancos.
"Com massa plástica, a mesma usada na lataria de automóvel, ele modela
pequenas figuras e as aplica firmemente na superfície da pedra", diz Aline
Guimarães, que identifica o erótico e o cômico nesse trabalho de Nilson
Pimenta. "O resultado final é tosco e bruto, mas interessa pela
diversidade e espontaneidade."
Com história digna de um romance e talento
espontâneo identificável em cada um de seus quadros, Nilson Pimenta oferece uma
visão de Brasil duplamente interessante. Por um lado, mostra, em tons de
amarelo, verde e vermelho, imagens de um País rude e sofrido de trabalhadores
com enxadas ou no lombo de cavalos; por outro, trata da violência social com
crueza e originalidade, lembrando que o Brasil, além do carnaval e do futebol,
está repleto de cidadãos que lutam por melhores condições de trabalho e que enfrentam
o alto índice de violência social que se espalha por toda parte.
Nilson
Pimenta
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Um comentário
Por acaso tornei-me aluna desse artista espetacular. Sua simplicidade é cativante. É uma pena que o poder público no Brasil não valorize esses profissionais. Pra se ter uma idéia, o Atelier Livre da UFMT, onde Nilson Pimenta dá aulas, parece uma sala abandonada: não tem ar condicionado, tem dois ventiladores, mas só um funciona, a limpeza é precária...
Que pena!!!
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