Boa viagem, Três Marias!
Daqui a um mês, eu completo 35 anos. Sim, eu sei, isso
não tem nada de especial. Tampouco é tema digno de crônica e do tempo de
leitura de vocês. Mas, antes que alguém diga “você ainda é nova” ou “essa coisa
de idade é bobagem”, eu preciso compartilhar meu espanto: “cacete, eu vou fazer
35 anos!”
Ok, tenho ainda um mês para o dia D. E isso realmente
não é tão importante assim. Deve haver centenas de milhares de mulheres
completando 35 neste ano, mas me bateu uma dúvida: será que elas estão tão
esquisitas quanto eu?
O fato é que estou desaprendendo absolutamente tudo.
Nem de bicicleta com esse guidão baixinho eu consigo andar. Outro dia até solei
o clássico bolo de cenoura. E na cama de gato da minha sobrinha, eu enrosquei
os dedos no barbante.
Cá prá nós, bem baixinho, eu achava que nessa idade as
certezas viriam. Não sei se aconteceu o mesmo com vocês, mas, acho que eu fui
roubada. Algum fdp entrou na minha cabeça e levou todas as originais, só me
restaram cópias. Terei de viver no mínimo mais 35 para recuperar o acervo - ah,
a esperança é essa coisa tremenda...
Nem sei mais para que servem as palavras. Ando numa
busca desenfreada pelo silêncio. Duvidando dos conceitos e agora ao ver o meu
gato correndo atrás do próprio rabo e eu aqui escrevendo essas linhas foi puro
espelhamento.
Mas, esse é um dos exemplos. Há também aquele “a gente
deve ser verdadeiro consigo mesmo”. Daí que sentei no chão, o espelho à
tiracolo, disposta a soltar a minha verdade. E parecia tudo chavão de livro de
auto-ajuda... Acreditem se quiser, mas eu fui salva por um espirro. Um espirro
autêntico, verdadeiro, das profundezas. Um baita espirro e só meu.
E outro dia uma amiga em prantos soltou “o amor é a
coisa mais importante do mundo”. Meus caros, eu me vi obrigada a contradizê-la
sob o risco de estimular um suicídio. E fui tão convicente na defesa daquela
parte da humanidade destroçada por essa ideia do AMOR tão onipotente que levei
um susto. Na boa, o amor é sensacional, mas será mesmo a coisa “mais importante
do mundo”?
Vejam que nem a liberdade passou ilesa na ressaca da
minha atual primavera. Ao fim e ao cabo, acabei descobrindo que dependo de um bando
de gente querida, sem falar que estou cheia de conceitos arcaicos que quando
não determinam a marcha, acabam me fazendo diminuir o passo. Estou anos luz de
saber o que é realmente a liberdade.
Mas, já me acalmaram: isso tudo é apenas a crise dos
35. É o sangue do corpo sendo trocado... E aqui na ressaca desse mar lá se vão
minhas três Marias estreladas – a verdade, o amor e a liberdade. De alguma
forma elas brilharam e deram o norte até agora.
Quero só ver o que será do céu após o inferno astral...
Tatiana Carlotti - Balzaquiana convicta e amante das letras. Pulsa no Centro de São Paulo ao lado do Balzac, seu gato. Acredita na força da delicadeza e na densidade da leveza. Ama bastante. Ainda sonha... Site: SobremargenS.
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