Karla Mello [Poeta e Escritora Brasileira]

Karla Mello. Nasci em 14 de Novembro de 1966 e sou a terceira de uma família de quatro filhos.

 

Cheguei ao mundo na minha linda cidade do Recife/PE, Região Nordeste do meu amoroso Brasil. Sou cristã, mas nenhuma doutrina.

Iniciei a versejar ainda mocinha, por volta dos meus 14 anos.

Em fevereiro de 2010 vim morar em Lisboa. Intensifiquei os meus trabalhos sob a forte influência do Fernando Pessoa e  da Florbela Espanca. Já lia bastante a Clarice Lispector, a Cecília Meireles e a Cora Coralina.

Leio-os muito e sempre. Gosto muito do Pablo Neruda, do Drummond e não caberiam aqui os meus escritores favoritos. São muitos.

Dizem alguns que sou versátil em meu trabalho.

Acredito que a minha versatilidade reside na versatilidade da minha leitura.

No meu cotidiano, gosto do básico. E andar descalça e de camisetas brancas.

Gosto de Espaço, Do "clean" e do "up"... Mas nem sempre estou.

Livre mesmo só quando estou "despida" e só.

Não gosto de metade. Só qaundo faz-me inteira.

Não gosto de nada pouco. Só comida e sono.

Cronicazinha... "E NÃO SEJA FELIZ"!

Entro nas redes sociais e há um forte refrão que ecoa no meu pouco entendimento sobre o ser humano. Além de algumas desordens engraçadíssimas, incluindo-me, deparo-me com o constante apêlo, quase que uma "intimação" ao "SEJA FELIZ"!

"Você tem que ser feliz!"

Ora bolas! ... Eu não caibo nessas exigências!

Eu não consigo ser feliz todos os dias!

Será que alguém consegue ser feliz todos os dias?

Pego-me a pensar com os meus botões e afirmo veementemente:

- Eu não conseguiria ser feliz todos os meus dias!

Nossa!... Que coisa mais chata! ... E patética! ... Seria uma monotonia dos diabos!

Eu não sei de onde surgiu esse apêlo perigosíssimo!

E o pior é que as pessoas começam a se cobrar essa tal "felicidade diária" e não conseguem apalpá-la com as mãos!

Calma, gente! Calma! ... Não vão conseguir mesmo e nunca!

"A felicidade está nas horinhas de descuido", como já diz o nosso amoroso Guimarães Rosa.

E que insanidade é essa desse apêlo cotidiano e perto do irritante?!

Sou mesmo muito chata! ... Mas sou uma chata com os pés no chão!

Há dias em que estou saltitante e vendo uma porção de "passarinhos verdes" à minha volta!... Adoro!

Mas há dias em que eu quero matar gente ou me matar!

E essa dualidade humana é que proporciona a nós essas "horinhas de descuidos" do Drummond!

Ahh... Pelo amor de Deus!

Nem Jesus Cristo foi feliz todos os dias! ... E nem o é!

Nós destruímos a Sua Santa felicidade todos os dias!

Nos esforcemos em manter a paz de espírito e o amor a si mesmo e ao próximo que já é um enorme passo à nossa evolução!

Choremos muito sim! ... Choremos tudo sempre!

Fiquemos de pijamas e sem escovar os dentes e nem pentear os cabelos!

E com as idéias todas misturadas, pelo menos, de vez em quando!

Isso é crescimento!

Recolhamos os dentes... Eles não precisam estar "escancarados" pra rua o tempo todo!

Isso seria, para os meus poucos neurônios, uma idiotice!

Tenha santa paciência!... Ando muito impaciente com isso!

E o que dizer às pessoas que estão passando uma crise existencial escrota ou terminando um longo casamento de vinte e cinco anos após terem sido torocadas por um(a) de vinte?

Também têm que ser feliz? ... E quem sofreu uma perda doída ou está enfêrmo?

E quem, simplesmente, não está a fim de ser feliz naquele dia? ... Porra! ... Coisa de louco!

Ser feliz todos os dias e essa cobrança de um "coro" de letrinhas "gritando":

"SEJA FELIZ!" - É um horror!!

Ser feliz todos os dias? ...

Desculpem, meus senhores... Desculpem-me.

Eu não aguentaria... Eu não suportaria!!

Eu morreria até... De infelicidade!!

Karla Mello

 

Da Minha Partida

Depois da minha partida

Cansada e talvez cumprida

Queimem aquele fardo-corpo

Que ocupei eu.

Procurem um terreno amoroso

De amores que eu nunca tive

E, numa covinha profunda

Cinzas minhas, do pó ao pó.

Apenas mais uma gentileza:

Plantem nesta, uma mudinha

De árvore, de florzinha

Podem ser Acácias ou Nuvem

A lembrar a minha mãezinha.

Para que possa "eu"

Ter Florbela nos "cabelos".

Para que que possa eu

Ser sombra fresca - Enfim!

Exalar-me pelas folhinhas

E espalhar-me no ar…

Exalar-me ao mundo!

Manter por perto os meus balanços de cordas

A balançar criancinhas outras

E a embalar, como meus...

Todos os sonhos seus.

Karla Mello

Vila Viçosa, 07 de Abril de 2012

 

Da rosa que deixaste

Pétala de rosa

Terna textura

Onde posso eu

Repousar o meu rosto

E lágrimas orvalhar.

Não guardes tu os espinhos teus

De mim.

De tanto amar-te - eu

Posso machucar-te...

Mastigar-te...

Aspirar-te…

Engolir-te...

Sufocar-te no amor meu

Extravagante.

Tal a tua cor - vermelha

Tal a cor do meu amor

Que arde-me tal o inferno

E leva-me ao infinito

Em contemplação - tua.

Pétala que toco - eu

Pétala que cái - de mim

Depois de fresca

Orvalhada...

Molhada...

Do amor teu - que deixas

Ao partires – em mim

Ao saires - sem nem olhar para trás

E deixa-me os espinhos

Todos…

E leva-me o perfume – já pouco.

A ternura – expessa.

Ao menos volta só de passagem...

E tenta repor os estragos

Que fizeste-me

Das pétalas todas

Que arrancaste-me…

Não necessitas orvalhar

Sobre mim.

Contento-me com um olhar - teu

Pouso de raio de sol que és - à mim

Para que possa eu - "rebrotar"

À ninguém mais

Só a ti.

A esperar a ti…

A esperar.

Não abusa…

Posso cansar-me dessa disponibilidade tola.

Karla Mello

28 de Junho de 2012

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