Achei o que queria, um poeta que dizia
poemas com a sinceridade que lhe doía (sofria do fígado). Em alguma oportunidade
contou que “A manhã estava pra lá de bonita. E eu contentíssimo porque o fígado
me deixara dormir sossegado, sem gemer”, mas não era um pobre coitado, como
costumam chamar os poetas. Era rico em lirismo e seus versos eram e são
alimentos para a imaginação, pois da forma como escreve, faz com que enxerguemos
através de seus olhos e possamos ver (literalmente) o que
escreve.
Perdoem a demora em dizer-lhes o nome
do homem em questão, mas sua história é tão bonita que merece sua atenção.
Nascido no estado único do Mato Grosso, especificamente em Corumbá, sim pois no
dito ano em que veio ao mundo (1915), só havia um estado no território que agora
se divide em dois.
Cresceu em meio ao pantanal mas nem sempre morou lá (mas o 'lá'
sempre morou nele), pois mesmo no Rio de Janeiro, capital federal, escrevia e
contava histórias daqui. Foi para aquela parte do país para estudar Direito, na
Faculdade Nacional e não foi só, pois foi recebido por Filinto Müller, muito
conhecido por aqui e estimado por lá.
Isso
aconteceu aos dezoito anos, mas antes, aos treze foi morar com a mãe (que
faleceu pouco mais tarde) em
Campo Grande, ainda parte do Mato Grosso e foi se criando com
parentes próximos. Mas, voltemos á sua puberdade poética, pois no ano de 1932,
então com dezessete anos, publica seu primeiro poema, no jornal 'Folha da
Serra', e é dedicado á Pedro de Medeiros, outro grande poeta destas
terras.
Lá
para os lados do litoral brasileiro, o rapaz encontrou uma Rosa, e era uma flor
de pessoa, ou uma pessoa de flores, pois apaixonou-se e os dois então ficaram
grávidos de seu único filho, que antes de sua morte, recebeu seu nome. Por falar
em nome, conto agora quais foram os seus dois livros publicados em vida, que
chamam-se “Areôtorare” e “Sarobá”. A graça está na dificuldade que é pronunciar
tais títulos, contrastando com a facilidade de ler e visualizar seus poemas.
Suas obras, não são meras poesias vãs, são grandes metáforas sãs sobre a
exploração dos índios Bororos que observava pelo estado em que nasceu, aliás, é
necessário registrar aqui que o poeta seguia a linha crítica da escrita ou da
escrita crítica, pois não admitia a conduta da gente mesquinha que tentava
dominar\domar as tribos nativas.
Figura importante para a vida e para a
arte deste estado, os poemas deste simples homem, cujo nome devia ser lembrado
junto com suas obras dizem mais do que o que há escrito em cada linha, a poesia
metafórica, inspiradora, visual, contestadora e para muitos pré-modernista de
Lobivar Barros de Matos nos mostra a simplicidade complexa que é linguagem
poética.
Bom,
agora o nome já foi dito, os poemas foram escritos e eu digo num grito que o
nome dele era LOBIVAR DE MATOS.
Segue um belo e sincero (pois só assim
pode ser a poesia) poeminha de Lobivar de Matos:
NATUREZA
MORTA
Os
trilhos velhos estão sendo trocados
por
trilhos novos.
E os
bondes enfileirados
andam devagar.
Os
passageiros estão inquietos.
Alguns não se conformam
e
descem apressados, praguejando.
Outros procuram distração
nas
entrelinhas dos jornais.
Meus
olhos grudaram nos gestos fortes
dos
homens feios,
e
eu, intimamente, justifico,
achei natural o atraso dos bondes
e a
troca dos trilhos velhos...
De
brinde, vão outros versos íntimos do poeta:
INTROSPEÇÃO
Na
sala enorme e colorida
do
meu cerebro,
lembranças vagas
de
mulheres vivas
dansam numa ginga mole.
bamas,
sambas
e
cateretês.
Vinícius H. Masutti - é natural de
Pato Branco, Paraná, Brasil. Mas é uma espécie de nômade, pois já viveu no Mato
Grosso do Sul e hoje faz seus versos em Cuiabá, Mato Grosso. Lá faz um trabalho
de garimpo poético, redescobrindo os poetas daquela terra.
Escreve artigos para o jornal "Diário de Cuiabá", o
mais antigo do estado. Estuda
Filosofia na Universidade Federal do Mato Grosso, porque como gosta de
afirmar, "Filosofia é poesia porque
poesia é reflexão". Vinícius pratica poesia e
filosofia.
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