Sponsor

AD BANNER

Últimas Postagens

Coletânea Beatniks, Malditos e Marginais em Cuiabá: Literatura na "Cidade Verde"

Apresentação da Coletânea Beatniks, Malditos e Marginais em Cuiabá: Literatura na "Cidade Verde"

Há escritores que sejam pelos temas, pelo estilo ou pela ousadia deixam uma marca indelével na literatura. Abrem caminhos, estabelecem rupturas e são incorporados a cânones ou lista de melhores de todos os tempos. Oscar Wilde, certa vez, escreveu que toda influência é imoral, na medida em que determina como o outro deve ser. Portanto, a influência na literatura é um caso de amor e ódio. Uma faca de dois gumes. Às vezes, somos atingidos por um texto que abala o nosso mundo, e nos revela as trilhas para uma jornada rumo à nossa própria voz, que vez ou outra se confunde com a do autor admirado. Passamos a conhecer a poética do escritor, que nos retira da nossa zona de conforto. Apaixonados, o seguimos, nos contaminamos, produzimos, até não suportar mais esse liame que nos dá prazer, mas encarcera. No fim, atalhos e labirintos se confundem. O processo se estabelece em influência e criação.

A influência carrega outra discussão: a da universalização. Citando, grosso modo, Guimarães Rosa, a grande literatura se constrói a partir da universalização do regional. Em Cuiabá (ou Mato Grosso) muitas vezes parece que o regionalismo é uma “camisa de força”, um fator limitador, que amarra a imaginação. Porém, a identidade perpassa a necessidade de cantar a beleza da terra, com seus costumes e problemas. Hoje, neste mundo moderno líquido (termo do sociólogo polonês Zygmunt Bauman) com fronteiras cada vez mais se friccionando, tornando-se porosas, não só pelas exigências da globalização, mas também pela hibridização cultural acentuada dos novos grupos sociais/culturais emergentes (ainda mais na relação jovem-urbanidade), a resistência local coloca-se como um modo de erigir barreiras à voracidade do capitalismo, que pela aceleração do mundo diminuiu as distâncias e impôs ao espaço uma redução para facilitar o fluxo de serviços, mercadorias e produções culturais dos países hegemônicos para a periferia do mundo, e, em menor escala, vice-versa.

Mas a literatura sempre foi propensa à universalização, por mais territorial que fosse. Ela apresenta-se como veneno e antídoto de um duplo movimento: para a abertura de novas experiências de mundo e para solidificação de um espírito nacional/regional conservador e de valores tradicionais.

A coletânea “Beatniks, malditos e marginais em Cuiabá: literatura na Cidade Verde”, organizada por Cinthia Andressa de Lima, Jana Lauxen e Wuldson Marcelo, que será publicada pela Editora Multifoco (RJ), http://www.editoramultifoco.com.br/, reunirá contos e poesias, observando todas as instâncias de conflitos, zonas de interstícios e dualismos arquitetados. Procura-se com o título engendrar um cenário no qual influência e liberdade criativa, o universal e o regional, identidades cambiantes e território se atraiam, se atritem, se contaminem, mas não se anulem. Vale dizer que as referências são beatniks, surrealistas, simbólicas, marginais etc., porém as narrativas devem ser passadas em Cuiabá: uma Cuiabá descrita real ou imaginariamente, nostálgica ou contemporaneamente, ou apenas citada em um breve momento.

Por isso, os textos devem possuir uma vocação urbana, mesmo que onírica. E ter em mente a influência beatnik de contestação à vida burguesa e de classe média, ao convencionalismo e moralismo. Possuírem experiências sensoriais e libertárias, do misticismo indefinido, das paisagens-personagens (on the road em pleno centro urbano) e do fluxo espontâneo do pensamento. E de outros elementos que possam ser lembrados. Mas é preciso esclarecer que tais não se instituem como uma forma de engessamento da independência, da originalidade e da criatividade do autor participante.

Os autores tidos como malditos, os que de alguma forma sofreram críticas, foram execrados, combatidos, atirados ao inferno (como Charles Bukowski, Lord Byron, Marquês de Sade, Rimbaud, Edgar Allan Poe, John Fante etc.), surgem como lume para a inspiração a confrontação do status quo, bem como traduzem a ideia de que a arte está acima da vida, mostram os desejos individuais em choque com a sociedade, mas aspirando um destino coletivo e todo o repertório que constitui o lado sombrio do ser humano.

Dos marginais (dos anos 70 do século XX e das periferias deste Terceiro Milênio), pontualmente, a influência traz o modo artesanal de confecção textual, o coloquialismo (encontrado também nos beatniks) e a objetividade.
Tais indicações não são exigências, nem tão pouco verdades absolutas, apenas reflexões (não definições) sobre a relevância da literatura de um Jack Kerouac, de uma Ana Cristina Cesar e de um Thomas de Quincey para escritores cuiabanos, de Cuiabá, moram em Cuiabá ou transitaram por Cuiabá. Busca-se a revelação dos atravessamentos, para citar Deleuze e Guattari, que apresente as subjetividades que não colocam Cuiabá no centro (apesar da possibilidade de cantá-la em verso e prosa), nem o mundo, mas efetivam um diálogo e tenso jogo entre influência e livre criação.

A coletânea “Beatniks, malditos e marginais em Cuiabá: literatura na Cidade Verde” pretende celebrar a diversidade literária existente em Cuiabá, mas a promove buscando dar visibilidade a uma produção literária que olha de sua janela a vastidão do mundo.

Organizadores:

Cinthia Andressa de Lima
Jana Lauxen  
Wuldson Marcelo

Nenhum comentário