Monteiro Lobato, as cotas e a falta de educação
Vou mexer num vespeiro. Causou-me indignação e insultou
minha restrita inteligência a declaração do novo projeto de cotas da presidenta
Dilma lançado simbolicamente no dia dos professores. Para os desavisados, até
2016 cerca de 50% das vagas em universidades federais serão reservadas a
estudantes da rede pública, negros e índios. Além das cotas na educação, a
presidenta pretende instituir as cotas também no serviço público.
A política das cotas já é uma realidade no Brasil há algum
tempo. É adotada em dezenas de universidades e, a meu ver, já cumpriu a função
de "saldar uma dívida histórica do Brasil com nossos jovens mais pobres”,
como disse a presidenta em pronunciamento recente. A cota é uma tentativa de sanar
um dos sintomas da má qualidade do ensino público no país. Ela atenua a ferida,
mas não cura a doença.
Mudando um pouco de assunto para uma pauta menos recente,
temos em trâmite no Supremo Tribunal Federal a discussão sobre a retirada da
obra de Monteiro Lobato do Programa Nacional Biblioteca na Escola do Governo
Federal. O Instituto de Advocacia Racial afirma que em livros como
"Caçadas de Pedrinho", escrito em 1933, há elementos racistas.
Concordo plenamente com os elementos racistas, pois termos como "macaca de
carvão", já não são considerados politicamente corretos há várias décadas.
Mas aí entra o maior problema do Brasil: a falta de base educacional.
Muitos professores do ensino básico não têm condições de
apresentar a obra dentro de seu espaço-tempo. Por isso um livro inofensivo é
visto de maneira temerária por pessoas calejadas pelo preconceito. Novamente
tal medida atenuaria a ferida, mas não curaria a doença. O ensino público no
Brasil já foi muito eficiente. Até a década de 1970, as escolas públicas
detinham um alto nível enquanto muitos colégios particulares ofereciam ensino
de qualidade duvidosa. Mas a lógica se inverteu e hoje o ensino público serve
mais para disfarçar os dados dos analfabetos funcionais.
Aí é que está o grande problema do Brasil atualmente. Por
que a Dilma não revoluciona e cria um programa sério para reestruturar o ensino
público no país? Porque não se investe na qualificação dos professores? Porque
se permite que uma universidade fique por mais de 100 dias sem aula? A resposta
é a velha de sempre. Querem que continuemos burros. Sem questionamento e
acreditando numa política de cotas quando isso já se transformou numa política
com cotas, mero populismo. Está tudo errado. Não é abolindo o Monteiro Lobato,
mas contextualizando suas ideias é que se constrói um entendimento sobre o
racismo. Não é com mais cotas que se transforma o país, é com ensino básico de
qualidade.
Maria Rita Ferreira Uemura é jornalista, empresária,
diretora da empresa de turismo de aventura Tribo do Remo e escreve toda quinta-feira no Blog do Romilson (www.tribodoremo.com.br)
e-mail: ferreirauemura@gmail.com
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