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Em São Paulo já se ouviu muitos "olés"[Elisabeth Lorena Alves]

Em São Paulo  já se ouviu muitos "olés" 

(…) São Paulo, sem preconceito de raça,
Sem preconceito de cor,
Povo simples, mas viril,
São Paulo, seu coração está batendo,
Ao mundo inteiro dizendo,
São Paulo, é o coração do Brasil...
(São Paulo, Coração do Brasil de David Nasser/Francisco Alves)

Bem, nem era sobre isto que eu escreveria esta semana, mas a curiosidade de um amigo me fez pensar melhor neste assunto: Touradas.
Muitas pessoas não sabem, mas os gritos de "olé" e a alegria das arquibancadas das touradas tão comumente associadas à Espanha, já fizeram parte da vida de São Paulo. Existiam diversas apresentações e a elas eram bem populares, sendo acompanhadas por diversas famílias até.
Na verdade, no Largo dos Curros existia uma arena para este esporte. Sabe onde era esta arena? Na Praça da República, no Centro da cidade, era esta praça que recebia os esportistas e seus torcedores. Esta história não é comum, mas é real e esta registrada em alguns livros.
A tourada surgiu no século XIII, tornando se popular mais popular em Portugal e na Espanha no século XVII. Aportou no Brasil no século XIX, como forma de lazer para a Coroa e os nobres de então. Afinal, a Família Real precisava de entretenimento enquanto vivia por estas terras!
Em São Paulo as touradas começaram acontecer em 1817 e era um espetáculo de improviso, assim acontecia nas praças, que depois voltava a ser usada pela população, quando desmontavam-se as armações das touradas. Mas ao tornar-se comum, viram a necessidade de criar um espaço e assim fizeram as arenas, que tinham espaços específicos para os diversos tipos de espectadores, contendo arquibancadas e camarotes.
O lugar escolhido para a construção da arena foi Praça das Milícias, que pertencia a José Arouche de Toledo Rondon, um marechal. Mas os espetáculos que aconteciam no Largo dos Curros era um tanto mambembe, já que consistia mais em um tipo de balé, onde peões imitavam os toureiros europeus. Só na década de 80 aconteceram as primeiras touradas dentro dos padrões de Portugal e Espanha.
Dá para imaginar como se deu as coisas! Uma produção nos moldes internacionais patrocinadas por Antônio Aragon, um investidor espanhol, por certo abalou a Sociedade paulistana e até os peões que tinham desejo de ingressar neste esporte tão visado pelos nobres! Sabe-se que a inauguração das touradas, que segundo os historiadores, iniciou-se fora da data prometida – coisas de São Paulo – foi um sucesso de público. O engenheiro responsável pela construção da arena – na verdade um anfiteatro de madeira – era Daniel Pedro Müller (1785-1841), um marechal de campo. Daniel Pedro Müller era um engenheiro de destaque, por ser o último com formação militar e de nacionalidade portuguesa atuante em São Paulo. Assim, foi o responsável por estabelecer a ligação entre a tradição da engenharia lusitana e os engenheiros práticos brasileiros formados no Gabinete Topográfico, uma escola criada em 1836, por ele mesmo. Ele era formado na Real Escola dos Nobres de Lisboa e por isto era tão requisitado e respeitado. Por estes motivos foi escolhido para trabalhar junto ao Governo e foi responsável por diversas obras – inclusive esta, a arena do Largo dos Curros.
A arena mais famosa sem dúvida foi a do Largo dos Curros, mas foram criadas outras em Campo Belo, na Vila Mariana e na Rua Dona Antônia Queiroz, no Brás – que apesar de constar informações em livros é de total desconhecimento do público. Só que desde o início destas touradas havia um movimento contrário a elas, onde várias vozes se ouviam em críticas que foram aos poucos sendo difundidas e o desejo pelo sangue, que entusiasmava as pessoas, foi se arrefecendo e depois de quase 60 anos de touradas, as arenas foram fechadas na capital e cidades circunvizinhas e seguiram rumo ao interior e a outros Estados onde não havia as mesmas preocupações humanitárias que se levantava em São Paulo.
Com o fim das touradas, as arenas tornaram-se espaços para treinamento de cocheiros e cavalos, afinal, era através destes animais que se fazia grande parte do transporte da cidade paulista.
A Praça da República,  que recebeu este nome em 1889 com o advento da Proclamação da República,  esteve sempre na crista da onda, sendo sempre vista como importante por tudo que já aconteceu ali. Nos anos 40, artistas plásticos e artesãos começaram expor seus trabalhos ali, criando um novo “point” artístico. Esta atividade diminuiu muito, mas não se extinguiu, pois até hoje existem expositores ali e é como Praça Artística que ela é reconhecida hoje.
A Praça da República é na verdade um dos menores distritos de São Paulo, tendo aproximadamente 50 mil habitantes.
Conhecida hoje pela Feirinha de Domingo - que acontece também aos sábados -  onde há diversas apresentações de artistas musicais e até de circo, a Praça da República tem sua forma original inspirada nas construções europeias, tem um charme todo seu, que é apreciado não só pelos moradores de São Paulo, como pelos turistas nacionais e internacionais, que aparecem por lá para ver a vida acontecer. Com fontes e chafariz, com belas árvores antigas, é uma opção de passeio barata, onde pode-se comprar desde lembrancinhas a belos presentes e comer bem, ouvindo boa música.
As barracas de artesanato representam os estados do Nordeste e Norte. Mas não são só as artes nacionais que fazem sucesso, ali são representados, em artesanatos, os países vizinhos, como Peru, Argentina, além de outros continentes até, já que vende-se brincos, colares e outros objetos de diversas nações, criados em sua maioria por brasileiros e alguns 'hippies' remanescentes.
Para fechar esta história sobre este distrito e sua Praça famosa, talvez seja necessário dizer que apesar de tantas críticas as cavalhadas e touradas que aconteciam ali, este esporte só foi proibido na capital paulista em 1998, devido a um Projeto de Lei do então vereador Paulo Kobayashi. Projeto de Lei de 19983. Mas uma Lei Morta, já que na capital não ocorria touradas desde meados do século passado.

*Curro = o local de confinamento de touros, antes e depois de corridas
Dica:
Ler:
São Paulo e Outras Cidades, de Nestor Goulart Reis Filho e
Vida Cotidiana em São Paulo no século XIX, de Carlos Eugênio Marcondes de Moura.

Elisabeth Lorena  Alves - Alguém que não gosta de ficar parada, mas que estaciona frente a um bom livro e sonha com as palavras.  ( www.eliselorena.blogspot.com.br)

9 comentários

Anônimo disse...

Parabéns, querida!
Eostoso de ler, Beth e e importantes memórias de sp antigo; parabéns, excelente;bjos
Elói Alves

Unknown disse...

Muito legal Beth,eu adorei... é um delícia saber sobre fatos interessantes de diferentes lugares,um dia você podia falar sobre a tribo "GUAIANASES" RSRSRSR NÉ?
Bjos querida!

Elisabeth Lorena Alves disse...

Sim Manoela. Posso mesmo. Sabia que temos uma lenda de amor em Guaianases?
Vou pesquisar melhor e escrevo sim, promessa.

Tobias Mota Lopes disse...

Oi Beth. Seu texto está muito bem escrito e repleto de informações.
Eu também sou desses que não gostam de touradas e coisas do gênero,mas antes mesmo da concepção moral e humanitária da coisa, o que mais assusta é falta de criatividade para criar uma forma de diversão e esporte. Sempre é bom saber mais sobre a história do nosso país, dos nossos Brasis, por isso, parabéns pelo texto!

Beijos.

Tobias Blues.

Jane Eyre Uchôa disse...

Quando eu era criança gostava das touradas que assistia na tv e tinha uma música do Anísio Silva que falava das coisas da Espanha, Dolores era o nome da música e eu cresci ouvindo aquela canção que entoava os olés da minha infância. Mas eu não sabia que havia touradas no Brasil muito menos em São Paulo, apesar do maltrato ao animal, uma tourada é algo bonito de se ver, é envolvente o perigo com a elegância do toureiro. Parabéns Beth pelo lindo texto, sem esquecer também que olé é uma expressão utilizada no futebol mas que nasceu em um jogo de Botafogo contra River Plate da Argentina em 1958 no México, a cada drible de Garrincha a torcida gritava Olé! e assim ficou a expressão "ganhar de olé". Só um complementozinho pra não perder o costume rsr. bjs

Belinha disse...

Ta aí uma parte da história de São Paulo que eu não conhecia, sinceramente nunca gostei de touradas, aliás de nenhum tipo de divertimento envolvendo animais!

Elisabeth Lorena Alves disse...

Tobias
Que bom saber que se interessa pela História de nosso país. O Brasil, este gigante explendido, tem diversas histórias que formam sua Cultura tão mesclada, mas tão brasileira.
Obrigada pela leitura amigo.

Elisabeth Lorena Alves disse...

Jane
Gosto de seus comentários. Tem sempre algo a acrescentar.Gostei de saber em que época o futebol aderiu o 'olé 'das torcidas de touradas. Embora soubesse que o olé é uma expressão adaptada ao futebol, nào sabia quando isto começou.
Gosto de seus comentários principalmente poor saber que entendes do que falas.
Beijos

Elisabeth Lorena Alves disse...

Belinha
Amiga Elisabeth obrigada por tua leitura.
Bom saber que se proecupa com os animais.
Como a Jane disse, apesar de ter esta situa,ão de machucar os touros, a tourada é bonita. Acho bonito as vestes e o porte dos toureiros, mas tenho dó dos animais também!
Amei tua visita e comentário