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Por que não nos importamos? [Olga Borges Lustosa]

Por que não nos importamos?


Apesar do aumento do número de mortes surpreendentemente violentas, crises humanitárias, assassinatos em massa, isso não tem sequer incitado uma resposta global igualmente contundente. O que será preciso para despertar a compaixão e mover uma ação grandiosa de intolerância à violência?

Estamos vivendo o que deve ser o paradoxo de compaixão. Quanto mais pessoas morrem, menos nos importamos; é esse o efeito da singularidade, um fenômeno em que as pessoas tendem a se importar menos com as atrocidades em massa do que com tragédias particulares. Há uma certa ignorância intencional quando o tema é a violência.

Eric Voegelin, filósofo alemão nascido em 1901, escreveu que o colapso em que se encontra o mundo é fruto da perda da consciência de experiências vitais para a ordem social e existencial. Neste quadro desolador, de deturpação dos valores surgem os homens de espíritos corrompidos, dotados de humanidade notavelmente desordenada e doente, que Voegelin chama de pneumopatologia. É uma situação em que o indivíduo pode estar aqui mentalmente, mas está desconectado da realidade e passa a viver uma realidade paralela, que é a ascenção das trevas. Como diria Voegelin: “o estúpido criminoso, não é um “psicopata”, mas algo mais profundo: sofre de uma doença do espírito, que acaba por enraizar-se em todo o ser da pessoa.

Não sei o que se deve fazer, mas é preciso demonizar os agressores, definir regras que ditam como responder aos casos de extrema violência, bem como adotar meios preventivos para evitá-las. Os países devem ser expostos em suas hipocrisias e perante as nações devem justificar suas razões para a falta de ação nos casos de violência. Não serve ao mundo sermos apenas testemunhas passivas de um século de assassinatos em massa e uma série de outras graves formas de violência. Os números de mortos vitimados pela violência não podem tornar-se estatísticas secas. E mesmo quando há silêncio na mídia, isso não significa que a violência não esteja acontecendo. As crianças estão morrendo, as pessoas adultas estão morrendo vitimadas pela violência e pela falta efetiva de ação do homem de bem.

Um velho índio Cherokee conversava com seu neto sobre a vida. Ele disse para o garoto: Há uma luta dentro de mim. É uma luta terrível, entre dois lobos.
Um é mau – é furioso, invejoso, triste, arrependido, mesquinho, arrogante, guarda ressentimentos, é inferior, mente, tem falso orgulho, duvida de si mesmo, sente-se superior.
O outro é bom – é alegre, tem paz, amor, esperança, serenidade, bondade, benevolência, generosidade, verdade, compaixão e fé.
Esta mesma luta acontece dentro de você e dentro de todas as pessoas também, disse o velho Cherokee. O garoto pensou isso por um minuto e então perguntou para o avô, “Qual dos lobos vencerá?”
O avô respondeu: “ Aquele que você alimentar mais.”



Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e acadêmica de Ciências Sociais pela UFMT e escreve exclusivamente no blog  do Romilson toda terça-feira 
olga@terra.com.br

Um comentário

Anônimo disse...

Adorei o texto Olga nos leva a refletir esses tempos que estamos vivendo