A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS [ Fabrício Carpinejar]
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.
2 comentários
A dor de todos nós, traçada em versos, molhada de adeus e de saudade.
Uma tragédia que é anunciada todos os dias, quando jovens entram nestas casas noturnas, crentes que por trás da beleza e conforto aparentes na decoração, existe a segurança esperada.
Afinal, ao entrarmos nestes locais acreditamos sim que estamos seguros, que sairemos como entramos, de forma leve e despreocupada.
Para sermos sinceros, ninguém procura as portas de emergência quando entra em um lugar fechado.
E a maioria dos ambientes de shows não tem a preocupação de entregar junto com o ingresso um mapa com a rota de fuga.
Se tivesse este costume talvez prestássemos mais atenção as instalações...
E porque não prestamos atenção nestas coisas?
Por acreditarmos que os órgãos de segurança fazem seu trabalho devidamente, que supervisionam os estabelecimentos que liberam e que cobram a manutenção necessária e continuada.
A responsabilidade por este crime - sim, isto não é uma tragédia apenas, é um crime hediondo - não é só dos empresários donos deste estabelecimento, mas também da falta de vistoria.
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