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Os monólogos da vagina e o caos do Bixiga na "Bela Vista Paulistana" [Elói Alves]

Os monólogos da vagina e o caos do Bixiga na "Bela Vista Paulistana"

No Bixiga - bairro central de São Paulo -, o Teatro Brigadeiro apresenta “Os monólogos da vagina”, em alguns horários; em seu entorno, a todas as horas, espalham-se o cheiro intragável de todos os tipos de imundície: sujeiras na calçada, lixos pela rua, assaltos à faca e a revolver, pessoas decompondo-se, entre trapos de cobertores ao pé do Tribunal Eleitoral – TRE – na rua Maria Marcolina, nas imediações do Bibi Ferreira e à frente da Câmara Municipal, de cujas calçadas os cheiros arrepiantes de todos os dejetos, humanos e inumanos, não exalam menos fétidos, basta se aproximar.

Em meu livro, As pílulas do Santo Cristo, uma pequena parte do centro paulistano, em que se dá o espaço físico da narrativa, esta situação já havia sido deflagrada, entreposta às peculiaridades artísticas do gênero do texto. No entanto, esta profunda “merdização” do espaço paulistano vai-se ampliando indefinidamente, como se vê, anterior nas proximidades da Luz, e agora, nos bairros da Liberdade, do Bixiga - pertencente "à chamada Bela Vista" -, da Consolação, já a ponto de infiltrar-se no centro financeiro da Avenida Paulista, que por sua vez ladeia-se dos poderosos políticos e seus amigos ricaços dos Jardins, onde a segurança particular é visível pelas cabines de guardas particulares à beira das ruas, no espaço público.

Darci Ribeiro achava, empolgado, que o destino do Brasil era tornar-se “uma grande Roma”. Na verdade, querido autor de “O povo brasileiro”, sempre o fomos; mas a Roma do império corrupto decadente, no qual os chefes das elites se matavam a punhaladas traiçoeiras para ocupar o posto máximo do poder, corrompendo soldados, senadores e entretendo o povo com trigo e os combates dos gladiadores morrituri, “os que iam para a morte”, sob aplausos dos freqüentadores do Coliseu .

Mas jamais seremos – digo como observador de nossas instituições – a Roma da República alicerçada no direito em que se fundamentou o sistema jurídico ocidental posterior, e à qual prestavam conta os generais como os cidadãos sem armas, deixando suas legiões fora da cidade, antes de adentrá-la; tampouco, o império para o qual todo o mundo pagou tributo.

Na realidade o que há, evidente por nossas heranças históricas, pelo espírito nada voltado a superação de nossas limitações arraigadas no âmago, pelo menos em parte, de nossa cultura, de nossa sociedade, pela deficiência de nossas organizações estatal e de nossa cultura política de vantagens pessoais e partidárias, do apego mesquinho ao poder, do desprezo absoluto às leis, confiante no dinheiro e na jurisprudência dos criminalistas, o que se mostra evidente é uma romização (no sentido de sua etapa última) no desaparecimento inevitável de suas rudimentares e frágeis estruturas e, enfim, o estabelecimento crescente da selva na cidade.

Elói Alves é paulistano, estudou Teologia (FATEMOC – 2003), graduou-se em Letras (FFLCH-USP -2007) e licenciou-se em língua vernácula (FE-USP – 2007). Sua produção literária passeia por diversos gêneros (poesia, teatro, crônica, ensaio crítico e diferentes tipos de narrativas ficcionais). No ano 2000, por ocasião dos 500 anos, ganhou seu primeiro prêmio literário com o poema “Oh, meu Brasil” e em 2011 obteve sua última premiação com a crônica “Olhares e passadas pela cidade”, como vencedor do concurso Valeu professor, promovido pela Prefeitura de São Paulo, sendo um dos autores do Livro “Sob o céu da cidade”. É autor do romance As pílulas do Santo Cristo, publicado pela Editora Linear B, em novembro de 2012. Página na internet: http://realcomarte.blogspot.com.br/2011/09/anuncios-pela-cidade.html

Um comentário

Elisabeth Lorena Alves disse...

Eloi este teu texto é bárbaro. Magnífico mesmo. Infelizmente já não sabemos mais o que é normal ou anormal, a cidade se iguala nos cheiros ruins, morais e físiológicos. De fato os povos apodrecem em vida, crentes em suas ideias absurdas de terem e jamais serem, de como superiores a alguém de sua própria espécie, apunhalar e maltratar, destruindo o amor próprio destes para alcançarem patamares maiores. Enquanto a dor derrota algus, apodrecendo-lhes a alma, outros deixam exalar o cheiro fétido de seu caráter em decomposição...