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Sobre a vida [Janne Alves de Souza]


Escultura de gelo, Néle Azevedo, 2002. 
 Santa Ifigênia, São Paulo.
Sobre a vida

Viver é caminhar. É estar em trânsito. A cada respiração, a cada pulsar, um passo. A vida é feita de escolhas. Cada escolha um caminho. Cada caminho um sentido, uma direção. Um caminho cheio de pedras, de atalhos, de desvios, de ruas sem saída e de esquinas. A cada esquina um encontro, novo, de novo.

A vida é a arte dos encontros - dos desencontros e dos reencontros. A cada (re) encontro uma surpresa, uma novidade, uma mudança de destino, uma transformação. E a cada transformação um recomeço, uma nova vida, que não anula a primeira, mas que segue paralelamente a ela, até que ambas se cruzem os caminhos e façam-se um só caminho, uma só vida. A vida é um ciclo interminável – enquanto dura – de caminhos que se cruzam, que se dividem e que se multiplicam e criam novos caminhos, vidas novas. A vida é uma jornada por caminhos estranhos rumo ao desconhecido. A vida é um caminho que se constrói caminhando.

Se viver é caminhar, é estar em trânsito, o que dizer da liquidez da vida? O que dizer da vida líquida no tempo da liquidez da vida? A vida líquida é a vida da inconsistência, da efemeridade, da aceleração e abreviação do tempo. Uma vida de inquietação e de incertezas. A vida é líquida como a água. Mas não como a água dos rios e lagos que correm por entre matas e rochas de pedra. Nem como a água do mar que chega em ondas à praia e volta ao mar, continuamente.

A vida é líquida como a água da chuva que cai do céu e escoa pelas ruas até os bueiros, num instante que não se pode apreender. A vida é líquida como a água que sai da torneira e escoa pelo ralo até o esgoto. Por isso mesmo a vida não tem forma fixa, é mutável e veloz como a água corrente. A vida, que em tempos remotos já fora sólida como a água feita gelo nos pólos extremos do planeta - cuja forma tinha consistência e permanência - já não volta a tornar-se sólida, como a água que já não voltará a tornar-se gelo nos pólos, que, ao contrário, se desfaz em água líquida na velocidade da luz, ao sabor dos raios solares e do aquecimento crescente das camadas de gases que nos circundam.

Se calhar a vida já não é líquida como o gelo dos pólos que derretem ao sabor do tempo, dos raios solares. Nem como a água da chuva que cai do céu e escoa pelas ruas até os bueiros ou como a água que sai da torneira e escoa pelo ralo até o esgoto. A vida é gasosa e rarefeita como a água feita ar, ar que nos dá a vida. Somos como bonecos de água feita gelo que derretem sob a luz dos raios solares e evaporam como água feita ar, ao sabor do tempo. 


Janne Alves de Souza - Publicitária, bacharela em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda pela PUC-SP. Pesquisadora intercambista no Curso de Licenciatura em História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal) com bolsa do Programa Fórmula Santander de Mobilidade Estudantil. Artista plástica, desenhista e fotógrafa amadora. Escreve para o site Obvious Lounge no blog: Megalomaníaca (http://lounge.obviousmag.org/megalomaniaca).

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