Traduzir ou não traduzir? Eis a questão!
Recentemente
participei de uma conversa com a Rafa Lombardino - também colaboradora do blog EBookBR - a respeito da
relevância que uma tradução pode ter para novos autores no atual cenário de publicações
independentes, em especial no mercado de livros eletrônicos.
Vale
ponderar que discutimos as experiências relativas ao mercado americano, pois
ela está morando na Califórnia, e isso é muito significativo se consideramos os
números relacionados ao hábito da leitura por lá. Apenas para nos situarmos, pesquisa divulgada em janeiro desse ano afirmava que 19%
dos americanos adultos é usuário de e-readers e/ou tablets, o que ajuda a
entender porque as vendas de e-books por lá já ultrapassaram as vendas de
livros impressos em algumas livrarias. Gosto de enfatizar que isso tem menos
correlação com a popularidade dos tablets do que com a funcionalidade dos
e-readers, aparelhos dedicados e utilizados por quem gostar de ler.
Voltando
ao foco: há um número crescente de autores independentes que tem investido na
tradução de suas obras, especialmente para o espanhol e, em alguns casos, para
o português. O objetivo é claro: aumentar as possibilidades de abrangência,
considerando o grande número de latinos que vive e consome nos EUA, e também os
usuários dos serviços de venda de e-books que tem acesso ao conteúdo em outros
países, incluindo-nos. Segundo dados mencionados pela Folha.com, no ano de 2011 foram vendidos 5 milhões de
e-books pela Amazon em países onde não se fala língua inglesa, com destaque
para o Brasil. E as perspectivas para 2012 são muito animadoras, o que parece
justificar essa iniciativa de autores que querem a chance de serem lidos por
outros públicos. Naturalmente é de se esperar uma avalanche de publicações com
os temas "da moda", como vampiros, zumbis e correlatos, mas o espaço
existe e bem pode privilegiar autores, índices de muito boa qualidade.
O
movimento também pode ser feito noutro sentido, ou seja, autores brasileiros
independentes tem também a chance de investir na tradução para o inglês como um
mecanismo de conquistar novos leitores. Considerando os canais de
autopublicação atualmente disponíveis, teoricamente se pode alcançar o mundo
com poucos cliques. Se o texto está em inglês, então, esse alcance pode começar
a sair do campo hipotético para se tornar mais realista.
Mas,
alto lá! Não vamos cair no equívoco de imaginar que estar na web, à mostra, é
sinônimo de realmente ter alcançado um público leitor. Vejo todo dia
(literalmente) convites enganosos enviados por (supostas) editoras (algumas
mais sérias que outras) para novos autores que prometem o mundo inteiro para o
escritor que quiser gastar poucos dólares ou euros para ser publicado em e-book
e estar à venda nas grandes lojas do ramo. O e-book permite sim uma presença muitíssimo
mais ampla que a do livro físico. A tradução, por seu turno, multiplica as
chances de um texto vir a ser lido, mas chegar à condição autor bem lido - seja
independente ou publicado por editora - depende de muito mais trabalho que a
simples disponibilização da obra no cyber espaço. É necessário pensar (e fazer)
na boa revisão, edição, divulgação e, porque não dizer, contar com um tantinho
de sorte para ser lido e comentado por um público qualificado o bastante para
influenciar outros leitores a escolherem o seu texto.
Mas
focando no potencial da tradução como ferramenta para aumentar o alcance de um
texto, o projeto Contemporary Brazilian Short Stories persegue o objetivo
de dar visibilidade a autores brasileiros através de traduções para o inglês.
Atualmente há mais de vinte textos curtos de autores brasileiros que foram
traduzidos para o inglês de modo voluntário pela associação de tradutores
independentes Word Awareness, liderada pela Rafa Lombardino. Não
tenho as estatísticas de acesso do projeto, mas é, sem dúvida, uma janela
aberta para outros territórios. Quer saber mais? confira aqui
o site do projeto.
Maurem
Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura
desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de
literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se
interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de
publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil.
Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela
iniciativa da Simplíssimo. Sites: mauremkayna@uol.com.br
- mauremkayna.com/ - twitter.com/mauremk
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