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Entrevista: Poeta Jairo Martins [Paulo Bornohofen]



Entrevista com o Poeta Jairo Martins
Por: Paulo Bornhofen
Querido Paulo Bornhofen: há dias não mais entrava em uma lan house, porém, hoje a mensagem que me deixou mais emocionado foi a sua, com esta entrevista. Diga-se de passagem, com perguntas realmente poderosas, inquiridoras e que precisam até de certa meditação e relembranças cruciais em minha vida, para que sejam respondidas no nível em que foram perguntadas. Porisso, e por estar aqui pela pela praia de Penha - como sabes - peço-te breve prazo para respostas completas, quando então estarei em Blumenau, frente ao meu computador e então responderei à entrevista com muito prazer e também gratidão e alegria por ter sido honrado com perguntas tão pertinentes à minha vida.
... Minuto seguinte...
Porém, agora, enquanto escrevia pedindo-te algum tempo para responder, arrependi-me deste ato e sigo respondendo às perguntas, logo abaixo, intercalando as respostas ao texto que você me enviou.
Antes de mais nada, fique sabendo de minha gratidão a você por tudo o que és como pessoa e por me considerar digno de ser assim entrevistado. Abraço firme, sincero e forte deste seu amigo, Jairo.


Entrevista
Qual o papel que seu avô, Amaro Pacheco, teve em sua vida (como um todo) e em sua formação literária?
Meu pai faleceu muito cedo e posso dizer que meu avô, o fiscal de armas Amaro da Silva Pacheco foi meu segundo pai, tendo ele me ensinado muitas coisas como por exemplo o conhecimento com as madeiras, a fabricação de bodoques, a pontaria certeira com armas de fogo, a utilização do vento para a caçada bem sucedida dentro dos matos. Além disso, ensinou-me simplesmente honradez e sudez absoluta aos fofoqueiros. Na minha formação literária, ele me transformou no "chato" revisor de textos que hoje sou, pois nunca admitia, nem mesmo na infância, sequer uma palavra ou frase pronunciada erradamente, seja na pronúncia da palavra ou construção da frase. Ainda, quando ele permanecia ao pé do rádio ouvindo os programas políticos, eu o acompanhava atentamente, esperando pelos óbvio momentos em que ele dizia: - pronto! já sentou-lhe as botas ao português o... (fulano ou beltrano). E aí repetia a frase dita erradamente pelo discursante e logo após dizia: - ele deveria ter dito: blá-blá etc. Conforme o caso. Nunca admitiu, como ainda hoje não admito em hipótese nenhuma a substituição do verbo "estar" em todas as conjugáveis pelo impropério do verbo "tar" que não existe, nunca existiu, jamais existirá e só é pronunciado por rastaqueras, aos quais eu não """tô" a fim de ouvir, sejam políticos, e principalmente esses cantorezinhos idiotas que mal sabem falar ou escrever e ainda qualquer mané que caga três gols no futebol e vira deus de um bando que """"tá"""" muito mal. Certo?
Eu achava meu avô um chato na época. Hoje, o chato sou eu!!!! E com razão!

Seu tio, o Coronel do Exército Geraldo da Silva Monteiro, foi outra figura importante em sua formação literária. Fale-nos um pouco dele e desta relação entre o tio e o sobrinho?
Meu tio não teve filhos e isso também contribuiu para fazer dele um meu terceiro pai. Ensinou-me os quatro principais estilos de natação, isso já aos meus quatro anos de idade e nado bem e muito até hoje. Ensinou-me, dentro das artes marciais, esgrima, karatê, fazendo com que eu tivesse a sorte na vida de enveredar pelo estudo geral de artes marciais, envolvendo-me a fundo com o Kung-Fu (que a meu ver é a dança de todas as aves e todos os animais e quem sabe dançar como eles, não "dança" nunca na vida). Kung-Fu é a arte de beijar o medo e apaziguar o inimigo.
Vendo Geraldo, que eu era muito leitor de tudo, interessado inclusive em ocultismo e sendo ele possuidor de vastíssima biblioteca (uma das mais completas que já conheci) tratou de conduzir-me pela literatura, principalmente filosofia, guiando-me desde os básicos José Inginieros até Nietsche e, não só na filosofia, com também em outras literaturas, de ocultismo, por exemplo, fazendo ter um "bom estudo inicial" de tudo o que vim a desenvolver posteriormente por autodidatismo. Tivemos uma relação de muita amizade, conversas sábias. Brigava muito comigo durante minha adolescência por não ler Érico Veríssimo e Jorge Amado. Tomou-me das mãos aos dezesseis anos "Fausto" de Goethe, dizendo-me que eu não tinha idade para ler aquilo. Revoltado, respondi-lhe: então por que posso ler Machado de Assis?!

Você escreveu um belíssimo texto no livro Estação Catarina - O trem passou por aqui, em que relata uma forma diferente de ver o trem, de baixo para cima. Saboreie nosso leitor com a descrição desse espetáculo, essa brincadeira de criança um tanto quanto diferente.
Hoje em dia, quando passo pela ponte de ferro, mal consigo transpor aquelas barras de ferro e ir até a base do pilar, aonde eu ficava deitado de barriga para cima, tremendo ao ver o trem passar a um metro e meio acima de mim. Também, hoje em dia, os seres humanos estão tão formatados que se um deles me vir fazendo isso, é capaz de telefonar para a polícia, dizendo que há um louco na ponte. Mais ainda, eu nadava nesse rio, desde a ponte de ferro até a prainha. Mas hoje, se eu sair nadando (o que seria natural para mim), certamente o corpo de bombeiros seria acionado, etc e tal. Resumindo: pra juventude de hoje, se você der um aipim com casca, eles morrem de fome olhando para aquilo sem saber o que fazer.

Ainda sobre o trem, como foi a experiência de testemunhar o desaparecimento do trem no Vale do Itajaí?
Doeu! Doeu muito! Eu sempre acreditei que eles se arrependeriam, que o trem voltaria. Eu esperava sim, como esperei ansioso durante alguns anos. Mas o ribombar das britadeiras e da quebradeira do concreto maciço das extremidades da ponte dos arcos em 1972, somado às minhas caladas lágrimas, arrebentaram e lavaram minha esperança e deixei que tudo rolasse água baixo! Sofri, não perdoo e, com certeza, existem arrependidos disso, mesmo os interesseiros de plantão.

Você definiu o Arauto, seu primeiro livro, como um livro de poemas que fala do amor incondicional (aquele que o Mestre ensinou). Como é esse amor incondicional?
Simplesmente  I N C O N D I C I O N A L !   Ou seja, ele existe em ti e te impele sempre para a frente, independentemente da condição em que estejas, ou quer o queiras ou não. Ele dá sentido à tua vida e faz com consigas dar sentido à vida de outrem. Ele é uma árvore imensa que cresce dentro de ti e nem a maior tempestade consegue derrubá-la. A seu certo momento, de dificuldade, de felicidade, de incerteza, enfim, esta árvore dá seu fruto conforme a situação. Este AMOR não é dar, nem tirar, nem possuir. Ele é SER !

Você se permitiu realizar uma experiência, que para mim é fantástica, conhecer todo o litoral brasileiro de bicicleta. Experiência realizada em duas etapas, com alguns anos separando as duas. Mudou alguma coisa no Jairo entre esses dois períodos?
Quinze anos separam as duas etapas. O que mudou neste período foi apenas a idade e com ela a experiência. O espírito aventureiro, este prazer de seguir sempre ao encontro do inusitado à sua frente, o propor-se a situações até perigosas ou por vezes incômodas, isto é a mesma coisa em mim agora aos 58 anos, tal como foi aos vinte e aos 40. Com a experiência, tens a condição de "prever" situações, pessoas, condições do tempo e tuas.

Como você descreve o litoral brasileiro, de forma geral.
Lá... no norte, bem no norte, Deus tinha muita tinta na caneta e não sabia bem desenhar. Então ele veio borrando tudo, desenhou a ilha de Marajó e veio vindo assim meio sem jeito com sua caneta, misturou aquele lodaçal do Pará e Maranhão, aprendendo a fazer pontos maravilhosos. Aí, num pequeno litoral do Piauí, Ele já deu um jeito de desenhar bem melhor. Veio vindo, segurou a tinta da caneta ali pelo Ceará e Rio Grande do Norte e no Pernambuco e Sergipe já se achava bom desenhista. Desceu a caneta contente e na Bahia já sonhava com sua obra prima, mas aí ficou mais sabido ainda, e lhe veio o Espírito Santo a lhe ajudar. Aí, feito louco desenhou Rio de Janeiro e o estado São Paulo. No Paraná passou ligeiro e então em Santa Catarina Deus gozou! Depois relaxou a pena e deixou cair. Rio Grande do Sul foi o risco que sobrou de seu maravilhoso desenho.

O que mais lhe marcou nessa jornada litorânea?
O que mais me marca sempre, a cada experiência, é sempre a superação interior. Às vezes você pensa que se conhece e espera de você mesmo tal e tal atitude e capacidade. De repente, a gente se vê em situações que exigem muito mais do que aquilo de que já se sabia capaz e você teme... enfrenta e vence. Seja medo, resistência física ou até dor. Quando você descobre este rompimento de limites dentro de si mesmo é uma loucura!!! É extasiante!!! Lindas paisagens, desafios, momentos interiores de vazio, de saudade e também de medo, de extrema felicidade, pessoas maravilhosas, outras perigosas picotam de lembranças marcantes essa jornada. Mas, o  que me marcou de fato, foram os olhos negros penetrantes do urubu, quando eu fotografava jegues mortos pela estrada deserta do Ceará. O urubu é um bicho que calcula a quantidade de líquido que tens dentro do corpo. Conforme isto, às vezes ele alivia o teu sofrimento do desmaio de sede, picando-te antes mesmo da morte. Assim, deparei-me com um jegue que ainda mexia as pernas, já sendo espicaçado por centenas de urubus. Aproximei-me para a foto e, ao gritar e bater com os pés no chão para espantar os negros algozes, esperando logicamente que voassem, eis que apenas uns dois ou três mal e mal deram passos para o lado. E em meio àquela centena deles, eis que um fica parado à minha frente e me FITA FIXAMENTE COM AQUELES INESQUECÍVEIS OLHOS NEGROS AMEAÇADORES, fazendo-me reconhecer e concluir a minha insignificância perante a força da vida, dando-me naquele olhar, a plena certeza de que eu poderia ser também espicaçado junto com o jegue naquele momento, pois que para aquelas aves negras eu era ali a mesma coisa que o jegue. Apenas o que nos diferenciava era que o jegue já estava deitado e eu estava de pé. Somaram-se medo, arrepios, humilhação e ânsia de vômito pelo fedor que emana de centenas de urubus. O horror que mais me tocava era  a declaração sincera e cabal da morte no OLHO NEGRO DO URUBU. Depois seguir... até que anoitecesse... torcendo para que o jegue os satisfizesse.

O que é a bicicleta na sua vida? Além do litoral brasileiro, onde ela o levou e para onde você quer que ela o leve?
Só há um sinônimo para BICICLETA: LIBERDADE.  Já tive sete bicicletas, a todas elas dou nome. A Águia-7, que tem agora um ano e cinco meses e que montei depois da grande viagem em 2011, por coincidência completa hoje 13 mil quilômetros rodados.
Conheço muitos interiores de Santa Catarina, o litoral Sul da Espanha e perco a conta de quantos passeios e viagens fiz pelo estado que considero maravilhoso em termos de climas, paisagens e situações geográficas que é justamente Sta. Catarina. Agora, já à beira dos 60 de idade, minhas pretensões são modestas: pretendo pelo menos, seguir ao interior do estado de São Paulo pelo sul e subir para o Mato Grosso, pois há muitos amigos e conhecidos que me recomendam isso. E de lá, se possível, ir até a Chapada da Diamantina.

Vamos mudar um pouco de foco. Como se dá o processo de construção de uma poesia. Podemos chamar de processo de construção a forma como você produz poesia?
A poesia me acontece, me entontece, me destrói até às vezes. Nunca pensei nem no quê, nem no quando escrever. De repente, posso acordar no meio da noite e escrever um texto. De repente posso passar um ano ou mais sem escrever uma letra. De repente posso passar três dias a fio escrevendo. Não planejo isso. Isso acontece. Aliás, a poesia é que possui os poetas. O texto escrito é a maneira que aquele "canudo oco" que é o poeta, musicou o "vento poesia" que soprou através dele. Nenhum poeta "produz" poesia. Às vezes a poesia "produz" uns poetas.

A sua produção literária como anda? Quantos livros você já publicou (quais são eles) e quando vamos ter outros livros do poeta Jairo Martins?
Ultimamente tenho me dedicado mais às atividades físicas: nadar, caminhar, pedalar e pensar (são atividades físicas sim.), deixando de lado a escrita e a leitura e o criar (este último, não decido eu). Porém, intuo que devo publicar ainda outros 5 livros já prontos.
Há cinco livro publicados, podem ser vistos no www.guiadeblumenau.com.br

Sua aventura pelo litoral vai render um livro?
Pela grande quantidade de relatos e fotos, haverá de.

Qual o poeta que não pode faltar em uma estante?
Aqui, há uma lista quase que infinita a citar e logo me vêm à mente muitas perguntas, tais como: de que época? De que país? Etc...
Ou seja, seria triste agora citar dois ou três nomes e ficar lamentando por outros mil não citados. Mas, na minha opinião, nenhum poeta deveria estar em uma estante. Todos deveriam estar na língua do povo.

Na poesia nacional, qual o seu grande referencial, caso você tenha um?
Cruz e Souza, Casemiro de Abreu, Mário Quintana e os outros dez mil que deixei de citar.

Qual a poesia que o Jairo queria ter escrito?
Há um poema que virou samba, que diz: Viver... e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar e a eterna beleza de ser aprendiz.   Ect.... sabem, né?
Este é o poema mais lindo escrito no século XX.

O que falta você escrever em termos de poesia?
Não sei, a poesia é quem manda.

Paulo Roberto Bornhofen. SC. 48 anos, mora em Blumenau (terra de cultura alemã), mas é de São José, SC. Funcionário Público estadual, tem mestrado em desenvolvimento regional. Já escreveu alguns livros e participou de algumas antologias. Formado em gastronomia e fotografia. Escreve uma coluna de viagens no portal Blumenews (http://www.blumenews.com.br/site/colunas/paulo-bornhofen.html) e tem dois blogs:www.ninholiterario.com.br e www.viagemeprazer.com.br. “Quanto as redes sociais, usa apenas o  facebook (é muita rede!): https://www.facebook.com/bornhofen”.




2 comentários

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Roselis disse...

conheço a poesia de Jairo Martins. Um dos maiores Poetas da atualidade no Brasil de hoje. vale a pena conferir.
Roselis BATISTAR UNIV; DE REIMS, França