O ERRO MODERNISTA
Manuel da Costa Athaide (1762-1830)
Por Roberto Vicari
Aos 20 anos de idade, já recebe um pagamento por um trabalho na capela da Ordem Terceiro do Carmo de Mariana, conforme mostra um documento da época, o que atesta sua presença já insinuante na cena artística do século XVIII, ainda acanhada, mas prestes a produzir seus maiores nomes. Não se conhece nenhuma imagem da sua aparência, mas alguns estudiosos creem que possa ter sido mulato, muito embora tenha pertencido à Ordem Terceira de São Francisco de Ouro Preto e da Ordem Terceira do Carmo de Mariana, irmandades que só aceitavam brancos.
Longe das tendências plásticas ou estéticas dos grandes centros irradiadores da Europa, o barroco brasileiro, se construía a si próprio. Usando como modelo, gravuras e tratados estrangeiro de pintura, somados a uma formação artesanal local sem tradição de grandes criadores, e sim de replicadores de imagens, Athaide inova, por exemplo, ao transformar os biotipos estrangeiros das gravuras que tinha por mote, em biotipos brasileiros; os anjos, os santos e a mãe de Cristo, ganham feições e pele mulatas. Costuma-se acreditar que os pintores do modernismo indo à Europa e trazendo tendências estéticas produziram uma “pintura genuinamente brasileira”, ao negarem o Academismo, tido por eles, como importado e sem a nossa alma ou caráter. Se isso for, uma definição para uma pintura “genuinamente brasileira”, Mestre Athaíde é então, o artista a ser estudado, na medida em que introduziu uma alma brasileira em uma tendência que recebeu de fora, muito antes dos tais modernos.
A tela mostrada é “A ÙLTIMA CEIA” 240 CM x 440 CM – (1828), que está hoje no Colégio do SANTUÁRIO NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS no CARAÇA - em Minas Gerais - na chamada Serra do Espinhaço. Trata-se de óleo sobre tela – baseada na gravura de um artista italiano chamado Francesco Bartolozzi (1728- 1815), muito difundida em missais da época. A estrutura da cena é mantida; o tampo da mesa dá a medida da perspectiva e Jesus e os seus discípulos em volta dela. È curioso que em Bartolozzi o grupo de pessoas guarda uma certa distância entre cada um e o outro. Na composição de Athaide, Jesus continua sendo o centro, mas os discípulos meio que “invadem” esse espaço e acabam criando um bailado elíptico e desordenado em volta do Cristo, talvez uma característica nossa de valorizarmos o contato físico, diferente do Europeu que tem um afastamento maior nessas questões. As cores são muito interessantes e refinadas – ricas em tons e matizes, acreditam alguns que fruto de estudo e observação da luz brasileira muito bem plasmada na composição. Para quem acha que os Modernos inventaram a pintura brasileira, será preciso recuar 200 anos, observar e entender a obra de Mestre Athaide e repensar essa questão. Haverão prós e contras; Mas o que não se pode admitir é a destruição do Academismo e a ignorância do Barroco Athaidiano pelos defensores do Modernismo.
Fonte:
Roberto Vicari é Artista Plástico formado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Professor de arte e Historiador foi ilustrador científico durante cinco anos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e nos últimos anos tem se especializado em estudos de História da Arte. Foi professor de Desenho e Pintura em escolas especializadas de São Paulo. Hoje tem um trabalho em Acrílico sobre madeira como artista e ensina arte em Colégios de São Paulo.
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