Rio de Janeiro – A
contribuição da capoeira para constituição da identidade histórico-cultural
brasileira é tema do documentário Paz no Mundo Camará: a Capoeira Angola e
a Volta que o Mundo Dá, de Carem Abreu, lançado no último dia 8, na sede do
Arquivo Nacional, no centro do Rio. Com trilha sonora do cantor Gilberto Gil e
cerca de 50 entrevistados, entre mestres, artistas e pesquisadores, o
documentário retrata as mudanças de percepção da capoeira no país: de atividade
marginal a instrumento de inclusão social, reconhecida como Patrimônio Cultural
Brasileiro.
O documentário é
resultado de três anos de registros visuais da cineasta e da antropóloga
Carolina Césari. Elas pesquisaram 58 locações em cinco estados (Rio de Janeiro,
Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas) e levantaram mais de 300 documentos
iconográficos do acervo do Arquivo Nacional. “A pesquisa começou no ano de
1602, com o surgimento do Quilombo dos Palmares e vai até 2011, com a morte, aos
92 anos de idade, do mestre João Pequeno de Pastinha”, disse Carem.
Durante as gravações,
elas identificaram quatro movimentos marcantes no processo de sedimentação da
capoeira no contexto social brasileiro: origem à diáspora, que abrange as
mudanças ocorridas entre os séculos 16 e 18; marginalização e perseguição, do
século 18 ao século 20; folclorização e institucionalização, séculos 20 e 21; e
globalização e projetos sociais, que corre a partir do século 21.
Segundo a diretora, há
100 anos a capoeira foi considerada uma atividade criminosa, chegando a ser
incluída no Artigo 402 do Código Penal de 1890, que tratava dos vadios e
capoeiras. A arte passou por diversos movimentos até ser transformada em
símbolo dos movimentos de resistência sociocultural. “A capoeira é hoje um
instrumento de paz no mundo”, disse Carem.
Sobre o reconhecimento
da importância da capoeira nas últimas décadas, a antropóloga Carolina declarou
que “muitas vezes as pessoas da comunidade não valorizam seus mestres,
considerando-os de pouco valor cultural”. Atualmente, segundo ela, “os
estrangeiros entendem mais a representatividade cultural da capoeira para a
construção da identidade brasileira, e por isso decidimos fazer esse filme. A
ideia é mostrar a importância dos saberes populares para ampliar o seu valor
simbólico para essas pessoas”.
Da: Agência Brasil
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