Exposição comemora 130 anos do nascimento
de Khalil Gibran
São Paulo - “Nos
campos do Oriente Médio, que é um grande cemitério, está a juventude da
primavera convocando os ocupantes dos sepulcros para se levantar e marchar em
direção às novas fronteiras”. A frase, que poderia estar se referindo às
revoltas da Primavera Árabe, iniciadas em 2011, foi escrita há mais de 50 anos
pelo poeta, filósofo e artista plástico libanês Khalil Gibran. Ele teve como um
dos temas a revolta contra as tradições que oprimiam o seu povo. Essa e outras
facetas do artista podem ser vistas na exposição que comemora os 130 anos de
seu nascimento, no Memorial da América Latina, zona oeste paulistana, até o dia
26 de junho.
Doutor em filosofia e
leitor de Gibran, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, acredita que o
poeta não é apenas atual, como aponta para níveis que a sociedade contemporânea
ainda não conseguiu alcançar. “Ele não é só atual, eu acho que ele projeta uma
convivência entre homens e mulheres de outro tipo. Ele consegue enxergar no
espírito humano muito mais do que ele [espírito] foi capaz de produzir até
aqui”, destacou ao participar da abertura da mostra que reúne quadros a óleo,
carvão e aquarela. “Ele realmente extraiu das palavras o que a nossa essência
tem de melhor. É uma pessoa que consegue desenhar quase uma utopia de
convivência humana, e isso faz dele uma literatura incontornável,
espiritualmente muito rica”, acrescentou Haddad.
As obras passam por
temas variados, como o óleo sobre tela O Outono, de 1909. Nessa, a estação
é representada por uma mulher com o busto nu e cabelos avermelhados ao vento.
Entre as 52 pinturas, manuscritos e objetos pessoais, muitos remetem a temas
fantásticos, como as aquarelas Centauro e Criança eCentauro Fêmea. O
ente mitológico - meio homem, meio cavalo - faz referência ao lado animal do ser
humano. Podem ser vistos ainda autorretratos e retratos de amigos do artista.
É a primeira vez que a
exposição com peças do Museu Gibran, que fica no Líbano, vem à América do Sul.
“É um privilégio para o Brasil recebê-la. Então, eu acho que o público tem que
aproveitar bastante e não vir só uma vez aqui, vir várias vezes para meditar
junto com Khaill Gibran”, destacou a presidenta da Associação Cultural
Brasil-Líbano, Lody Brais.
O presidente da
Fundação Memorial da América Latina, João Batista de Andrade, ressaltou que
apesar de Gibran não ter relações diretas com o continente, os países da região
têm forte ligação com o mundo árabe. “O memorial, apesar de ser mais ligado à
América Latina, tem que se abrir a essas coisas que também são comuns à América
Latina. Porque a América Latina tem árabes em todos os países e certamente
Gibran é cultuado”, disse.
Daniel
Mello
Repórter da Agência
Brasil
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