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Jornalista Shirley M. Cavalcante (SMC) entrevista escritor Milton Maciel

Jornalista Shirley M. Cavalcante (SMC) entrevista escritor Milton Maciel

Escritor Milton Maciel divide o tempo entre as cidades de Joinville e São Paulo, no Brasil; e Miami, nos Estados Unidos, autor de mais de 20 livros, é palestrante conferencista, em entrevista o escritor conta-nos como iniciou sua seu gosto pela escrita, como consegue escrever diferentes gêneros literários, fala um pouco sobre alguns de seus livros, dá maravilhosas dicas aos escritores, uma rica entrevista concedida pelo escritor, conferencista, Milton Maciel, ao projeto Divulga Escritor.

Boa leitura!

SMC - Escritor Milton Maciel quando começou a escrever? Em que momento decidiu ser escritor?

Milton Maciel (M.M) - Comecei a escrever aos 14 anos e comecei a ser publicado aos 16 e 17 anos, poesia somente. Mas aí passei no vestibular de Engenharia Química e minha musa muniu-se de calculadora e material de laboratório. A partir daí houve minha defecção da arte. Deixei poesia e deixei o piano e passei anos a fio escrevendo e publicando exclusivamente material técnico. Vivi 25 anos em São Paulo nessa fase e depois quatro em Maceió, AL, onde fui Secretário de Agricultura. Aí começou minha fase de escrever livros técnicos de Agricultura Orgânica (tenho 14 publicados). De 2001 em diante passei a publicar material técnico em inglês sobre biocombustíveis. De 2007 em diante passei a morar nos EUA (part-time até 2010, full time depois disso). Então passei a ter mais tempo disponível e retornei à ficção, passando a publicar meus romances sobre prostituição infantil no Brasil, frutos diletos de minha estada no apaixonante Nordeste. E as outras obras que vieram depois. Quanto a ser escritor, minha decisão foi tomada em 1991.

SMC - Hoje você tem um grande número de livros publicados de diferentes temas: romances, contos, poemas, livros técnicos. Como foi surgindo estes diferentes gostos literários e o que o influenciou a ter esta diversificação de temas publicados?

M.M - Creio que isso é uma natural decorrência de minha personalidade, em si multifacetada. Nunca fui capaz de fazer uma única coisa ao mesmo tempo. O que aconteceu foi que acabei aprendendo a reconhecer isso e a administrar essa dispersividade. Acho que a melhor expressão disso é meu blog pessoal (http://miltonmaciel.blogspot.com.br ), onde faço de duas a três postagens por dia, todos os dias, sobre uma multiplicidade de temas diferentes: poesias, poesias humorísticas, contos, sátiras, crônicas, erotismo, política, feminismo, educação e temas regionais. Ali posto também trechos diários dos meus livros, tanto os já publicados, como livros inéditos. O livro O CERCO, por exemplo, foi sendo escrito e postado diariamente desde 7 de Fevereiro deste ano, Os leitores puderam acompanhar esse trabalho de parto que resultou em um livro de 400 páginas, uma novela histórica em que uso um fato histórico real – a invasão dos hunos à Gália em 451 A.D. – como palco para as incríveis atividade de minhas quatro heroínas (três sacerdotisas celtas e um eunuco), que acabam resultando na vitória dos aliados (romanos, visigodos, burgúndios, francos e alanos) contra Átila e seu hunos, junto com seus aliados ostrogodos e gépides.

SMC - Notamos que você aborda em seus livros dois temas bastante polêmicos, a violência contra a mulher e a auto-destruição alimentar. Em quem ou em que você se inspira para escrever sobre estes temas? 

M.M - O tema da violência contra a mulher nasceu do meu encontro sacrossanto com minha mulher interna. Posso dizer que fiz as pazes com ela, quando compreendi as raízes do meu comportamento machista, aprendido e praticado em minha infância na fronteira do rio Grande do Sul com o Uruguai (conto isso no livro “A BELA MORDE A FERA”, uma co-autoria com a escritora e líder feminista norte-america Ellen Snortland). 

Desde que compreendi, com meus estudos de psicologia analítica junguiana, que o machismo está baseado em ARQUÉTIPOS do período neolítico e é, portanto, inconsciente e atávico, passei a me dedicar ativamente ao combate diuturno ao machismo. Nos Estados Unidos, através de um grupo denominado Men Can stop Rape, aprendi a trabalhar com outros homens para eliminarmos o machismo no nascedouro, junto a crianças e adolescentes, e junto a mães e pais. Dou regularmente cursos e treinamentos sobre isso em Miami e região. Ainda não se apresentou, para mim, uma oportunidade de trazer isso para o Brasil, o que é uma lástima, pois aqui as coisas são ainda piores que nos EUA.

Já o assunto da auto-destruição alimentar nasceu de minha luta pessoal contra a obesidade, fatalidade genética na minha família, e do meu longo ativismo no campo da Agricultura Orgânica. Acabei chegando à única dieta que me fez perder peso com permanência, a Dieta Paleolítica. Que não é nenhuma dieta da moda, tanto que é desconhecida no Brasil. Trata-se não de uma novidade, mas de um retorno no tempo.

Há 10 000 anos apenas, apareceram os grãos em nossa alimentação, com o advento da agricultura. Isso é que dá origem ao Neolítico. Até então, e durante 2 500 000 de anos, vivemos o período Paleolítico. Durante esses 2,5 milhões de anos, tivemos um mesmo tipo de alimentação, como caçadores-coletores. Essa dieta formou nosso genoma. De 10 mil anos para cá com os grãos, 6 mil anos para cá com os laticínios, mil anos para cá com o açúcar refinado, 300 anos para cá com os óleos vegetais e, atualmente, com a explosão da tragédia da junk food, subvertemos completamente nossa base alimentar e hoje somos vítimas de uma enorme DISCORDÂNCIA GENÉTICA, que gera praticamente todas as moléstias não-transmissíveis que matam a maioria das pessoas em nossa civilização.

Um outro importante fator de contribuição veio, evidentemente, de minha atividade de décadas como produtor agropecuário orgânico e como consultor e escritor agrícola. Daí nasceram meus seminários “Nossa Alimentação Suicida” no Brasil e “The Chemical Broth nos EUA.”
Tudo isso está exposto em meu livro “A SOPA QUÍMICA – Nossa Alimentação Suicida” Idel, S. Paulo, 2008.

SMC - De que forma você aborda a violência contra a Mulher em seu livro? Porque escolheu este Titulo para o livro?

M.M - O título foi escolhido pela autora norte-americana, Ellen Snortland que o lançou primeiro nos EUA com o nome Beauty Bites Beast; Eu fiz a tradução para o português e participei com uma nova parte, que só existe na versão em português, denominada “O Machismo Oculto”. O livro mostra como a mulher é vítima de violência explícita e oculta. E ensina como se defender de ambas, em suas formas psicológica, física, sexual, profissional e midiática. Um trabalho notável de Ellen que é também instrutora de lutas de autodefesa feminina em Los Angeles, onde a conheci em 2007.

SMC - Além de escrever você realiza conferência nos EUA e no Brasil, como começou sua carreira Internacional? E o que você aborda nestas conferências?

M.M - Comecei a carreira primeiro escrevendo, em inglês, para sites, portais, revistas e jornais sobre combustíveis fósseis e combustíveis renováveis. Em 2006 fui convidado a fazer uma apresentação na Universidade Boston. Na volta parei em Miami para fazer turismo e compras e foi um caso de amor à primeira vista. Nunca mais me desvinculei de Miami. Passei a dar palestras e curso ali, estendendo-os muitas vezes à Califórnia, mais especificamente a Los Angeles e Orange County.
Os temas, inicialmente, estavam na minha área de biocombustíveis e agricultura orgânica. Depois, com o lançamento do “A Sopa Química” (The Chemical Broth; broth em inglês é caldo), passei a dar seminários sobre a dieta paleolítica e a contaminação química e biológica dos alimentos convencionais. Atualmente tenho também uma forte atividade paralela, na área do feminismo e no combate à violência contra a mulher. 

SMC - Como você vê a violência contra a mulher nos EUA e no Brasil?
M.M - Não há quase diferença quanto à agressão e ao assassinato de mulheres por seus homens ou por estupradores desconhecidos. A sociedade americana é tão machista quanto a nossa. As mulheres progrediram um pouco mais por lá do que aqui, mas ainda são vítimas das mesmas formas de assédio, desrespeito, discriminação e violência. As mulheres americanas, apesar de existir uma lei proibindo, continuam recebendo 75% do salário de um homem e 60% se forem negras e 50% se forem latinas.
Onde a coisa difere é nas estatísticas, mais exatas e atuais as americanas. E, principalmente, nas consequências! A ação da polícia, uma vez acionada, é muito mais rápida e eficiente lá, os processos são julgados mais rapidamente e as penas são mais duras para os agressores.

SMC - Como você acredita que será a violência contra a mulher no Brasil daqui a alguns anos?
 M.M - Bem, nessa área não me confesso o mesmo otimista incorrigível que sou para quase todo o resto. Apesar de já termos as delegacias da mulher e a Lei Maria da Penha, há um longo caminho a percorrer ainda, pois está quase tudo por fazer. E, na minha opinião, agora é a hora de OS HOMENS fazerem a sua parte. Os homens são os estupradores, os agressores, os assassinos de suas companheiras. Para mim há um claro limite para o que as mulheres puderam e podem fazer para se defender desses facínoras. Compete a nós, os homens, fazermos nossa parte também. E ensinar às mulheres que uma mulher não é um reles ser fraco e indefeso, mas que ela pode perfeitamente aprender a se defender usando inteligência ao invés da mera força física.

SMC - Como você trata a autodestruição alimentar em seu livro? por que eu devo ler o livro a Sopa Alimentar? Tem um publico especifico de leitor ou qualquer um que tenha interesse pelo tema pode lê o livro?
M.M - O livro é dirigido ao público em geral, sendo classificado como um livro de DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA. Serve para mostrar às pessoas como nosso sistema alimentar traz para nós todos um custo elevado demais para a saúde e para o bolso. Incidentalmente, vai ajudar as pessoas com excesso de peso a normalizá-lo, mas não foi concebido para ser um mero livro de dieta de emagrecimento.

SMC - Como você se sente ao ministrar uma palestra nos EUA e no Brasil, existe alguma diferença de público, de recepção ao tema? Se sim, quais?

M.M - Não há diferenças sensíveis. Em Miami dou palestras para os hispânicos em espanhol, que é tão primeira língua para mim como o português (nasci na fronteira, filho de pai brasileiro e mãe uruguaia); Para os brasileiros (há 250 mil deles no sul da Flórida), evidentemente em português. E, para americanos e todos os outros estrangeiros, em inglês. Em nenhum desses grupos de nacionalidades encontro qualquer diferença. É claro que para os americanos o interesse é maior, em razão de estarem mais adiantados também na gravidade do processo de auto-destruição alimentar, com 2/3 da população com excesso de peso ou obesa e ¼ das crianças francamente obesas também.

SMC - Como você vê a autodestruição alimentar no presente e o que esperar da autodestruição alimentar no futuro, aqui no Brasil?

M.M - Por enquanto ainda estamos no ramo ascendente da curva: copiamos totalmente o modelo americano e estamos nos desequilibrado de forma análoga. Para nós ainda vai piorar muito. Infelizmente.

SMC - Milton, conta, você ainda lembra como foi publicado o seu primeiro livro?  Quais as dificuldades para conseguir publicar sua primeira obra? Você vem usando a mesma metodologia para publicação de livros? Se mudou o método porque mudou?

M.M - Meu primeiro livro (A Rentabilidade da Propriedade Rural) foi uma publicação acadêmica e foi muito fácil publicá-lo. O segundo (Como Tornar Seu Sítio Lucrativo) foi uma encomenda do SEBRAE-Alagoas e teve uma tiragem grande (5000 exemplares), todos escoados normalmente. Segui publicando muitos novos livros de agricultura e a coisa foi muito bem comercialmente.
Quando comecei a publicar ficção é que as coisas mudaram para mim. Mas aí eu fiz vários cursos sobre edição e marketing de livros e de e-books nos EUA e agora tenho um método muito diferente de trabalhar. Mas isso precisaria de muito mais espaço do que temos aqui.

SMC - Onde podemos comprar os seus livros?

M.M - O sistema de vendas que eu uso está restrito à Internet. A editora IDEL faz vendas diretas, observando um preço mais baixo para o leitor. E as pessoas podem entrar em contato direto comigo, também, pelo e-mail delphos09@terra.com.br

SMC - Que dica você dá para as pessoas que estão iniciando carreira como escritor?

M.M - Em primeiro lugar LER! Ler muito, diariamente, disciplinadamente. Ler com o propósito de poder se tornar escritor! Quanto mais você lê, melhor você escreve, maior é seu vocabulário, mais fácil concatenar as idéias. Depois disso vem a parte mais importante: RELER. Só depois de ler um livro uma vez, você pode voltar a ele com olhar crítico e então observar as minúcias, as técnicas, como aprendiz de feiticeiro. Eu, por exemplo, que sou escritor profissional há tantos anos e tenho tantos livros publicados (22 no momento), mantenho esse mesmo comportamento com minhas leituras. Uma das coisas que faço, por puro prazer e ao mesmo tempo como exercício de técnica profissional, é ler a obra inteira de Jorge Amado, uma vez por ano, todos os anos. Também costumo reler dois livros basilares: O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho (este eu já li 6 vezes e sempre tenho o que aprender) e Viva o Povo Brasileiro de João Ubaldo Ribeiro. É claro que esses escritores são os que mais têm a ver comigo. Para outra pessoa, ela pode usar outros escritores como seus mestres e inspiradores, mas sempre será necessário ter esses guias para orientar nossa caminhada. Os guias são os que você RELÊ com encanto.

Em segundo lugar, ESCREVER –  para si próprio. Não escreva pensando em mostrar para os outros, não escreva pensando em aceitação ou rejeição. Escreva e arquive, escreva e arquive, escreva e arquive. Até ter um bom acervo, uma boa massa crítica. Se você for ativo e disciplinado, escrevendo X horas por dia, você pode gerar esse acervo em pouquíssimos meses. Então começa terceira parte, que considero também fundamental:

Terceiro lugar, PUBLIQUE SEU BLOG! É de graça e com a facilidade das plataformas blogspot ou wordpress, você põe seu blog no ar em 10 minutos, porque é fácil demais, basta seguir as instruções. A partir daí você encontrou sua editora: você mesmo. Você não depende de ninguém para publicar o que escreve. Use o seu acervo e acostume-se a postar diariamente, o que vai lhe garantir muitos acessos de leitores. 

Quarto lugar: DIVULGUE seu blog. Vá para as redes sociais, mande e-mails, distribua cartões ou mini-folhetos com o endereço do seu blog, consiga citações, mesmo que modestas, na mídia. 

E pronto. Você está começando a consolidar sua presença como escritor. É claro que isso pressupõe que você tenha atingido um mínimo de qualidade técnica e estética, mas isso é a parte mais fácil! Você pode aprender, pode refinar sua técnica, pode estudar, pode ler mais e mais.
Só que você vai ter que aprender a vender seu peixe. No novo mercado editorial, não vale o dito popular “o bom cabrito não berra”. Você vai ter que aprender a berrar. Ou nunca será independente.

SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?
M.M - No momento o que mais me preocupa e, sendo sincero, ENFURECE é a presença de espertalhões se adonando do mercado brasileiro de e-books (o único que tem futuro no mundo) e impondo preços abusivos, chegando ao desplante de oferecer e-books mais caros que o respectivo livro impresso. Eu espero poder, em breve, ajudar os escritores a se livrarem desses aproveitadores e ensinar os leitores a boicotarem essas empresas, pequenas ou  grandes. Se não reagirmos imediatamente, vamos ter um avanço muito lento no campo dos e-books. E até eles vão acabar entrando no mal-fadado CUSTO BRASIL, apesar de serem isentos de impostos, como os livros físicos.;

SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista… Agradecemos sua participação; foi muito bom conhecer melhor o Escritor Milton Maciel. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

M.M - Apenas agradeço a oportunidade que vocês me proporcionaram de me dirigir aos leitores em geral e de poder contribuir com um pouco da minha vivência e experiência. E aproveito para colar uma figura, onde aparecem os cinco lançamentos que estou fazendo neste mês de Abril:

O CERCO – Novela histórica
HELLO, TCHÊ! – CONTOS do Norte e do Sul
HELLO, TCHÊ  – POEMAS do Norte e do Sul
DO SUL AL SUR – Bilíngüe português/espanhol
A PRINCESINHA QUER DANÇAR – A Poesia Infantil


 Shirley M. Cavalcante, é jornalista, radialista, autora do livro: Manual Estratégico de Comunicação Empresarial/Organizacional, administradora do projeto Divulga Escritor,  graduada em Comunicação Social pela UFPB, especialista em Gestão empresarial e de pessoas, assessora e consultora de Comunicação Empresarial, Consultora Editorial, diretora executiva da SMC Comunicação Humana.

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