Jornalista Shirley M. Cavalcante (SMC) entrevista escritor português Pedro Belo Clara
Pedro Belo Clara, mora em Lisboa, Portugal, autor de três livros: "A Jornada da Loucura" (2010), "Nova Era" (2011) e "Palavras de Luz" (2012), sendo que os dois primeiros são de poesia;
Os Conteúdos trabalhados pelo autor são diversos: poemas, contos, artigos e crônicas. Pedro debruça filosoficamente, sobre a vida em geral e suas particularidades: a existência, a busca espiritual, a transmutação do Homem. Sem esquecer as incidências das paixões e do amor e assuntos de índole social e política.
Pedro desenvolve trabalhos no Brasil e Portugal, divulga seu trabalho em diferentes meios de comunicação, convidamos você leitor a conhecer melhor a trajetória de vida, dicas, visão.... deste maravilhoso escritor Pedro Belo Clara. Sejam todos bem vindos a esta especial viagem literária.
SMC - Pedro: quando começou a escrever? Em que momento decidiu ser escritor?
Pedro Belo Clara (PBC): O meu começo está invariavelmente ligado à música, quando decidi explorar os campos da composição. Os primeiros poemas, dignos desse nome, surgiram quando completei dezassete anos. Mas só com o passar do tempo, e com o respectivo amadurecimento, é que fui tomando decisões mais sólidas – como investir numa carreira profissional no tão difícil mundo da literatura. A escrita, para mim, é um veículo, uma ponte, um simples meio de alcançar o meu semelhante, de tocar em seu mundo e de oferecer múltiplas vias de crescimento e evolução. É como uma mão que se disponibiliza para quem a quiser agarrar. Hoje, eu sei o porquê de fazer aquilo que faço e quais os meus deveres perante os leitores. Na altura, era claro que não. Isso chama-se ‘crescimento’.
SMC - Hoje você tem vários livros publicados de diferentes temas. Como foram surgindo estes diferentes gostos literários? O que o influenciou a ter esta diversificação de temas publicados?
PBC: Se os temas sobre os quais me debruço são diversos, devo isso à própria diversidade da Vida - que tanto me seduz, ensina e cativa. Da serena contemplação de cada elemento, muito poderá advir. E tal matéria será sempre um alvo do processo criativo. Não existe um tema único em meus trabalhos; mas vários que, de uma forma peculiar, se interligam e justificam. São partes que compõem um todo maior. E é, para mim, fascinante abordar, nas medidas possíveis e necessárias, as diversas faces de uma coisa só.
SMC - O que mais lhe inspira a escrever?
PBC: Indubitavelmente, a Vida e as coisas da Vida… Isto é: a sua essência e as demais envolvências. Na plenitude da sua diversidade, como antes referi.
SMC - Quais são as suas referências literárias? Que autores influenciaram em sua formação como escritor?
PBC: Quando termino de ler uma obra que, no fundo, conseguiu criar em mim um impacto significativo, sei-me diferente. Pois sei que em minha escrita existe um novo perfume, consequência clara da influência a que me expus. Assim, aprendo e me permito evoluir como autor. No género poético, destaco Fernando Pessoa (a sua influência estende-se também à prosa, diga-se) e seu heterónimo Alberto Caeiro, Camilo Pessanha, Ruy Belo, José Agostinho Baptista, José Tolentino Mendonça, T.S. Eliot, Walt Whitman e o próprio Lao-Tsè com o seu belíssimo “Tao Te Ching” (O Livro do Caminho e da Sabedoria). Mudando de género, destaco Henry James, John Steinbeck, Henry David Thoreau, Khalil Gibran e Hermann Hesse.
SMC - Você hoje é colaborador em várias mídias Brasileiras… Como começou suas atividades no Brasil?
PBC: De uma forma bem simples e curiosa. Enquanto preparava o material para uma dessas sessões literárias que tive o prazer de efecutuar, um amigo meu, no intuito de me prestar um valioso auxílio, indicou-me diversos sites e blogues que poderiam servir de referência na minha exposição. Entre eles, estava o ‘Arte & Cultura’. Bastou um contacto para que a minha participação ficasse acertada… De uma forma assim tão natural, surgia a coluna “Canções da Alma Errante”. Actualmente, o site encontra-se encerrado; mas jamais esquecerei os amigos que lá fiz e todas as partilhas que se realizaram. Foi deveras gratificante. E estarei sempre agradecido por tudo o que por lá pude realizar; nomeadamente à Sandra Cajado, a directora do projecto que me abriu as portas ao público brasileiro.
SMC - De que forma você colabora para o Jornal literário “O Clandestino” e “Gazeta do Oeste”?
PBC: A colaboração surgiu através do blogue “Movimento Novos Poetas”, originário de, se não estou em erro (se estiver, os visados que me desculpem!), Mossoró. Foi graças ao amigo Mário Gerson, que me endereçou esse tão amável convite. Mas como essas publicações não apresentam uma tiragem on-line, torna-se para mim difícil segui-las com a devida atenção. A minha participação é essencialmente poética, mas também já lá editei alguns contos.
SMC - Que diferenças literárias você destacaria hoje entre Brasil e Portugal?
PBC: Creio que ambos os países, não só pelo histórico que os une, muito teriam a ganhar se se promovessem mais eventos e projectos semelhantes entres eles. Afinal, não podemos esquecer os nomes que de ambos já emergiram: Camões, Pessoa, Vinícius, Drummond de Andrade, entre muitos, muitos outros. Existem novas gerações, bastante talentosas, que esperam a sua hora. E uma relação simbiótica entre as duas nações seria sempre algo de benéfico para ambas, tendo em conta o talento e a sua proximidade histórica e até cultural. Mas, sob o ponto de vista de um autor, destacaria a grande diferença de oportunidades concedidas. Infelizmente, Portugal não se abre tanto quanto devia aos novos autores. Somos um país de grandes poetas e romancistas, não o esqueçamos. Mas existe um pobre investimento. Portugal necessitaria de mais revistas e jornais literários, não só impressos como também em formato on-line. Mais sites e blogues que introduzissem novos e talentosos autores. Porque… Talento, há! Mas não é aproveitado da melhor forma. E penso que no Brasil se facilita mais essa introdução no mercado literário. Aqui, e apesar de existir uma geração jovem bastante talentosa, encabeçada por nomes como José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares, existem muitos mais trabalhos que mereciam conhecer a luz do dia. Resume-se, no fundo, a isto: abertura. A novos autores e a certos temas, diga-se. Pois os leitores portugueses, muitas vezes, ainda vivem sob o estigma de certos preconceitos. Embora muitas barreiras tenham sido já derrubadas. Mas é igualmente importante não cair num erro que, por aqui, muitas vezes ocorre: apostar e promover a mediocridade, somente por ser vendível. Existe um lugar para todos nós, desde que não falte coragem para apostar. Repare: os consagrados sempre terão o seu merecido lugar. E o resto? Não poderão ser apenas meras modas… Pois essas são efémeras. É assim que queremos construir um futuro literário num país? É muito importante pensarmos na herança que legaremos às gerações vindouras.
SMC - Sobre o que trata seu livro Palavras de Luz? Que mensagem você quer transmitir ao leitor? A que público é destinado o livro?
PBC: A obra nasceu de uma colaboração minha no site CHACA, uma das primeiras que tive. Lá, semanalmente publicava uma pequena frase que detivesse uma mensagem profunda, significativa e fiel à sua raiz filosófica e espiritual. Essa colaboração durou cerca de um ano e meio, mas desde logo senti o potencial de cada trecho. Assim, mais tarde, compilei-os e… Nasceu o “Palavras de Luz”. Mas ainda tive de criar e adaptar muitas outras frases para conferir à obra a necessária substância, lógica e sustentação, é claro… No fundo, é uma grande metáfora para a própria existência humana, com as suas dores e alegrias, dúvidas e certezas, disputas e partilhas. Em cada uma delas, a imperiosa aprendizagem. Todos nós somos o viajante daquele livro. Não se destina, assim, a um público em específico. Está aberto e disponível para todos. O intuito é o mesmo de sempre: inspirar o leitor. É um livro para ser lido… e vivido.
SMC - Pedro, como foi publicado o seu primeiro livro? Quais as dificuldades para conseguir publicar sua primeira obra? Você vem usando a mesma metodologia para publicação de livros? Se mudou o método porque mudou?
PBC: Estive quase um ano para publicar o meu primeiro livro. É um processo longo e árduo; fatigante, até… Pleno de dúvidas e de tentações que nos instigam a capitular. Mas temos de ser mais fortes que isso. E, passando o teste, crescemos – como indivíduos e autores. Felizmente, consegui. E devo-o à Andreia Varela (aqui fica o louvor), que acreditou em mim. Completei o livro “A Jornada da Loucura” em 2009, mas apenas em Novembro de 2010 ele foi lançado ao público português. Como nunca estamos sós nestas coisas, pude desfrutar do inestimável apoio de diversos amigos, entre auxílios e incentivos. A publicação foi paga, ainda que tivesse a chancela de uma editora, mas consegui recorrer a patrocínios. Foi um caminho muito longo, mas não menos gratificante. O segundo livro, embora editado pela mesma casa, já não contou com a presença dos tais apoios. Nem o terceiro, publicado pela Chiado Editora…
SMC - Onde podemos comprar os seus livros?
PBC: Meus livros, em Portugal, encontram-se à venda nas livrarias mais convencionais. Também nas grandes superfícies comerciais poderão ser encontrados, embora aí, de forma geral, devam ser previamente encomendados. No entanto, se o público brasileiro se interessar por eles, apenas os poderá consultar e encomendar através do site das editoras (Papiro e Chiado). Basta efectuar no Google uma pesquisa com o nome exacto da obra em questão. Por certo que ficarão bem encaminhados, pois, além das grandes livrarias, também algumas das mais tradicionais permitem encomendas via internet. Em última hipótese, os interessados poderão me contactar pessoalmente, através da minha página de Facebook, e encomendar os exemplares que mais desejarem.
SMC - Que dica você pode dar as pessoas que estão iniciando carreira como escritor?
PBC: Acima de tudo, nunca desistam. É um caminho longo e cheio de espinhos… Mas nunca desistam. Principalmente, se estiverem certos daquilo que desejam ser e fazer. Só aquele que capitula é que poder-se-á dizer derrotado. Poderão perder muitas batalhas, mas jamais percam a fé em vocês próprios, em vosso trabalho, em vosso talento. É duro… Mas é deveras gratificante. Pensem em cada etapa como um teste às vossas crenças e limites. À medida que forem caminhando, sentir-se-ão humildes e orgulhosos pelo vosso percurso. As provações poderão ser imensas, a noite poderá parecer eterna… Mas terá um fim. E tudo valerá a pena, desde que a Alma não seja pequena – como Pessoa um dia escreveu. Acreditem. Não existe beleza maior do que tocar outros mundos com as palavras que proferimos.
SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário em Portugal?
PBC: Penso que, há pouco, identifiquei já aquele que, para mim, é o principal problema no mercado literário português. Mas permita-me que sublinhe o seguinte: infelizmente, não é só o mundo das letras que sofre os males de uma escassa abertura aos novos talentos. A música, por exemplo, percorre um trilho semelhante. Ainda que os tempos vividos em Portugal sejam difíceis, o investimento nos novos autores jamais deverá ser colocado de parte. Agora, poder-se-á falar de crise financeira, mas… E quando esta não nos assolava? Não era idêntico o comportamento? Sim! Estes apoios e incentivos devem surgir não só das instituições competentes, mas igualmente do campo governativo. Um executivo, como o português, que mal assume o comando do país decide extinguir o Ministério da Cultura, revela tudo sobre as intenções de sua política… E isto não afecta somente a literatura, mas a cultura em geral! E, sem ela, o que seremos nós? Sim, defendo que deve existir maior apoio à criação de novos trabalhos e divulgação dos mesmos. Os prémios literários, mesmo os menores, fazem a sua parte… Mas nem sempre é suficiente. As próprias livrarias, como grande montra que são, também devem assumir a coragem de colocar em suas estantes novos autores. Se ninguém ouve falar, como poderá alguém os comprar? A linha elitista deve ser derrubada… E permitir que novos valores venham tomar o lugar dos antigos; que, por todo o inestimável impacto da obra deixada, nunca serão esquecidos. É importante entender isto: ninguém perderá o seu lugar, pois ninguém é substituível! Apenas se dá a vez a outras vozes. E isso também deve ser o trabalho de um escritor: amparar novos valores, ser para eles uma espécie de mecenas. Parcerias entre ambos poderão ser deveras importantes. Certos cantores, por exemplo, fazem isso. Quantas vezes não escutamos um tema a ser interpretado por um “fenómeno musical” e por um convidado seu que nunca ninguém antes escutou? Quão mais divulgado e conhecido for, um autor assume outras responsabilidades. E essa, a meu entender, será uma delas.
SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista… Agradecemos sua participação; foi muito bom conhecer melhor o Escritor Pedro Belo Clara. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
PBC: Seja qual for a nossa origem, filosofia ou crença, todos nós partilhamos este imenso palco de experiências e aprendizagens. Sejam vocês próprios: respeitando a vossa natureza, irão descobrir a vossa mais íntima condição. Nela, estará o vosso ofício. Saber escutar o coração é entender a sua linguagem mais íntima… Os apelos atingem uma profundidade mais significativa do que os desejos. Sigam, assim, os vossos apelos. Todos nós possuímos um dom, apenas o devemos descobrir. E poderemos sempre ser algo de mais e de melhor para nós próprios e para todos aqueles que nos rodeiam. O Homem fluido é aquele que caminha na direcção certa para si próprio, seguro e feliz. Sejam audazes… E partilhem o vosso dom com o mundo.
Shirley M. Cavalcante, é jornalista, radialista, autora do livro: Manual Estratégico de Comunicação Empresarial/Organizacional, administradora do projeto Divulga Escritor, graduada em Comunicação Social pela UFPB, especialista em Gestão empresarial e de pessoas, assessora e consultora de Comunicação Empresarial, Consultora Editorial, diretora executiva da SMC Comunicação Humana.
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