LOHAN LAGE PIGNONE-Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade
Estácio de Sá. Professor da rede Estadual do Rio de Janeiro, músico e
roteirista.
Publicou,
em 2011, o livro "Poesia é Isso" (Ed. Multifoco) e, por dois anos consecutivos,
foi eleito destaque em arte e cultura na cidade onde reside, Trajano de Moraes
(RJ).
Possui
textos no blog coletivo Autores S/A. Escreve, mensalmente, para a Revista
Samizdat.
Organizou,
por dois anos consecutivos, o Concurso de Poesia Autores S/A. Organizou a
antologia poética do 1º Concurso de Poesia Autores S/A, intitulada
"Poesia.com" (Ed. Multifoco). Atualmente, organiza o I Concurso de
Minicontos Autores S/A.
Em
2010, ocupou as quatro primeiras colocações do Prêmio Safo de Poesia, da Universidade
Estácio de Sá (Campus Nova Friburgo).
Em
2012, ficou em segundo lugar no Concurso de Poesia Poesiarte; sagrou-se campeão
do concurso de poesia Língu'afiada, além de ter sido selecionado para três
importantes antologias: Concurso de Minicontos da UNISO (com dois minicontos);
Prêmio Escriba de Poesia (com um poema) e Prêmio UFF de Literatura (com um
poema).
Ainda
em 2012, ocupou a quinta colocação no XXVII Concurso de Poesia Brasil dos Reis
(Angra dos Reis). Autor das peças teatrais "A Cor do Céu" e
"Comprar, rezar e amar".
Árvore da vida
Rua Sotero dos Reis,
sem número.
Eu:
manacá,
também conhecida como
primavera,
dezoito anos,
violácea violada:
árvore da vida.
Enraizei o meu ponto,
e vou ganhando a vida
sem cobrar guarida.
Ah, essas meninas...
agora o meu corpo se tornou apoio
de menina cansada...
eu, que não me canso:
trabalho noite e dia
dando
sombra,
fragrâncias
e um toque paisagístico
[pra inglês nem ver...
nessa selva maquiada
de sonhos cinzentos.
Ó minha Deusa grega Puta!,
que a p(h)oda não desnude
o meu corpo inteiro;
eu, que dependo da aparência
pra sobreviver
e dos meus galhos para rodar
as folhas e emanar
meu cheiro.
Sei que ainda exalo
o melhor dos perfumes;
e minhas folhas, viçosas,
tocam suavemente
esses corpos impunes
cujas almas se dissipam
pelos orifícios,
pelos vícios,
pelo nada.
Cá estou eu,
árvore, coadjuvante urbana
a ser regada
pelos homens regados
de drinks
e suores;
engravatados,
urinam suas hipocrisias em mim,
maculando a raiz
dos meus princípios
sem fins.
As borboletas vêm me visitar
beijam o meu lilás,
repousam em meus galhos...
Renovam as esperanças
de dias menos noturnos
e nuvens não mais carregadas
de lágrimas que borram
os rímeis,
os sonhos,
os rumos.
Vinte e quatro horas para contar
Teto
Pantufas
(do Flamengo)
Dentadura
(Coa) dor nas costas...
Sem açúcar
Dorflex
- Bom dia
(ao jornaleiro)
Óculos
Página dos Esportes
Cigarro
(tragado)
Nostalgia
(tragando)
Boteco
Dominó
Piadas
Olhadelas
(essa mulher do vizinho...!)
Pinga
(pra abrir o apetite)
Cigarro
PF – R$ 6,00
Cochilo
Ligação do filho
Depósito bancário
(serventia de velho)
Cadeira de balanço
Palavra-cruzada
(qual é mesmo o nome daquela atriz?...)
Cigarro
Sono
Sonhos
(um relógio antigo de ponteiros acelerados)
Novela das seis
Cigarro
Tosse
(essa friagem ainda me mata!)
Remédio de pressão
Chuva
Balde no quarto
Pão com ovo
Flamengo x Corinthians
Cigarro
Vitória alvinegra
(juiz filho de uma...!)
Cigarro
Rivotril
Descalço
Dentadura
Saudade
(de quando se foi criança e fez história pra contar)
Lágrima
(de quando não há quem ouça)
Teto
...
Aqui jaz a minha história.
O beijo, de Klimt
O beijo, de Klimt. O beijo, só isso. Quem será essa moça de laço no cabelo ao meu lado? O que terá tomado no café da manhã? Torradas, manteiga sem sal, café com aspartame...? Aqui na Áustria faz um frio do diabo, eu tremo é de frio mesmo. Por que a moça de laço no cabelo ao meu lado se arrepia diante desse quadro? Qual deve ter sido seu pensamento ao abrir a porta do seu guarda-roupa pela primeira vez hoje? Sua roupa não foi feita por um ourives, como a dos personagens desse quadro, certamente, mas... Tem um bom gosto, eu aprovaria se fosse estilista ou tivesse uma vocação afeminada qualquer.
Eu olhei para ela. Ela olhou para mim.
O beijo, de Klimt. O beijo... A moça ao meu lado se chamava Marlene D’Beauvoir, prima distante da Simone. Marlene é minha esposa. Pelo resquício do fundo da xícara, tomou um café sem açúcar. Deixou um bilhete. Aqui no Brasil faz um calor de fazer Deus suar a chuva que me ensopa de tristeza por dentro. Por que deixou o laço do cabelo? Por que não se arrepiou quando ouviu o canto dos bichos anunciando mais um dia? Mais um. Mais um. Menos uma: menos ela. Qual deve ter sido seu pensamento ao abrir a porta do nosso guarda-roupa pela última vez hoje? A camisola que eu lhe dei, já faz um tempo, é verdade, não é de seda, mas... Ela poderia ter levado. Tinha o cheiro da minha fruição. Eu teria aprovado se tivesse uma vocação masculina qualquer.
Eu chorei. Ela não olhou para mim.
O beijo, de Klimt. O beijo. Quem será essa moça no interior do beijo? O que terá ouvido no café da manhã? Os olhos cerrados é o adiar da sua pena de morte. Adia, mais dia, mais um dia, menos uma: menos ela. O beijo marca a face de outono. Os olhos fechados sonham em sonhar, mas de dentro de um beijo não se sonha, se esbarra, se é cercado. A moldura delimita os sonhos daqueles olhos que reservam as maiores luzes que se algazarram em prismas surreais transportadas para Dalí noutra époque.
Ela fechou os olhos. Eu não os abri.
O beijo, de Klimt. O beijo! Quem será essa moça de laço no cabelo que pintou meu beijo de ouro em praça pública? Tomou café com speckstangerl numa das padarias de Viena, deu pra sentir na umidade do seu céu. As nuvens deram passagem a nesgas de luz, primavera. Por que essa moça de laço no cabelo me arrepia tanto e aquele quadro, o beijo materializado pelas mãos de Klimt, não me causou nada? A propósito, quem é mesmo Klimt?... Ela não havia pensado em nada quando abriu o seu guarda-roupa pela primeira vez pelo simples fato de ter aberto somente uma mala. Sobre o carpete daquele quarto de hotel, a perna da minha calça se enroscou em seu cacharrel. O laço do seu cabelo deu um nó no meu peito.
Eu desfiz o laço. Ela o deixou sobre o bilhete de despedida,
três estações depois.
A Entrevista
-Meus óculos... Onde estão?
Meu tio, pra cima e pra baixo. Hipermetrope, sedento pela leitura de sua entrevista. Resmungão, foi atazanar a tia na cozinha. Ela picava a cebola.
-Meus óculos, Janete, quede os meus óculos?
-Deixa eu chorar em paz, Hilde.
O espelho do corredor deu como encerrada a sua aflição matutina. Tirou os óculos da gola da bata, sentou, cruzou as pernas operadas de varizes, abriu a página da entrevista.
-Cabra da peste, escolheu a pior foto.
O jovem todo engravatado, cheirando a talco, defronte o Sr. Hildebrando Perez.
-Sente-se confortável aqui, Sr. Hildebrando?
-Como não? Nesta confeitaria eu vivi os meus melhores dias no Rio de Janeiro! Lá de fora, pelo vidro, eu vi a rainha Elizabeth não sei das quantas tomar o seu sorvete de bacuri. Eu tinha 20 anos, recém-chegado de Ilhéus. Era tanta pompa que eu queria também. Eu, numa larica do diabo, querendo tomar sorvete de bacuri, ora veja só! – riu-se, com o gosto da memória.
-Sorvete de bacuri? Bacuri não é peixe?
-Bacuri é fruto, rapaz. Das bandas do Norte.
-Minha mãe sempre me chamou de bacuri... , sorriu, em falsa nostalgia – sempre achei que fosse por causa dos meus olhos caídos, de peixe morto.
-A curiosidade fez o gato subir no telhado, menos você.
-Às vezes é bom não saber. Mas... Que tal começarmos nossa entrevista?
Largou o jornal sobre o sofá e foi andar, de um lado pro outro.
-Ô Janete, aquele filho de uma égua foi falar do sorvete de bacuri no começo da entrevista, acredita nisso? Não existe mais edição, desconheço isso hoje em dia!
Janete. Picando o tomate.
-Deixa eu sangrar em paz, marido.
-Ah vá, mulher, pare com essas literatices...
Tornou a ler, inquieto.
Ligou o gravador.
-Quantos anos você tem?
-Eu? Eu tenho... – posicionou o gravador sobre a mesa – Vinte e quatro.
-Eu tenho quase o seu dobro de expediente, rapagote. Com Mestrado e Doutorado.
-Não me intimide, Sr. Hildebrando. Eu conheço bem a sua fama de mau e se acreditasse nela, jamais teria proposto essa entrevista.
-Pois eu digo que propôs porque acredita nela. Dá audiência pra muita TV falida. Mas vá lá, inicie essa joça de uma vez.
-Ok, vamos. Inicio aqui a entrevista com um ilustre colega de ofício, um dos mais experientes e polêmicos do jornalismo brasileiro: Hildebrando Perez. Caro Hildebrando, muito obrigado por ter aceitado o meu convite, é uma honra. O que te levou a ser jornalista?
-Herança genética. Meu pai foi um grande jornalista, em Ilhéus. Pouco conhecido nacionalmente. O ilustríssimo Armando Perez Martins plantou no meu DNA a semente da curiosidade, da busca pelo novo, da indagação permanente.
-Sendo assim, devemos agradecer ao seu pai por ele não ter sido médico!
-Não, não agradeça nada não, rapaz. Eu teria sido um médico tão bom que agora você estaria me entrevistando do mesmo jeito.
A campainha.
-Pode atender, Hilde?
Tio Hildebrando ensurdecia durante suas leituras.
-Conrado! Entre, se acomode. Tô preparando uma moqueca daquelas, fique pra comer conosco. Dá licença, vou para a cozinha. Aceita um cafezinho?
Companheiro dos velhos tempos de batalha, Conrado valia a interrupção daquela leitura insatisfatória.
-Li sua entrevista.
-Minha entrevista não, que minha entrevista. Aquilo foi uma tentativa de papo furado.
-Ele só deu ênfase no seu lado explosivo. E que porra foi aquela de suruba urbana, Hildebrando?
-Noutros tempos, eu seria censurado por publicar um disparate desses. E demitido! Os jornais eram sérios, Conrado. Afrontávamos o governo com poesia! Hoje contratam qualquer fedelho xiguilingue e transformam, o que ontem foi censura, em sensacionalismo dos mais podres.
-Noutros tempos, meu amigo, tu não era brocha também.
O olhar surpreso, tomado por uma súbita onda de resignação. “Eu não admito o inadmissível”...
Podia ouvir a voz do pensamento do tio Hildebrando...
A pergunta mais aguardada.
-Caro Hildebrando, o senhor tem demonstrado, em seus últimos trabalhos jornalísticos, uma tendência extrema para o conservadorismo. Reli todas as suas últimas críticas, artigos, seu último livro, suas colunas dominicais, enfim... Ao longo de sua história, o senhor foi esquerdista confesso, combatente incisivo contra o sistema ditatorial. Devo concordar com a alcunha que lhe deram: o maior vira-casaca do jornalismo brasileiro?
-Já concordou, rapaz, já concordou. E não sou? Me orgulho disso. Napoleão venceu os ingleses virando a casaca.
-Foi um ato estratégico, e não ideológico.
-E quem garante que meus atos também não sejam estratégicos? Você acha que seria bonito ver um velho como eu mandando atear fogo em universidade? Isso é sandice!
-Então o senhor admite que os jovens podem, e devem, criar revoluções?
-Depende do tipo de revolução que você está falando. Eu não admito o inadmissível. Do que você fala? Do vandalismo, da morte? Isso não, isso não é por ponto final, isso é acúmulo de vírgulas e reticências na história do país. Revolução é feita através da arte e do bom senso.
-Arte e bom senso combinam?
-Depende do artista que você é. Se você for um artista borra bosta, não. Esse tipo de artista gosta de jogar merda no ventilador pra ser espalhada numa tela em branco. Pronto, depois diz que aquele pedantismo todo é arte conceitual. Quer aprender como enfrentar um sistema? Vai ouvir Chico, Caetano, Tom Zé. Vai ler Henfil e larga desse miolo de pote, rapaz.
-Desculpe, mas – tomando nota rapidamente – o que seria a expressão “miolo de pote”?
-Essa eu arranquei lá de minha terra, das falas aporrinhadas de meu saudoso pai, o deus do jornalismo de Ilhéus. O que você acha que seja?
Confusa hesitação.
-Uma coisa mesquinha, suja...
-Papo furado, lero-lero. Agora pode prosseguir com sua... Entrevista.
Próximo capítulo: religião.
-Ter aderido a uma religião, no caso, o catolicismo, foi um ato importante pra essa mudança de postura sobre a sua visão de mundo?
-Foi, claro que foi. Eu não passei a tomar o corpo e o sangue de Jesus Cristo só pra despachá-lo numa privada depois. É transformador. E devo isso a minha fiel esposa Janete. Depois que a conheci, eu conheci a Deus. Conheci Deus através dos olhos dela, naquela mesa ali, aqui nessa Confeitaria. Ela tomava chocolate quente, num calor de fritar os neurônios! Indignado, larguei o meu sorvete e fui parar na mesa dela, perguntando que diabo era aquilo. Tivesse um dia frio eu não teria casado, nem tido uma filha que hoje trabalha na PUC.
-Então o senhor se considera um convertido? O que pensa sobre as outras religiões?
-Não penso sobre outras religiões, rapaz, a minha já é complexa demais pra eu ficar reparando as preces das outras ovelhas. Sou um convertido em todos os sentidos. Sabe o que é isso, rapaz? É pular de um barco antes que ele afunde.
-E o senhor sabe nadar?
-Pode repetir sua pergunta?
-O senhor disse ter pulado do barco antes que ele afundasse. Suponho que tenha pulado n’água. O senhor soube nadar nessas águas?
-Não, rapaz. Eu deixei me afogar nelas. Antes jazer num túmulo só do que acompanhado de uma patota do inferno.
-Jornalista tem que ter uma mente aberta. Essa máxima vale pro senhor?
-Se na sua concepção mente aberta significa pernas abertas, ah, rapaz, tu vai te catar. Quer o que, que a nossa nação vire um rebuceteio?
-Perdoe, senhor Hildebrando, mas eu tenho vinte e quatro anos. Sob o meu ponto de vista jovial, não seria nada mal que toda a sociedade virasse uma suruba urbana, em todos os sentidos, longe de qualquer hipocrisia.
Meu tio apontou o dedo nas fuças do entrevistador.
-Ô seu afetado, pois então vá soltar tua franga noutro quintal porque eu tenho uma filha, uma moça tão jovem quanto você, mas que preza pelo respeito e pelos bons modos, visse? E em nome de todas as mulheres deste país, vomitarei teu nome nos autos da imprensa. Seu pixote de merda!
Apeou os talheres sobre o prato saudoso da moqueca que ali estava. Gargalhava.
-Esses novatos não são de nada, Conrado. Tudo borra bosta. Saí da Confeitaria e ainda dei um beiço nele de dois Capuccinos e um bolo de laranja! Bora fumar um cigarro?
A tia a lavar as louças, cantarolando alguma canção imperceptível. Tio Hildebrando e Conrado, vagarosos pela calçada, esfumaçando o dia clarividente.
-Vai foder com esse jornalista?
Um trago. Dois.
-Tenho meus pauzinhos pra mexer, visse... Mas não. Quando aceitei essa entrevista, eu já sabia que bicho ia dar.
-Então por que aceitou?
-Não me queimo mais não, Conrado. Que falem de mim, eu sou blindado, sou doutor. E aquele novato precisava disso. Aquele pixote tinha que conhecer Hildebrando Perez tête-a-tête pra só assim, um dia, poder ser um genérico de Hildebrando Perez. Original só eu e ponto. Que tal um birinaite?
ONDE ENCONTRAR MINHAS OBRAS:
ANTOLOGIA “POESIA.COM”, ED. MULTIFOCO:
A antologia poética “Poesia.com” reúne os melhores poemas do Iº Concurso de Poesia Autores S/A. O certame sagrou-se como um dos maiores já vistos em rede virtual (blog), tendo recebido um grande número de inscritos e leitores de todos os cantos do país. ...
LIVRO “POESIA É ISSO”, ED. MULTIFOCO:
Primeiro livro... Nele, presentes vários momentos do meu estado poeta. Eu não sou, e nem quero ser poeta. Eu quero estar poeta, até onde a inspiração me permitir. Eu acredito na inspiração, e acredito na transpiração que se ocasiona durante a construção de um poema. Ambas as ações, a metafísica e a corporal, trabalham em conjunto em prol do nascimento dela, a poesia, que se guarda singelamente no ventre do mundo. ...
LOHAN LAGE PIGNONE
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Um comentário
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