Antônio LaCarne é escritor e autor do livro "Elefante-Rei: Poemas B" (2009), em 2011 participou da coletânea de contos "A Polêmica Vida do Amor" (Ed. Oito e meio).
Seus textos, fragmentos e poemas estão publicados em várias páginas na internet.
Assina o blog O Impenetrável.
Contato
Alguns poemas de Antônio Lacarne
saturday
em html eu destruí o mundo de cabo a rabo
(sempre anônimo)
mas com a foto de virginia woolf
na mão direita.
é que traduzi um fantasma em mim:
seus olhos
sua crosta terrestre
o monstro na jaula que nunca vê
o dia.
outra vez quero passar despercebido
mergulhar no verão
balançar o corpo de vez em quando
e nunca mais
pronunciar aquele chão de dores.
aí talvez
num corpo de elefante único no planeta
eu esqueça você indo embora
numa despedida que não tem cara
de despedida.
ele havia domesticado a minha farsa
no momento em que eu me permiti sofrer
e ao acordar não percebi os rostos em volta.
eu havia abandonado as comédias românticas.
não pedi auxílio aos pedestres ou aos pais de família.
mantive o silêncio às escondidas.
imaginei jantares, missivas numeradas, elogios em vão.
as noites estreladas desvendam gritos e mágoas.
nem sequer me importei com a chuva.
nem fiz da cidade um personagem.
matei pelo prazer de quem sobrevive.
recebi os convivas enquanto nos desmembrávamos.
caí de bruços no quadrado da cama.
dormi duas noites em paz.
fingi ser de mim a posse, clarear as ideias, ser fiel às imposições.
ao fechar as portas, a luz intacta da sala me possuiu como um objeto.
dois anos luz presos ao fim da picada.
éramos cobras do outro lado da linha.
o prumo do que antecede o vento.
noções de abuso enquanto te ofereço lugar na mesa.
o simples fato de não saber o porquê dos danos.
vindos de longe parecem tão limpos, tão bronzeados.
a chama apagou enquanto você me extorquiu drogas, decepções.
na areia da praia fiz um pedido sobre rochas e falésias.
com os meus dentes os jogos parecem insensatos.
quisera eu me unir ao teu grupo de amigos.
1º de dezembro: recomeçarás sem pestanejar.
licor nos lábios enquanto o gato mia.
prendi meus inventos num pasto omisso.
as regras da absolvição.
os negrumes da tarde ao norte.
dualidade esferográfica sem pontas.
imagem do homem que se desfaz com o dito pelo não dito.
ritual zero
durante todos os meus dias
eu seria essa cilada escondida nas orelhas da noite
um ponto cartesiano em vão nos mares
sobre os navios que você estima
ignora & esquece em outras companhias
aí eu fecharia a porta do apartamento
esconderia a consciência nas luzes apagadas
& não estimaria o vento que não assanhou os meus cabelos
por nada eu mataria este automatismo perverso
por nada desistiria dos animais na estrada
eu sofreria pela sinceridade das plantas
no instante em que o mundo descobre de costas
o perigo nos dentes
a faca esquecida
a carta no fogo
você sonolento na cozinha.
verão dos aposentos
menor,
visto sob os calcanhares,
seria talvez descrença: pai, padre, noite e o farol,
voz calada por ti,
por ele que viaja alegre,
terras ensolaradas sem perdão,
menor,
mesa de vidro onde pouso rosto, braço, queixo,
tendência ao mergulho nas piscinas,
eu não quero você aqui,
releitura de três mentiras sobre a traição,
neste instante recorro ao tempo,
menor,
primeira carta ao agricultor,
como resposta, não promete recompensas,
exímio aniquilador do beijo,
ele impõe uma canção,
da cantiga, sobrevivemos,
menor,
busco o tom do coração em sobressalto,
aos domingos, tom árduo e severo,
e lentamente, em círculos de giz,
maximizo a produção de suor.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário