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Mercado editorial brasileiro: crescimento e cultura digital [Camila Gonzatto]

Mercado editorial brasileiro: crescimento e cultura digital

Camila Gonzatto

Segundo dados da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, lançada em 2012, há 88,2 milhões de leitores no país, de um total de 178 milhões de brasileiros com mais de cinco anos de idade. São considerados leitores, segundo um critério internacional, pessoas que leram pelo menos um livro nos últimos três meses. E apesar de o número de leitores ter diminuído em relação à última pesquisa realizada em 2007, os resultados registram que 49% dos atuais leitores afirmam estar lendo mais do que leram no passado. Esse aumento do volume de leitura pode explicar o crescimento das vendas de livros nos últimos anos. Segundo a última edição da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, divulgada em julho de 2012, as editoras brasileiras tiveram um aumento de 7% nas vendas com relação a 2010. No período, também houve um aumento do número de publicações em torno de 6%.

E a diversidade marca esse panorama: com quase 500 editoras atuantes no mercado, sejam nacionais, internacionais ou de capital misto, e também com muitos autores nacionais conceituados, o mercado no Brasil tende a crescer. “O mercado editorial brasileiro vem crescendo e se profissionalizando, acompanhando o desenvolvimento econômico do país sobretudo nos últimos 20 anos. Isto se revela no aumento do número de editoras e livros publicados, assim como do padrão de qualidade dos serviços e produtos; no interesse crescente dos grandes grupos internacionais pelo mercado interno; na maior visibilidade que os autores brasileiros vem conquistando no exterior; e no oferecimento de cursos específicos voltados para trabalho editorial”, analisa o editor Cide Piquet, da Editora 34.


Projetos editoriais para públicos diferentes

Ao lado das grandes editoras, como a Companhia das Letras, Objetiva e Martins Fontes, por exemplo – com catálogos grandes e heterogêneos – destacam-se no também aquelas de perfil mais específico, como é o caso da Cosac Naify. “Ocupamos um nicho de mercado de livros de alta qualidade editorial, respondendo por um catálogo de valor literário e de referência para as distintas áreas em que atuamos. Nosso público vem do meio cultural e universitário, leitores exigentes em geral”, explica Florencia Ferraria, diretora editorial da Cosac Naify.

O público acadêmico é também um dos principais leitores da Editora 34, que tem um catálogo focado nas áreas de filosofia contemporânea, sociologia, estudos literários, música e literatura, tanto nacional como estrangeira. Outro exemplo de editora com perfil específico é a Zarabatana Books, voltada para a publicação de quadrinhos autorais, cujo público vai além dos leitores habituais de HQs. “Do ponto de vista de nossa linha editorial, vejo o mercado brasileiro em grande expansão, com o surgimento de novos talentos nacionais assim como a publicação de HQs de diversas partes do mundo, tanto de clássicos como de novos autores. Atualmente existe também o reconhecimento e a valorização dos quadrinhos por entidades públicas brasileiras, através de programas de apoio à edição e compra de obras para bibliotecas escolares”, diz Cláudio Martini, editor da Zarabatana Books.

Nesse mercado de nichos, não se pode esquecer das pequenas editoras, que publicam jovens escritores, como é o caso da Não Editora, da Patuá, da Demônio Negro e d’A Bolha, entre outras. Essas editoras têm um papel bastante importante não só em lançar nomes, que mais tarde irão se fixar no mercado em editoras de maior porte, mas também em criar um público para as novas gerações de escritores.

Formato digital

Não há como falar hoje em mercado editorial sem pensar nos livros digitais. Ainda recentes no Brasil, os e-books já começam a trazer resultados para as editoras. A primeira empresa de tecnologia para leitura digital a entrar no mercado brasileiro foi a Kobo, em parceria com a Livraria Cultura. Hoje, porém, livros digitais em português podem ser adquiridos na Amazon, Apple e Google. E as principais editoras do país já colocaram o pé no digital: a Companhia das Letras, por exemplo, tem um catálogo de mais de 600 e-books, incluindo literatura brasileira e estrangeira. Rocco, Objetiva, Record e Zahar também oferecem um catálogo grande e variado de publicações digitais.

Para entrar nesse mercado, em 2011, a Editora 34 fez uma experiência: lançou a Nova antologia do conto russo, na íntegra e em e-book, mas também em partes, ou seja, cada conto poderia ser comprado separadamente. “A recepção foi muito boa. O conto Depois do baile, de Tolstói, chegou a ficar na lista dos mais vendidos da Livraria Cultura”, conta Piquet. Entre os critérios da editora para a escolha dos títulos para publicação digital estão a relevância do título, a viabilidade do contrato e a adequação ao formato. Fazem parte das próximas ações digitais da 34 o lançamento de títulos de não-ficção e também de títulos esgotados no catálogo convencional.

Mais recentemente, em abril deste ano, a Cosac Naify lançou seus primeiros e-books. “Nossas edições procuram trabalhar com os melhores tradutores e oferecer aparatos de especialistas do tema, além de material extra para que o leitor possa ampliar seu conhecimento em relação ao texto principal. Parte desse material editorial se mantém nos e-books”, esclarece Florencia Ferraria.

O papel das feiras

Se por um lado o mercado está aquecido, por outro, ainda há um grande desafio: conquistar um público leitor maior. Além das escolas e universidades, cumprem parte desse papel as Feiras do Livro e eventos literários, como a Festa Literária de Paraty, no Rio de Janeiro; a Jornada Literária de Passo Fundo e a Feira do Livro de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; a Bienal do Livro e a Balada Literária, ambas em São Paulo. São eventos que aproximam leitores e autores em palestras e sessões de autógrafos.

Não menos importantes são as feiras no exterior, que contribuem para a internacionalização dos autores brasileiros e também como cenário comercial para as editoras nacionais. “Para nós, mais do que uma oportunidade de realizar negócios, a participação em feiras importa como momento intenso de relacionamento com parceiros e de abertura de projetos para o futuro. O interesse pela literatura brasileira, em especial contemporânea, vem crescendo”, relata Florencia Ferraria.

As feiras também são importantes para os editores que buscam autores de outros países para tradução. A editora Cosac Naify, por exemplo, tem 32 obras traduzidas do alemão para o português, enquanto a Editora 34 já contabiliza 30 obras cujo original é alemão. “Em virtude da Temporada Alemanha – Brasil 2013/2014, temos mais cerca de seis títulos previstos para breve. O programa de apoio à tradução e as parcerias com o Instituto Goethe, de modo geral, são um grande incentivo para a realização de um projeto como esse”, afirma Piquet. Com a participação do Brasil como país convidado da Feira do Livro de Frankfurt em 2013, esse diálogo entre os mercados editoriais tende a crescer, ampliando o número de traduções e aquecendo o mercado de ambos os países.

Camila Gonzatto é roteirista e diretora de cinema e TV e cursa doutorado em Teoria da Literatura na PUC-RS.


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