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Só a preguiça melhora o mundo (III) [Xico Sá]

Só a preguiça melhora o mundo (III)

Depois da gula e da luxúria, o sagrado direito à preguiça, meu caro boa-praça Francisco.

Não a preguiça amorosa e sexual do homem-Ossanha, aquele que diz vai e não vai, pula fora, vacila e deixa a dama a chupar o frio chicabom da solidão.

Não a preguiça de outro tipo bem moderno, o MacunaEmo, o cara que tem a leseira do Macunaíma e a choradeira de um jovem roqueiro Emo.

Trato da preguiça bíblica e proveitosa.


A preguiça de uma sesta a dois, la vieja siesta espanhola, na rede ou na cama, com uns gatos ronronando na área.

A preguiça de um dengo debaixo das cobertas.

Uns cafunés também caem bem na avarandada tardinha.

Um preguiçoso e inconclusivo slow sexo de ladinho antes do desmaio no sono.

Palavra alguma, apenas sussurros, gemidos, onomatopeias da pura manha, periquitosos barulhinhos da existência.

Tim Maia como guia espiritual permanente: eu quero é sossego.

Dorival Caymmi como mestre de cerimônia.

O pantagruélico Ascenso Ferreira como Deus pai todo poderoso dos pecadores nos fornece o seu poema “Filosofia” como mandamento único:

“Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!”

A preguiça, jovens da rueira rebeldia da hora, ainda é a melhor forma de combater o capital.

A preguiça, amigos da causa verde, ainda é a melhor forma de não poluir o planeta.
Sem se falar no ócio criativo, que só poderia ter sido inventado por alguém com o descansado nome de Domenico De Masi.

Ai que preguiça macunaímica. É o tipo de pecado que não dá trabalho, meu caro papa Francisco.

A preguiça melhora o trânsito e o ar que eu respiro.

A preguiça nos livra dos novos pecados capitais, santo bispo de Roma.

Só a preguiça melhora o homem, porque só um homem preguiçoso é um homem que não faz merda.

Todo preguiçoso é, por essência, um grande sujeito.

O canalha, por exemplo, é um propositivo nato, um homem atento, produtivo, inquieto, ligadaço, sempre a serviço de alguma corporação ou de interesses escusos.


Só a preguiça, meu caro Francisco, é capaz de melhorar o mundo.

Xico Sá é escritor e jornalista, colunista da Folha, autor de “Chabadabadá – As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha” e mais 10 livros. Na TV, participa do programa “Saia Justa” (GNT).

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