Há vida - e como! - vida inteligente fora do eixo
Literatura fora do eixo Rio-São Paulo
Por Menalton Braff
É quase consensual,
entre os órgãos da mídia, sobretudo da grande mídia, que fora do eixo Rio-São
Paulo pouca coisa se faz no Brasil. A vida inteligente nasce nessa faixa do
País ou para ela migra. Algumas vezes, mas não muitas, e quase sempre
inadvertidamente, noticia-se um evento fora do eixo. Claro está que estamos
falando de cultura. Uma das marcas de tal pensamento, e marca reforçada pelo
mundo acadêmico, é o modo como são classificados os escritores do Brasil. Se
mora em São Paulo ou no Rio, é apenas escritor, quando muito escritor urbano.
Saiu daí, não evita a adjetivação um pouco pejorativa de regionalista. Certo:
Rio e São Paulo não são regiões, são o Brasil. O resto, os outros estados, bem,
são os consumidores do que se faz “no Brasil”. Segundo o que pensam, somos
todos periféricos e devedores das metrópoles.
O que motivou o
assunto foi minha viagem recente a Campo Grande, onde se realizou o Literasul –
1º Encontro Estadual de Literatura em Mato Grosso do Sul (realizado entre 23
e 25 de julho de 2013 - N. do Vermelho). Lá estivemos o Cláudio Willer –
falando de poesia, o Menalton Braff – falando de conto, e o Marçal Aquino –
discorrendo sobre roteiro de cinema e literatura. Professores, alunos,
escritores novos e antigos interagindo em alto nível com os convidados. Foi
realmente uma festa da literatura.
O evento, idealizado
pelo escritor Samuel Medeiros, presidente da União Brasileira de Escritores
local, teve a parceria da Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul, dirigida
por Américo Calheiros.
E se alguém duvida
de que se possa construir alguma coisa relevante de cultura no interior,
pergunto se conhece o Manoel de Barros, pantaneiro que hoje vive em Campo
Grande. Se não o conhece, tampouco reconhece seu valor no cenário literário
brasileiro, bem, então não adianta conversar.
Entre os escritores
presentes, estavam Elias Borges, da diretoria da UBE, Arlindo Fernandez, Samuel
Medeiros, Reginaldo Costa de Albuquerque e Henrique Pimenta. Esses e muitos
outros autores compareceram ao evento, todos eles muito atentos ao que se faz
hoje dentro do “eixo”, mas fazendo também à sua moda literatura de alta
qualidade.
Voltei impressionado
com a efervescência cultural de Campo Grande e a tomei por tema principal desta
crônica. Mas conheço muitos outros centros onde a vida cultural em geral e em
particular a vida literária são intensas. Porto Alegre, Curitiba, para citar
duas praças de farta produção artística, e Belém do Pará, onde estive há alguns
anos e descobri que os autores do Norte publicam por editoras paraenses, uma
das quais estava lançando a obra completa de Dalcídio Jurandir, um dos grandes
romancistas brasileiros do século XX, que muito pouca gente no eixo conhece.
Dizia-se, quando da
construção de Brasília, que nosso País precisava parar de viver como caranguejo.
Falava-se em hora da interiorização. Cinquenta e tantos anos depois, alguma
coisa mudou, mas ainda mudou muito pouco. O Brasil é muito maior do que o
eixo
Fonte: CartaCapital
/ blogdomenalton
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