Pausa para o jogo [Patrícia Dantas]
Os movimentos eram hábeis à sua volta, parecia mais um ritual da vida: homens que balançavam de um lado para o outro, faziam planos, bolavam estratégias, pensavam no futuro. Talvez o tempo real mesmo não estivesse ali, mas sim a sensação inóspita e afoita da realidade clandestina que roubavam das poucas horas do dia que lhes eram dedicadas somente para um descanso do corpo.
Falavam todos ao mesmo tempo, dando boas vindas aos que chegavam, sugeriam táticas do jogo, comentavam sobre os acontecimentos do final de semana e suas sensações presentes. O jogo que fluía como um espaço de lazer que fazia a diferença naquela parte do dia, tão evasiva e que integrava suas naturezas às limitações do universo em que viviam.
E, como as horas que corriam, disparadas contra o sossego daqueles jogadores e peças do jogo, a vida ia passando sem interferências, seguia seu curso livre, quase despercebida, mas não para mim, que anotava todos os movimentos atenta ao ritmo do tempo. A partida estava quase no fim. Minha hora e minha vida também, pois tinha deixado algo preso naquele lugar: minha observação sempre presente no indescritível dia a dia banal que aparentemente não tem graça.
Entre escrever, ouvir e observar como todas as entonações eram amigáveis entre eles, pude fazer um paralelo daquele ambiente com a vida: tudo possui sua intensidade, não importa de que lado se revele.

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