Diretor
da Feira de Frankfurt diz que evento destruiu imagem de Brasil colorido
Artigo publicado na Folha de S.Paulo
RAQUEL COZER
ENVIADOS ESPECIAIS A FRANKFURT
A jornalista estrangeira perguntou, (ingênua) e meio
espantada: "Eu achava que o Brasil era um país alegre, mas ontem ouvi o
Paulo Lins dizer que vocês são tristes. Vocês são alegres ou tristes?".
"Somos os dois", respondeu o presidente da
Biblioteca Nacional, Renato Lessa, em entrevista coletiva que no qual foi
apresentado um balanco oficial da atuação do Brasil como país homenageado na
Feira do Livro de Frankfurt.
"Basta ouvir nossos sambas: as músicas em
geral são alegres, mas as letras muitas vezes são tristes."
Temas como estes, de felicidade e tristeza, dominaram a
entrevista. "A participação brasileira destruiu a imagem que se fazia aqui
na Alemanha de um país colorido no qual ninguém trabalha, que é como 90% dos
alemães viam o Brasil", disse o diretor da feira, Juergen Boos.
A discussão sobre a identidade nacional esteve
diretamente ligada a outro assunto que permeou toda a participação brasileira
no evento alemão: o discurso polêmico do escritor Luiz Ruffato na abertura da
feira.
Renato Lessa defendeu que o conjunto de discursos
brasileiros na cerimonia foi representativo do que é o país. "Ruffato
mostrou nossa resiliência. A Ana Maria Machado (a outra oradora literária da
abertura) fez um convite para nossa literatura. E o (vice-presidente) Michel
Temer falou da Constituição de 1988", relembrou Lessa.
Boos reforçou: "A variedade de discursos mostra
como o Brasil é uma sociedade dinâmica, que reinventa a si própria. A abertura
foi extraordinária: muito literária e muito política".
O diretor da feira e o presidente da BN também foram
instados a falar sobre um tema onipresente da feira: a decisão de Paulo Coelho
de não vir a Frankfurt.
Um jornalista perguntou se a ausência dele teria
ajudado os demais autores a se projetar. "De modo algum a ausência de
Coelho é positiva. Lamentamos que ele, como o autor que mais vende no Brasil,
nao tenha vindo", disse Lessa.
"Do ponto de vista do marketing foi bom para
todos", provocou Boos. "Todos falaram dele, ele deu espaço aos
outros. No ano que vem ele virá", disse o alemão, sem mencionar que fotos
do escritor estavam coladas em todos os microônibus que circulam dentro da
feira e em faixas pela cidade.
A entrevista teve ainda números. Karine Pansa, da
Câmara Brasileira do Livro, sublinhou o aumento de vendas de direitos autorais
para o exterior: de US$ 495 mil, em 2010, para US$ 1,2 milhão, em 2012.
Também foram divulgados, por fim, alguns detalhes sobre
os investimentos feitos pelo poder público (entre diferentes ministérios,
Biblioteca Nacional, Funarte, entre outros órgãos) para a participação do país
na feira. Alegaram que as licitações (realizadas apenas na reta final do
evento) geraram economia de R$ 500 mil, abaixando o custo total previsto de R$
18,9 milhões para R$ 18,46 milhões.
Os números apresentados foram: programação literária
(R$ 4,58 milhões), pavilhão brasileiro (R$ 4,9 milhões), programação cultural
(R$ 5,57 milhões), estande coletivo das editoras (R$ 3,53 milhões).
Segundo Lessa, o Brasil promoveu 226 eventos, entre
exposições, shows, filmes, peças, palestras. Mas, disse ele, outros 425 eventos
relacionados ao país foram promovidos por editoras ou entidades governamentais
da Alemanha.
Juergen Boos comentou que o alto número de eventos fez
com que algo inédito acontecesse nas tradicionais homenagens feitas a cada ano
para um pais na feira. "Nunca um país homenageado havia conseguido
mobilizar absolutamente todas as instituições culturais da cidade, sejam de cinema,
música, arquitetura, design. Foi superlativo".
A nota negativa, segundo o organizador, foi a
dificuldade de ter de lidar com interlocutores diferentes. "Sofremos com
mudanças do governo. Assinamos o contrato da homenagem ao Brasil em 2011. Desde
então foram três ministros da Cultura", disse, referindo-se a Juca
Ferreira, Ana de Hollanda e Marta Suplicy.
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Esse evento foi a grande oportunidade de se mostrar ao menos uma parte da verdadeira face do Brasil, por baixo de toda a maquiagem. O povo precisa despir-se dos estereótipos, precisa ter mais consciência de seu valor e mais atitude e determinação para lutar e construir um país mais justo, mais coerente com suas necessidades. E isso se faz com estudo, trabalho e vontade. Chega de arrumar a sala para as visitas enquanto o quarto de dormir é um chiqueiro. Arrumemos a casa toda.
Esse evento foi a grande oportunidade de se mostrar ao menos uma parte da verdadeira face do Brasil, por baixo de toda a maquiagem. O povo precisa despir-se dos estereótipos, precisa ter mais consciência de seu valor e mais atitude e determinação para lutar e construir um país mais justo, mais coerente com suas necessidades. E isso se faz com estudo, trabalho e vontade. Chega de arrumar a sala para as visitas enquanto o quarto de dormir é um chiqueiro. Arrumemos a casa toda.
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