Mauricio de Sousa: das tiras de jornal à máquina de quadrinhos [Redação Educar]
Foto: Gustavo Scatena |
Você foi um bom aluno?
Mauricio de Souza: Em alguns períodos, sim. Mas, em outros, enfrentei problemas. As mudanças de endereço (e de cidade) me prejudicaram um pouco no primário e no final do ginásio. A necessidade de trabalhar também prejudicou bastante.
Você lembra dos professores?
Mauricio de Souza: Lembro de muitos. Alguns pela eficiência. Outros por métodos fracos de ensino. Mas, no geral, tive muitos bons professores. Fui bem servido em português, história, ciências, francês, geografia... mas nem tanto em matemática.
Algum desses mestres marcou a sua vida?
Mauricio de Souza: Sim, uma das professoras mais marcantes foi Dona Iracema Brasil, que ministrava um curso preparatório para entrar no ginásio. Quando fui estudar com ela, estava meio por baixo, depois de um quarto ano maltratado. Mas Dona Iracema me levantou a moral, usou carinho e psicologia e acabou me transformando num dos melhores alunos da classe e dos primeiros anos do ginásio. Nesse tempo, eu estudava em Mogi das Cruzes, e o colégio era o Washington Luiz.
Como era o ensino quando você frequentou os bancos escolares?
Mauricio de Souza: Melhor e diferente do que é atualmente. Os professores eram personalidades respeitadas e bem posicionadas economicamente na cidade. Consequentemente, podiam se dar mais e melhor para as aulas. Os alunos só lucravam com isso.
Na sua opinião, a tecnologia ajuda o ensino?
Mauricio de Souza: A tecnologia sempre vem para ajudar. Depende do uso que fazemos dela.
E a Turma da Mônica surgiu para ajudar na Educação ou apenas para divertir?
Mauricio de Souza: Nossas historinhas vieram originalmente para entreter e divertir. Mas, com o tempo e a força dos personagens, eu e os professores descobrimos caminhos possíveis na paradidática. Com o auxilio da técnica da narrativa dos quadrinhos e o carisma dos personagens, descobrimos uma forma de ajudar na Educação.
Você tem planos para a Turma da Mônica?
Mauricio de Souza: Fico feliz com a turminha indo para a escola nos livros escolares e trabalho dos alunos, mas está faltando a realização do meu grande sonho: uma série de TV, nos moldes do antigo Vila Sésamo, onde ensinaríamos primeiras letras e números para a turminha que ainda vai entrar na escola. Uma pré-escola pela TV. Faz falta isso neste país.
Qual é a sua maior preocupação em relação à Educação no Brasil?
Mauricio de Souza: É a preparação para a escola. Precisamos melhorar, modernizar sistemas, padrões e estruturas, para poder receber dignamente esta criança moderna, curiosa, esperta e carente de perspectivas.
Você foi um pai fiscalizador, severo ou do tipo mais tranquilo com relação aos estudos dos filhos?
Mauricio de Souza: Não me considero um pai severo quanto aos estudos dos filhos. Mas exigente, sim. Conversamos muito, sempre, e os resultados aparecem.
O que faz uma boa escola e um bom professor?
Mauricio de Souza: Um bom método de ensino faz uma boa escola. Um bom professor é aquele que segue, usa e aperfeiçoa esse bom método.
Qual foi o primeiro livro que chamou a sua atenção?
Mauricio de Souza: Um livrinho simples, de história de fadas, de papel ruim e ilustrações idem. Mas era um livro. Um objeto mágico. Que "falava" comigo.
Qual livro indicaria aos jovens para despertar o gosto pela leitura?
Mauricio de Souza: Ah! Existem tantas opções nos dias de hoje... começando pelas revistas e gibis. Acho que o jovem deve frequentar mais as livrarias, transitar pelas estantes, tentar se interessar por algum título, folhear, pinçar frases em algumas folhas, ver a "orelha" do livro e... seguir o seu instinto. Também há as indicações. Que podem ou não servir. Cada leitor é uma cultura.
Em sua opinião, qual matéria não pode faltar no currículo escolar?
Mauricio de Souza: Informática, que sempre deve ser estudada em profundidade.
O que pode ser feito contra a desvalorização do professor?
Mauricio de Souza: Reciclagem geral. Governos e instituições deveriam mudar o trato com os professores e criar sistemas para aperfeiçoamento da didática.
Os quadrinhos podem ser um caminho para estimular o estudo e a leitura?
Mauricio de Souza: Sim. Foi dessa forma com os meus filhos, comigo e é com milhares de brasileiros.
Como seria a escola de seus sonhos?
Mauricio de Souza: Aquela da esquina do meu quarteirão. Continuação da minha casa. Mistura de carinho com dever.
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