Perdoa-me por me traíres [Mirian Goldenberg]
Artigo publicado Folha S.Paulo
Na minha pesquisa sobre casamento e fidelidade, 60% dos homens e 47% das mulheres disseram que foram infiéis.
Classifiquei os discursos masculinos em cinco tipos principais.
Os "poligâmicos por natureza" dizem que amam e desejam suas esposas, mas não podem trair o próprio desejo de aventura, novidade, sedução. Eles não se sentem culpados por trair, pois consideram que são fiéis à própria natureza.
Os "poligâmicos por oportunidade" dizem que traem em viagens de trabalho, festas de fim de ano: "porque a mulher deu mole", "não consegui dizer não" ,"foi só brincadeira", "foi uma noite só". Eles acreditam que sexo com garotas de programa não é infidelidade.
Os "monogâmicos infiéis" afirmam que não queriam trair, mas tiveram relações extraconjugais em momentos de crise pessoal ou em uma crise do casamento. Eles se sentem culpados até resolver a situação, quando decidem se separar da esposa ou da amante.
Os "monogâmicos fiéis" dizem que não traem suas esposas, pois não querem ser desleais: "Quero que a minha esposa seja também minha amante, minha parceira, minha melhor amiga".
Os "monogâmicos por preguiça" acham que trair dá muito trabalho: "Uma única mulher já exige demais e reclama de tudo, imagina duas?".
Já as mulheres dizem que querem ser únicas para os seus maridos e querem também que eles sejam únicos para elas. Elas dizem que só foram infiéis porque o marido não satisfazia suas necessidades de atenção, escuta, romance, carinho, sexo, intimidade, diálogo, elogios etc.
É óbvio que também encontrei mulheres que traíram por sentir desejo por outro homem, em momentos de crise do casamento ou até mesmo por "pintar uma oportunidade". Mas a maioria justificou a própria infidelidade afirmando que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas pelo marido.
Uma famosa peça de Nelson Rodrigues parece perfeita para os homens que não conseguem satisfazer os incontáveis desejos femininos e, portanto, são considerados os verdadeiros culpados por serem traídos. Eles deveriam, então, assumir a responsabilidade pela infidelidade feminina e pedir a elas (ou até mesmo implorar, como queria o dramaturgo): "Perdoa-me por me traíres".
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