Comportamento racista e a ideologia [Olga Borges Lustosa]
O caso que ocorreu no Peru, envolvendo o jogador do Cruzeiro Tinga, não pode ser considerado uma modalidade de ressentimento entre grupos, foi uma demonstração isolada de conteúdo. Cena de barbárie mesmo, que também aconteceu com o jogador italiano Mário Balotelli, do Milan. Ao tocarem na bola, torcedores emitiam sons imitando macacos. Houve manifestação de apoio aos jogadores lá e aqui. Os jogadores do Milan entraram em campo com palavras anti racismo nas camisas e aqui jogadores famosos usaram todas as mídias para prestarem solidariedade a Tinga, que disse que se pudesse, trocaria todos os títulos por uma vitória na luta contra o preconceito.
Não bastassem os episódios apresentados, eis que vem a público o vídeo em que um parlamentar brasileiríssimo, formado engenheiro agrônomo, no alto de seu terceiro mandato de deputado federal, eleito com 180.403 votos, discursa, infiltrando o racismo quase como uma ideologia, com argumentos conscientes e perversos, como deve ser sua sombria visão de mundo. Exercitar o pensamento crítico é realmente relevante para as questões tanto de preconceito quanto de ideologia política. Havia lido Norberto Bobbio, filósofo e lembro-me de uma frase que marcou-me: “Quem não tem preconceito que atire a primeira pedra”.
Ensinou-me também, que devo ter cautela ao falar do preconceito dos outros, sem antes avaliar o meu. O racismo entretanto, não cai do céu. Vários estudos apresentam uma correlação entre as crenças conservadoras e racismo. Um estudo anterior feito pela Universidade de Ontário já revelava uma ligação entre as pessoas de QI baixo e maior incidência de preconceito, ou devemos adotar o discurso de Rousseau, que sustenta que a natureza fez os homens bons e iguais, mas as condições de vida os tornaram desiguais, ou ainda acreditar no príncipe dos filósofos não igualitários, Nietzsche, para quem o homem é por natureza mau e desigual e apenas a sociedade com seus freios morais é que poderia torná-los iguais.
Basta dar uma olhada nesse imenso planeta para perceber como é longo o caminho que se deve percorrer para enfrentar as lutas que estão por vir. O mundo não está pronto para ser o paraíso e a possibilidade de um atalho mais ajustado à vida humana decente, vai se perdendo com fatos como esses. As eleições se aproximam. É bom acompanhar o desempenho eleitoral do deputado gaúcho e, se nada mudar, resta-nos a descrença de não mais nos sentirmos em casa nesse espaço que nos cabe no planeta. Vou sentir-me ameaçada na situação desconfortável de exilada.
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