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PARA ALÉM DAS ROSAS, DAS JOIAS E ABRAÇOS, SEMPRE A DIGNIDADE! FELIZ DIA DAS MULHERES!

Para além das rosas, das joias e abraços, sempre a dignidade! Feliz Dia das Mulheres!

Oito de março é a data, mundialmente, oficializada para comemorar, para celebrar a luta das mulheres por igualdade de direitos. Não é um dia organizado, apenas, para as mulheres receberem flores, presentes ou congratulações, não é um dia, apenas, para receber mimos, mas um dia para pensar, refletir e reconhecer a mulher como sujeito de sua própria história, possuidora da liberdade de “ser”, inerente a qualquer ser humano.

Como outras datas repletas de símbolos, o Dia da Mulher vem sendo, paulatinamente, mercantilizado, mesmo sendo uma das poucas datas que não foi criada pelo comércio. Também é uma das datas ou, talvez, a única em que todos os dias existem movimentos e ações subjetivas (ou não) que promovem a sua desconstrução. Cabe lembrar que essas ações, igual a todas as ações, tem sua gênese e fim em ideias políticas, em pré conceitos que se estruturam e ganham forma de acordo com os passos em que a humanidade caminha e, quem determina, quem dita o rumo e a velocidade desses passos e para onde vão, são os sujeitos que detêm o poder de direcionar. Numa sociedade patriarcal e evidentemente machista, esse poder é masculino.

O filósofo, teórico político e orador irlandês, Edmund Burke, afirmou em um de seus discursos que “um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Nesse contexto, é necessário que a sociedade, as mulheres, instituições e sistemas, tenham com pauta nas escolas, nas cátedras, nos discursos religiosos e políticos, a longa história de lutas das mulheres e reconheçam, de forma concreta, a igualdade de gêneros. É preciso que a mulher se aproprie de toda essa historicidade e tenha como ferramenta, não para se sobrepor numa infantil e midiática “guerra dos sexos”, mas para restabelecer a antiga ideia da matrilineraridade, que não colocava a mulher acima dos homens, mas estabelecia seu papel de igualdade e importância na sociedade.

Merlin Stone (1931-2011), autora, artista e uma importante pensadora norte americana da teologia feminista, realizou uma extensa pesquisa que durou quase uma década. Debruçando-se sobre os séculos nos quais as mulheres eram priorizadas e respeitadas na sociedade, comportamento intensamente refletido na religião e nos cultos desde a pré-história, evidenciou e publicou no livro intitulado: “Quando Deus era Mulher”, lançado no Reino Unido em 1976, a forma como as mulheres foram sendo apagadas e silenciadas com o passar dos anos até “sentirem na pele, completamente, as dores e o peso de apenas existirem”, tendo que se desdobrar em várias para concluir suas tarefas e, ainda, lidar com a violência de gênero de uma sociedade patriarcal e misógina que não só pratica esses crimes, mas, também, influencia outros a praticarem e perpetuarem esse comportamento. Segundo Merlin, esse “apagamento” da figura feminina, iniciou há 1500 a.c, através de um processo político e religioso que as reduziu, principalmente pela cultura hebraica que pregou e instituiu um Deus patriarcal, em seres pecadores, sujos, endemoniados e frutos da desobediência (as filhas de Eva). Nota-se que, desde então, são 3.500 anos de uma cultura de submissão, com raros momentos na história em que algumas mulheres, emponderadas, tiveram o mesmo poder de decisão que os homens.

Olhando para esse passado, livres dos conceitos pré concebidos, livres dos dogmas religiosos, embora, para a cultura cristã, o fato de Cristo ter nascido de uma mulher e a atitude de Cristo para com as mulheres, observado, a exemplo, no tratamento dispensado a “Maria” sua mãe, a “Samaritana no poço de Jacó” ou a “Maria Madalena”, tenham devolvido uma certa dignidade, uma igualdade citada muitas vezes na Bíblia, como em Romanos 2:11 “Pois em Deus não há parcialidade” ou em Gálatas 3:28 “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”, essa igualdade não prevaleceu de fato na sociedade e faz parte da hipocrisia rotineira e cotidiana dos cristãos machistas.

A luta pela justiça para gênero feminino, apesar de ser oficializada no calendário mundial há menos de 50 anos, já existe há centenas e centenas de anos, desde a Idade Média. Essas conquistas são, diante de anos de luta, relativamente novas e é por isso que essa celebração é tão importante. É necessário lembrar que essa data não é um presente dado as mulheres devido a virtuosidade dos homens. Desde a idealização em 1910, pela marxista alemã Clara Zetkin que defendeu a criação de uma mobilização anual, durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em Copenhague-DK, onde discutiam e buscavam direitos igualitários, demorou mais de 60 anos para ser oficializada. A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o ano de 1975 o Ano Internacional da Mulher. Ações e jornadas por todo mundo foram desenvolvidas pela entidade para promover a igualdade de gêneros e a proteção dos direitos das mulheres, mas só em 1977, oficializou a data 08 de março como o Dia Internacional da Mulher.

Sobre a data, 08 de março, existem quatro marcos importantes do início do século para sua instituição: Em 1909, dois anos antes do incêndio, as mulheres nova-iorquinas que trabalhavam na fábrica têxtil haviam feito uma greve, reivindicando melhores condições de trabalho e o voto feminino. Em conjunto com os nascentes sindicatos e com o Partido Socialista da América, elas se reuniram em uma passeata que reuniu cerca de 15 mil mulheres. A fábrica, na época, recusou as reivindicações; Em 1910, foi a indicação de um dia anual de mobilização para a busca dos direitos igualitários, feita na II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em Copenhague-DK; Em 1911 mesmo diante de greves e manifestações, a "Triangle Shirtwaist Company" ainda mantinha suas funcionárias — maior parte de sua força de trabalho —, em uma jornada de trabalho de cerca de 14 horas ao dia, em semanas que ultrapassavam as 60 horas — e eram remuneradas com 6 a 10 dólares. Além da redução dessa jornada, as trabalhadoras também buscavam mais segurança no ambiente de trabalho, que tinha risco de incêndio por tecidos inflamáveis. Em 25 de março daquele ano, a reivindicação das mulheres se tornou inegável e justificada. A fábrica pegou fogo naquele dia e, dos 600 funcionários, 146 pessoas morreram, sendo 23 homens e 129 mulheres. Diante da fatalidade das trabalhadoras, o mês de março ficou marcado na história como uma conscientização do desastre; Em 1917, no dia 8 de março, milhares de russas se reuniram em uma passeata, um protesto que ficou conhecido como “Pão e Paz”, pedindo os direitos para o gênero feminino, bem como o fim da guerra e do desemprego. Assim, nos anos seguintes, o Dia das Mulheres continuou a ser celebrado naquela data pelo movimento socialista, na Rússia e nos demais países do bloco soviético.

É preciso entender e se conscientizar que, praticamente, todos os direitos antigos e recentes, só foram adquiridos através de lutas, de mobilizações, de mortes... E que para mantê-los é preciso a mesma conscientização e a mesma dedicação. Para sociedade e, principalmente, para as mulheres, que na maioria imensa de toda a história da humanidade, foram consideradas divinas e tratadas com igualdade, esse resgate de sua dignidade perdida nesses 3.500 anos, precisa não só ser mantido, mas aumentado e vivido na concretude. 08 de março, mais que um dia de comemoração, deve ser um dia de reflexão, de estímulo e renovação de energias para que se mantenha viva essa chama que impele a lutar.

Para além das rosas, das joias e abraços, sempre a dignidade! Feliz Dia das Mulheres!


Daufen Bach. Nascido em 1973 na cidade de Ivaiporã, no Estado do Paraná. Hoje reside na cidade de Novo Mundo-MT. É educador lotado na Secretaria Estado de Educação de Mato Grosso. Ocupou cargo de Secretário Municipal de Educação e, também, Secretário Municipal de Administração. Publicou os livros de poesias: “Breves Encenações, Sobressaltos”, pela Editora Biblioteca 24 horas; “Tessituras [do intervalo entre o grito e o silêncio]”, pela plataforma Perse, "No mar de teus olhos (como jardins florescidos no outono)", pela Editora Kelps e participou de diversas antologias, entre elas a “Antologia Internacional “Planeta em Versos”, publicado pela Editora Letras em Cores. Muitos de seus poemas foram publicados em revistas, impressas e digitais, tanto nacionais, quanto internacionais. Possui poemas traduzidos e lidos em diversos países da América Latina e em alguns países da Europa, Ásia, Oceania e África. É “Cônsul dos Poetas del Mundo”, uma associação internacional de poetas com sede no Chile, desde o ano de 2007. É dono e editor de uma Revista Literária Internacional on line, intitulada Revista Biografia.

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