O
ocaso do maior escritor do século 20
Demência senil impede
Gabriel García Márquez de reconhecer familiares e amigos íntimos
Por Marco Lacerda*
O escritor Gabriel García
Márquez perdeu definitivamente a memória. Pelo menos esta é a conclusão a que
chegaram os meios de comunicação colombianos depois de uma entrevista do autor,
terça-feira passada, ao jornalista Plinio Apuleyo, seu amigo íntimo. Depois de
duas horas com Gabo, o jornalista revelou que a demência senil já não permite
ao escritor escrever e sequer reconhecer familiares e amigos próximos.
“Nas últimas vezes que
conversamos pessoalmente, na Cidade do México, ele repetiu várias vezes: ‘Como
anda você? O que tem feito? Quando volta de Paris’? Muitos amigos comuns com
quem falei sobre o assunto disseram que com eles aconteceu a mesma coisa. Gabo
fez as mesmas perguntas. Existe a suspeita de ele tenha algumas fórmulas. Se
não reconhece alguém, não pergunta ‘quem é você’?. Prefere fazer perguntas
genéricas. Dói muito vê-lo assim. Gabo sempre foi um grande amigo”, disse
Plinio Apuleyo.
Há pelo menos cinco anos a
deterioração da saúde de García Márquez tornou-se pública. Os primeiros sinais
foram dados quando ele renunciou a continuar escrevendo suas memórias (“Viver
para contá-la”, primeiro volume de uma trilogia frustrada) e enfrentou a morte
de um irmão. Pouco antes o escritor tinha sido vítima de um linfoma do qual
saiu intacto.
Em 2007, quando o
Congresso do Idioma celebrou em Cartagena de Índias, na Colômbia, os 40 anos da
publicação de “Cem anos de solidão”, García Márquez, pai do cineasta Rodrigo
García, se deixou ver sorridente e feliz, vestindo um terno de linho branco. Em
nenhum momento, porém, falou em público nem concedeu entrevistas. Nesta época
surgiram os primeiros rumores sobre os lapsos de memória do Prêmio Nobel de
Literatura de 1982.
No mesmo ano, o escritor
britânico Gerald Martin escreveu a biografia oficial de Gabo, “Uma vida”, na
qual se pode ler, nas entrelinhas, a notícia velada da enfermidade do autor:
“Ele era capaz de recordar a maioria das coisas do passado distante, embora
tivesse dificuldade em recordar os títulos de seus livros. Mas mantivemos uma
conversa normal, até divertida”, diz Martin.
Há um ano, alguns meios de
comunicação chegaram a anunciar que Márquez estaria em vias de morrer em Paris.
Sua mulher, Mercedes, e sua agente literária, Carmen Balcells, desmentiram a
notícia. Gabo não estava em apuros nem estava em Paris. Permanecia em sua casa
no México. Há poucos meses a família divulgou uma foto tirada na festa dos 85
anos do autor.
Nos tempos de sua pródiga
produção literária Gabriel García Márquez brindou o mundo com uma coleção de
obras primas, que o tornaram, na opinião de muitos o maior escritor do século
20. Entre elas se incluem “Ninguém escreve ao coronel”, “Crônica de uma morte
anunciada”, “O outono do patriarca”, “O amor nos tempos do cólera”, “Cheiro de
goiaba”, “O general em seu labirinto”, “Do amor e outros demônios”, além de uma
vasta obra como jornalista e cronista.
Dez frases
“Um único minuto de
reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade”.
“O segredo de uma velhice
agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”.
“A sabedoria é algo que,
quando nos bate à porta, já não serve para nada”.
“O sexo é o consolo que a
gente tem quando o amor não nos alcança”.
“Aprendi que um homem só
tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a
levantar-se”.
“Não passes o tempo com
alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo”.
“Te amo não por quem tu
és, mas por quem sou quando estou contigo”.
“Nunca deixes de sorrir,
nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar
por teu sorriso”.
“Dou valor as coisas, não
por aquilo que valem, mas por aquilo que significam”.
“O problema do casamento é
que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a
reconstruí-lo todas as manhãs, antes do café”.
*Marco Lacerda é
jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total. Artigo escrito com base em
informações do jornal espanhol El Mundo e de agências de notícias.
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