A
internet e a obsessão por textos longos
Numa reação ao minimalismo
do Twitter, a moda é abusar da paciência do leitor com uma verborragia
incontrolável
A proliferação de textos
fragmentados e superficiais na internet provocou outra praga igualmente
irritante: as divagações intermináveis disfarçadas de post. Longo virou
sinônimo de bom. Há sites e páginas em redes sociais dedicados a reunir textos
longos sobre os mais variados temas. O fetiche é mais importante do que o
conteúdo. Numa época em que a maioria lê pouco e mal, enfrentar um texto longo
e compartilhá-lo é uma espécie de troféu. Um sinal de resistência aos tempos de
fragmentação.
Nada contra leituras de
fôlego - muito pelo contrário. Mas tenho deparado frequentemente com textos
longos demais. A impressão é que escrever muito virou obrigação para qualquer
um que quer ser levado a sério. O resultado? Para não ser confundido com um palpiteiro
virtual, quem quer compartilhar uma ideia simples se vê forçado a dar voltas em
torno do próprio rabo, fazer rodeios e desperdiçar o tempo do leitor até chegar
à ideia central do texto, escondida lá pelo décimo parágrafo. Outros decidem
fazer o mesmo e a timeline alheia é infestada por textos
"definitivos" sobre a polêmica do momento, um mais divagante do que o
outro. Até no Twitter há quem seja prolixo. 140 caracteres são uma imensidão
para quem não tem nada a dizer.
Talvez seja a hora de
redescobrir a concisão. Escrever muito ou pouco é o de menos. O que importa é
ir direto ao assunto. Eu ia incluir aqui um parágrafo sobre a importância das
narrativas curtas na literatura e sobre como Tolstói soube dar o tamanho
perfeito tanto para Guerra e paz (mais de 1500 páginas) quanto para A morte de
Ivan Ilitch (menos de 100). Decidi cortar o trecho para este texto não ficar
longo demais.
No cotidiano, são raras as
ideias complexas o bastante para precisarem ser divididas e explicadas em
dezenas de parágrafos. Ideias curtas pedem textos curtos. Mesmo se o que o
autor tem a dizer for uma bobagem, ao menos ele terá economizado o tempo do
leitor.
Danilo
Venticinque -Editor de livros de ÉPOCA
Conta com a
revolução dos e-books para economizar espaço na estante e colocar as leituras
em dia. Escreve às terças-feiras sobre os poucos lançamentos que consegue ler,
entre os muitos que compra por impulso
Twitter:
@daniloxxv
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