Como (não) arruinar a sua
carreira na Amazon
Nós temos ouro nas mãos,
mas, como parece ser tradição histórica do brasileiro, nós agimos muito mal
quando temos ouro nas mãos. A Amazon se tornou mais um caminho alternativo que
pode levar um autor ao sucesso, e muita gente está estragando uma chance de
fazer algo revolucionário na história da literatura. Antes de sofrer qualquer
acusação: eu não sou contra auto-publicação – tendo eu mesmo participado de uma
antologia por essa forma. Porém, não é segredo que esse é o caminho mais
difícil, que exige muito mais de empenho do escritor do que simplesmente
construir uma história que o agrade. Bem, como assim? Ser auto-publicado não é
moleza, como pode parecer pra alguns. Você mesmo vai ficar responsável pelo
copydesk, revisão, diagramação, capa, texto de orelha, sinopse etc. Toda a
parte editorial da coisa. Segundo ponto, você vai precisar de marketing. Nesse
texto, estou falando com você, que quer ser escritor profissional, alcançar
milhões de leitores e viver de literatura. Se você escreveu um livro pra dar
pros amigos, sobre como você conheceu sua esposa, esqueça o que eu estou
dizendo.
O primeiro erro, antes de
qualquer coisa, é achar que você é tão exacerbadamente bom que não precisa de
nenhuma edição no seu texto. Tudo nele faz sentido. Tudo nele se encaixa, e
nada poderia ser mais bem dito, melhor desenvolvido, melhor demonstrado. Todos
os escritores de sucesso em que você se inspirou, meu amigo, passaram por um
leitor crítico antes que o ajudou a visualizar o que era e o que não era bom
para a história. Além de uma boa revisão do português, porque erros em
concordância, pontuação etc. s ão vergonhosos em qualquer livro, seja publicado
por editora ou independente – embora os autores independentes tenham uma
recorrência maior, o que faz valer o comentário. Ainda falando sobre o que pode prejudicar sua
imagem, gostaria de dizer que arrogância é algo fora de cogitação para o autor
independente. Quando você estiver com um número enorme de leitores e uma conta
bancária gorda o suficiente, aí você pode dar uma de narizinho e ignorar
conselhos – ainda que muitas vezes eles sejam bons. Por hora, agradeça que as
pessoas estão criticando, ajudando a melhorar (não, não digo pra baixar a
cabeça pra quem xinga até sua mãe porque não gostou do texto, mas você
entendeu).
O segundo erro – e o mais
comum e também o que mais frustra aos escritores – é pensar que seu livro
disponível na Amazon é o suficiente para te tornar o mais vendido do Brasil.
“Ah, meu livro está na Amazon, então eu não preciso fazer nada, posso trabalhar
daqui de casa, se precisar”. Não tenho a menor ideia de onde tiram que a Amazon
sempre esteve esperando pelo seu livro, e que os leitores que compram por lá
estiveram ansiosos o aguardando e que na semana seguinte você vai ter uma
coluna fixa na Veja. É bem verdade que, estando numa editora, comercial ou
tradicional, ou então publicando de forma independente na Amazon ou no Clube de
Autores, é preciso se divulgar. Será parte de sua rotina contatar blogueiros,
participar de eventos, fazer sorteios, promoções, bate-papos, noites de
lançamento e tudo que qualquer outro autor precisa fazer. Estar publicando por
uma ferramenta online não coloca nenhum profissional na posição de Deus, que
pode fazer o que quiser quando bem entender. Você não escreveu o livro para os
seus leitores? Cuide deles, saiba quem são, mantenha-os conectados a você.
É mais do que hora de
profissionalizar a coisa. Autores independentes podem sim chegar muito longe,
mas é preciso esforço. Não estou falando dos autores em geral, mas muitos –
muitos mesmo – estão tratando a Amazon como um blog. “Ah, escrevi um texto,
ficou até que legal, vou tentar vender lá”. Vender um trabalho é coisa séria.
Alguém que pagou pra ler algo que você escreveu vai querer algo de qualidade, e
se não obtiver é a sua imagem que fica prejudicada. São muitas as reclamações
de divulgações excessivas em redes sociais, de textos que não estavam prontos
para publicação (cheios de ‘KKK’ ou ‘vrummmm’ para representar o arranque do
carro). Autores que estão colocando a cara tapa precisam ter respeito consigo
mesmo e com a sua criação. Se tudo continuar do mesmo jeito, o apreço pelo novo
autor da Amazon vai ser equivalente ao apreço que alguns autores que publicaram
por editoras comerciais: quase nulo. Virem o jogo. Trabalhem em boas obras.
Vocês têm ouro nas mãos: façam uma coroa, não grilhões dourados.
Augusto Assis - Redator
Fã de literatura policial, Augusto trabalha em seu primeiro romance do
gênero. Participou de duas antologias e escreve dicas para escritores,
além de curiosidades e artigos.
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