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Eduardo Galeano nasceu de
uma família de classe média, de formação católica. Seus pais eram descendentes
de europeus. Seu sonho era ser jogador de futebol, mas acabou exercendo
trabalhos diferenciados, como caixa de banco e datilógrafo.
Na década de 60, começou a
exercer a carreira de jornalista, sendo editor do jornal “Marcha”, ao lado de
colaboradores como Vargas Llosa e Mario Benedetti.
Nos anos 70, com regime
militar no Uruguai, foi perseguido pela publicação de seu livro “Veias Abertas
da América Latina”(1971), livro no qual o autor analisava a história da América
Latina, do colonialismo ao século 20. Exilado por sucessivos golpes, lançou na
Espanha o livro “Memória do Fogo”.
Eduardo Galeano voltou ao
Uruguai em 1985. É atuante em prol das políticas de esquerda no continente
sul-americano. Seu livro “Veias Abertas da América Latina” chegou ao conhecimento
do Presidente norte-americano Barack Obama.
Em 2006, Eduardo Galeano
ganhou o prêmio Internacional de Direitos Humanos através da Global Exchange,
instituição humanitária americana.
É autor de vários livros,
traduzidos em mais de vinte países, e de uma vasta obra jornalística. Recebeu o
prêmio Casa de Las Américas em 1975 e 1978, e o prêmio Aloa, promovido pelas
casas editoras dinamarquesas, em 1993. A trilogia Memória do fogo foi premiada
pelo Ministério da Cultura do Uruguai e recebeu o American Book Award
(Washington University, EUA) em 1989. Em 1999, Galeano foi o primeiro autor
homenageado com o prêmio à Liberdade Cultural, da Lannan Foundation (Novo
México). É autor de De pernas pro ar, Dias e noites de amor e de guerra,
Futebol ao sol e à sombra, O livro dos abraços, Memória do fogo (que engloba Os
nascimentos, As caras e as máscaras e O século do vento), Mulheres, As palavras
andantes, Vagamundo, As veias abertas da América Latina e Os filhos dos dias
(todos pela L&PM Editores).
Eduardo Galeano
(Eduardo Hugues Galeano;
Montevideo, 1940) Escritor y periodista uruguayo cuya obra, comprometida con la
realidad latinoamericana, indaga en las raíces y en los mecanismos sociales y
políticos de Hispanoamérica.
Se inició en el periodismo
a los catorce años, en el semanario socialista El Sol, en el que publicaba
dibujos y caricaturas políticas que firmaba como Gius. Posteriormente fue jefe
de redacción del semanario Marcha y director del diario Época. En 1973 se
exilió en Argentina, donde fundó la revista Crisis, y en 1976 continuó su
exilio en España.
Livros
Los días siguientes (1963)
China (1964)
Guatemala (1967)
Reportagens (1967)
Los fantasmas del día del
léon y otros relatos (1967)
Su majestad el fútbol
(1968)
As veias abertas da
América Latina (1971)(P)
Siete imágenes de Bolivia
(1971)
Violencía y enajenación
(1971)
Crónicas latinoamericanas
(1972)
Vagamundo (1973)(P)
La cancion de nosotros
(1975)
Conversaciones con Raimón
(1977)
Días y noches de amor y de
guerra (1978)(P)
La piedra arde (1980)
Voces de nuestro tiempo
(1981)
Memória do fogo - trilogia
- (1982-1986)(P)
Aventuras de los jóvenes
dioses (1984) Ventana sobre Sandino
(1985)
Contraseña (1985)
El descubrimiento de
América que todavía no fue y otros escritos (1986)
El tigre azul y otros
artículos (1988)
Entrevistas y artículos
(1962-1987) (1988)
O Livro dos Abraços
(1989)(P)
Nós Dizemos Não (1989)
América Latina para
entenderte mejor (1990)
Palabras: antología
personal (1990)
An Uncertain Grace com
Fred Ritchin, fotos de Sebastião Salgado (1990)
Ser como ellos y otros
artículos (1992)
Amares (1993)
Las palabas andantes
(1993)(P)
úselo y tírelo (1994)
O futebol ao sol e à
sombra (1995)(P)
Mulheres (1997) (P)
Patas arriba: la escuela
del mundo al revés (1998)(P)
Bocas del Tiempo (2004)(P)
O Teatro do Bem e do Mal
(2002)(P)
Espelhos - uma quase
história universal (2008)(P)
Hoje as torturas são
chamadas de “procedimento legal”, a traição se chama “realismo”, o oportunismo
se chama “pragmatismo”, o imperialismo se chama “globalização” e as vítimas do
imperialismo se chamam “países em via de desenvolvimento” . O dicionário também
foi assassinado pela organização criminosa do mundo.As palavras já não dizem o
que dizem ou não sabemos o que dizem.”
Eduardo Galeano
Os Ninguéns
As pulgas sonham em
comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de
sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje,
nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que
os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé
direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de
ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns,
correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas,
falam dialetos.
Que não praticam
religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem
artesanato.
Que não são seres humanos,
são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm
folclore.
Que não têm cara, têm
braços.
Que não têm nome, têm
número.
Que não aparecem na
história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam
menos do que a bala que os mata.”
Eduardo Galeano
O direito a sonhar
O que acham se delirarmos
um pouquinho?
O que acham se fixamos
nossos olhos mais além da infâmia, para imaginarmos outro mundo possível.
Tente adivinhar como será
o mundo depois do ano 2000. Temos apenas uma única certeza: se estivermos
vivos, teremos virado gente do século passado. Pior ainda, gente do milênio
passado.
Sonhar não faz parte dos
trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas,
se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior
parte dos direitos morreria de sede. Deliremos, pois, por um instante. O mundo,
que hoje está de pernas para o ar, vai ter de novo os pés no chão.
Nas ruas e avenidas,
carros vão ser atropelados por cachorros.
O ar será puro, sem o
veneno dos canos de descarga, e vai existir apenas a contaminação que emana dos
medos humanos e das humanas paixões.
O povo não será guiado
pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado,
nem visto pela TV. A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família,
para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.
Vamos trabalhar para
viver, em vez de viver para trabalhar.
Em nenhum país do mundo os
jovens vão ser presos por contestar o serviço militar. Serão encarcerados
apenas os quiserem se alistar.
Os economistas não
chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a
quantidade de coisas.
Os cozinheiros não vão
mais acreditar que as lagostas gostam de ser servidas vivas.
Os historiadores não vão
mais acreditar que os países gostem de ser invadidos.
Os políticos não vão mais
acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.
O mundo não vai estar mais
em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza. E a indústria militar não vai
ter outra saída senão declarar falência, para sempre.
Ninguém vai morrer de
fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.
Os meninos de rua não vão
ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua. Os
meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão
existir meninos ricos.
A educação não vai ser um
privilégio de quem pode pagar por ela.
A polícia não vai ser a
maldição de quem não pode comprá-la.
Justiça e liberdade,
gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem
juntinhas, ombro a ombro.
Uma mulher - negra - vai
ser presidente do Brasil, e outra - negra - vai ser presidente dos Estados
Unidos. Uma mulher indígena vai governar a Guatemala e outra, o Peru.
Na Argentina, as loucas da
Praça de Maio vão virar exemplo de sanidade mental, porque se negaram a
esquecer, em tempos de amnésia obrigatória.
A Santa Madre Igreja vai
corrigir alguns erros das Tábuas de Moisés. O sexto mandamento vai ordenar:
"Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, vai declará-lo
sacro.
A Igreja vai ditar ainda
um décimo-primeiro mandamento, do qual o Senhor se esqueceu: "Amarás a
natureza, da qual fazes parte". Todos os penitentes vão virar celebrantes,
e não vai haver noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que
não seja vivido como se fosse o primeiro.
“Há aqueles que crêem que
o destino descansa nos joelhos dos deuses, mas a verdade é que trabalha, como
um desafio candente, sobre as consciências dos homens.”
Eduardo Galeano Todos os direitos autorais reservados ao autor.
Eduardo Galeano [Jornalista e Escritor Uruguaio]
Reviewed by Revista Biografia
on
maio 18, 2014
Rating: 5
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