O Brasil só terá futuro quando pararmos de olhar para trás [Ismael dos Anjos]
Artigo publicado no site Papo de Homem
Entre os dias 07 e 08 deste mês de Abril, estive em Porto Alegre para participar do 27º Fórum da Liberdade, evento criado pelo Instituto de Estudos Empresariais – entidade porto-alegrense voltada para a formação de jovens lideranças.
Pergunta: A gente vive uma lógica econômica que foi pensada por estudiosos e pessoas que estavam em cargos diretivos voltados para isso. O senhor acredita em soluções compartilhadas? Soluções diferentes para os mecanismos que já existem?
* * *
Temos novas soluções, mas tanto quem está no Estado quanto quem comanda o leme do mercado financeiro parece mais interessado em requentar os debates de sempre sobre tipos de governo, sistema tributário, burocracia e infraestrutura do que encarar o fato de que, sob novas lógicas de organização e interação social em redes distribuídas, o pensamento disruptivo – como o movimento de desescolarização – pode alcançar as estradas, os portos e até mesmo a democracia tal como a conhecemos.
Vamos lá: bancos trabalham de mãos dadas com o governo. Modelos tradicionais de segurança, transporte, saúde e educação sofrem com corrupção, ineficiência e a constante fricção entre o que é atribuição pública e o que é particular. Ao mesmo tempo, comunidades que unem pessoas e exploram novos caminhos florescem, como os serviços educativos Duolingo, Cinese e Coursera.
Se o liberalismo é um tipo de cooperação voluntária em que indivíduos trocam coisas para benefícios mútuos, por que não enxergar percursos como o da substituição das licenças de copyright por creative commons, o financiamento coletivo de Kickstarter e Catarse e a entrega de tempo para o desenvolvimento de plataformas sem fins lucrativos feito a Wikipedia como manifestações de um novo tipo de ordem econômica?
Vislumbrar as coisas em graus e reconhecer que já existem mais escolhas do que entre as mãos visíveis e invisíveis do Estado na economia me parece mais honesto intelectualmente e bem mais desafiador.
Entre os participantes do Fórum que assisti e aqueles com os quais conversei, o CEO do Liberty.me e anarco-capitalista declarado Jeffrey Tucker foi o único que se mostrou realmente disposto a procurar novas soluções para os paradigmas que nasceram junto com este século:
Quando os reguladores dos Estados Unidos eliminaram o Napster, eles pensavam que haviam eliminado a corrente de troca de arquivos, mas o que eles fizeram foi propagandear a tecnologia para o mundo inteiro.
Não existe filme que já tenha sido feito que você não pode baixar por algum torrent. Todo mundo sabe, e por que isso existe? Porque são indestrutíveis. São maiores e mais poderosos que governos. Isso é gigantesco para a causa da liberdade humana. Pela primeira vez nós temos uma instituição que pode sempre e de qualquer lugar superar intelectualmente a habilidade do governo de controlá-la.
Jeffrey mostra a gravata de caveira com dois ossos cruzados, uma referência ao Partido Pirata. “Você acredita neles? Sim, pirataria é liberdade. Eles são heróis”.
Jeffrey acredita que o Estado que conhecemos não pode durar por que regula o passado (cita os serviços de correios como exemplos de instituições anacrônicas), e que em um mundo com internet e impressoras 3D não há chance alguma para a propriedade intelectual, algo bem caro à maior parte das pessoas com quem dividiu o palco:
Em 50 anos as pessoas vão estar rindo de patentes e copyrights. A internet é uma gigantescas máquina de cópias, e é isso que ela faz melhor.
A propriedade intelectual pertence a uma era diferente. Quando eles inventaram o barco à vapor: ok, você pode fazer uma patente e talvez defendê-la por alguns anos. Mas com a velocidade da informação hoje isso não tem chance, então apenas esqueça. É bobo. O mundo se movimenta muito rápido, é muito criativo, muito inovador, muito competitivo.
Nesse contexto de mobilidade, não existem respostas definitivas. Mas existem bons exemplos verticais e horizontais que merecem uma olhada mais crente mesmo de quem não acredita em outros caminhos, em mundos alternativos ou em vida extraterrestre.
A social democrata Suécia desinchou. Diminuiu os gastos públicos de 63% do produto interno bruto em 1993para 49% em 2013, ajustou a previdência para um sistema mais adequado à população que está envelhecendo e criou um sistema de vouchers para a educação e a saúde que coloca o privado para competir com o público.
Na vizinha Islândia, um grupo de 25 cidadãos apresentou uma proposta de Constituição construída onlinepor centenas de pessoas para substituir a legislação de 1944.
Na Grã Bretanha, terra que tem a Libra como referência de moeda segura, o movimento Positive Money quer democratizar o dinheiro tirando o poder de emissão de divisas do sistema bancário – mesmo sem alçar o Bitcoin e similares à condição de salvadores da lavoura. A proposta é desatrelar a criação de dinheiro da criação de débito, e entregar a grana para a economia real antes do mercado financeiro.
Não importa se eu e você acreditamos em direita, esquerda, Estado forte, livre mercado ou abolimos essa delimitação do vocabulário. Está na hora de começarmos todos a deixar de enxergar o presente e o futuro com os olhos do passado.
Ismael dos Anjos-É mineiro, jornalista, devoto de Hunter Thompson e viciado em internet. Quanto mais abas abertas, melhor.
Nenhum comentário
Postar um comentário