Anônimos e belos! A poesia detrás das janelas. (Publicação I - Poeta Daufen Bach)
É comum ver em algumas revistas
literárias e alguns jornais, dar ênfase aos dez melhores poemas de alguns
famosos como, Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de
Andrade, Paulo Leminski, Mário Quintana, Manoel de Barros e por
ai vai...
E como fica aqueles que não são
tão famosos ou, não tão divulgados?
Então vamos começar a publicar aqui
na Revista uma série de bons poemas de poetas ainda não
reconhecidos pela mídia e que, nem por isso, deixam de serem grandes.
Poesia faz bem para a
alma, para o coração, para a vida! Muitos acham enfadonho ler poesia por não
conseguirem interagir com o poema e identificar onde o poeta pretende chegar, mas
como diz Mário Quintana: "Um
bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a
gente a ele!"
Espero trazer para vocês, leitores,
poemas e poetas que encantam e emocionam com a sua lírica de poeta.
Começamos pelo editor da Revista
Biografia, daufen bach.
daufen bach. Escritor,
Poeta, Jornalista, Professor, Editor, Promotor Cultural e funcionário público
do Estado de Mato Grosso. Publicou dois livros de poesias: “Breves encenações,
sobressaltos” e“Tessituras – do intervalo entre o grito e o silêncio”.
Participou de várias antologias e foi publicado em revistas e sites nacionais e
internacionais. Possui textos traduzidos
para vários idiomas e publica em blogs de literatura.
Com mais de 20 livros ainda inéditos,
daufen tem dom de cantar poesia como ninguém. Com uma impressionante diversidade
de temas, passeia por temáticas diferentes que variam desde os versos da poesia
lírico-amorosa ao universo da poesia concreta. Ele baila com as palavras,
versando encantadoramente, nos levando a sonhar, a desejar... É uma poesia em forma de paisagem, livre, trabalhada nos mínimos detalhes, seja no uso da licença poética, no esmero das metáforas, seja na estrutura dos versos no poema.
Digo com toda certeza que é um
trabalho único e fascinante de um poeta que brinca com as palavras como um menino
trazendo paz no coração e iluminando a todos com sua luz única.
Escolhi, para apresentar, dez poemas deste autor que tem o dom de seduzir com as palavras. Venha comigo, vamos viajar em cada verso, tenho certeza que
irão se emocionar e encontrar um mundo sem fronteiras, deixando um gosto de
quero mais ao final de cada delicioso poema.
Boa leitura!
Rachel Brice: dança do ventre tribal
“Rubro...
como vinho tinto”
(...)Amor
é primo da morte,
E
da morte vencedor,
Por
mais que o matem (e matam)
A
cada instante de amor.
[Carlos
Drumonnd de Andrade.
As sem-razões do
amor]
sou o vinho tinto
que manchou o teu vestido branco
e desceu pelos teus seios,
como filete de desejo que não tatua
a pele,
mas queima e arde...
deste-me todos os fios de tuas
vestes
e busquei o segredo de tua
sensualidade.
namorei
o teu corpo nu
e
com os olhos,
que
não avistam o fim,
com
a febre de quem luta,
estando
da morte para a vida,
gozei
os meus gostos mudos
e
o que pouco sei,
descobri
não saber...
fiz-me rastro e jornada em tuas
veredas e sendas.
erótico,
erotizado,
brinquei
em teus mamilos.
prendi-os
entre os meus dedos,
acariciei-os.
teu
corpo,
líquido
se fez e arfou,
tiranizei
a tua língua
e
a prendi
no
céu de minha boca...
rompeu teu horizonte em gemidos...
III_
digamos que nos jardins das tulipas
ficou na memória, oculto,
o entusiasmo do mundo
e uma clareira se fez ao lado da fonte.
digamos a nós mesmos, digamos,
que os nossos pés acostumados a orvalho
&
relva,
no caminhar tranquilo pela sombra,
protegeram-se das pedras e absorveram
essa melancolia perene que não se extingue...
(no sono de olhos abertos, a musa segue
curvando-se sobre os arcos de flores).
(imagem: Alex Krivtsov)
“poemas
concupiscentes”
poema_IX
sede inesgotável do segredo,
da trama,
lençol e cama.
entre os verbos que lambem
o teu ouvido
&
comprimem as tuas nádegas...
(textura de humanidade).
asas,
ato inefável...
ter-te e dar sentido humano
ao animal em mim.
Ter pertença
um dia, a conversarem comigo sobre coisas miúdas,
(estas coisas ajuntadas no momento)
me disseram que eu tinha pertença por coisas simples.
eu nunca pensei na palavra pertença
deste modo…
as palavras têm caras diferentes,
para quem fala e para quem as escuta.
(é preciso ter cuidado com elas!)
“ter pertença” explica para mim
muitas coisas que não tinham palavras para serem ditas.
ter pertença,
pertencer,
sem saber… pertencer.
estar envolvido,
comprometido,
ser,
ter…
é querer a responsabilidade do mimo, do trato, da comoção.
sentir a mesma dor,
sentir o mesmo amor
e chorar a angústia e a alegria.
“ter pertença” ao chão,
à chuva,
as coisas carregadas pela chuva,
à noite,
ao choro,
ao sorriso,
à compreensão, mesmo desatinada,
ao senso relativo e imparcial,
à humildade de saber que, no fim,
todos serão iguais aos passos lentos daquele que não pode mais
o voo de garça ou ao passo rápido,
que no caminho alcançou e carregouaquele que só podia admirar
o horizonte.
ter pertença é cuidar do pertencido como se cuida de um pássaro
na palma da mão
(querê-lo preso,
mas ter as mãos abertas permitindo a viagem…).
é este amar profundamente com os olhos,
emocionar-se com as pequenas e grandes coisas,
com a imagem daquele que chora
com os filhos nos braços,
daquele que traz no rosto a agonia do percurso,
daquele que, mesmo sendo nada, se joga no combate,
daquele que aceita o desígnio,
o julgo e segue ao cadafalso.
ter pertença…
amar, simplesmente, por amar
(sentir no coração a humanidade).
eu
te amo. tu me perdoa.
eu te amo. tu me perdoa.
não me perdoes. ama-me e serei tua única música,
o fiandeiro voluntário a tecer os tapetes
[que forram o teu
caminho.
há uma incredulidade no perdoar
[essa invenção ilusória]
se justificas, inventa a tua servidão,
se julgas descreves o teu destino.
livro-te do perdoar. aceito o meu pecado,
[a minha culpa.
o teu perdão me faz servo, condena-me.
a remissão está em mim. palavra alguma, tua,
[apagará do espelho a minha sombra.
que pode tuas justificativas e o teu perdão
[minha pecadora?
és igual a mim!
viveste os suaves suspiros. a ti condenaste.
não podes perdoar. antes, perdoa a ti mesmo.
assim diz-me as Escrituras, o Deus de Jó que eu
[não entendo e
aceito.
o que salva-me é teu amor,
ele me faz luz,
ele me faz igual,
faz-me liberdade...
é teu amor me conforta e esconde minha
[monstruosidade.
eu te amo. tu me perdoa.
[inocência tua]
canto como um pagão esse amor por ti,
[mas tu és Beatriz.
ah! como te queria Francesca!
eu seria Paolo...
desafortunados, pecadores, amantes por toda a
[vastidão do tempo e
da
[mística.
me comoveria, com lágrimas nos olhos, com a tua
[aceitação do
destino.
mas tu não entende,
não pode...
engana tua verdade mais íntima e faz de teu sentir,
[alegoria.
te definiste para sempre num único momento,
no nosso momento de “delicias, deleites e ternura”,
que queres tu agora com o acaso
(essa ignorância das causalidades)?
não minha pecadora! meu julgo é teu julgo
minha lei é tua lei, essa síntese gestáltica,
[essa recidiva e piedosa poesia,
[essa infinita e insensata piedade.
abandono-me a minha fé de criança,
ao meu céu carregado de estrelas,
a luxúria imperdoável de ter-te e,
[não apenas o teu nome.
(sinto o teu encanto...)
eu te amo. tu me perdoa.
[nobre intento]
encontra-te contigo mesma. decifra-te.
descubras a diferença do episódico e do eterno.
eu te amo. não me perdôo.
Imagem: Fotografia de Andreas Smetana
entre
tijolos e água da bica
faço
melodia,
canção,
o
que devia,
o
que não...
sei
pouco e
quase
tudo
é
contravenção
[um marginal apoiado em razão].
faço,
me
desgraço
e
dos cacos
que
me estilhaço
a
3000 mil graus centígrados,
me
forjo numa poesia
que,
se cristalina,
turva-me
os olhos
enquanto as lágrimas teimam em polir o
coração.
tijolo,
agua
de bica,
eterna reconstrução.
Quando te põe de quatro
quando te põe de quatro
e assanha
esse teu dengo,
essa tua manha,
o meu corpo-terra
palpita e vira mar.
e homem,
e pedra,
e onda,
reconheço o teu
movimento
e naufrago para o além
do estar.
então,
te toco,
te namoro,
te possuo e me perco
para nunca me
encontrar.
“a
lata, o lixo, o menino...
(o bicho)”
a
lata, o lixo
um
menino
um bicho qualquer
uma coincidência?
(uma incidência?).
o
lixo
(um menino na
lata)
um bicho
uma metáfora
mal construída
um pedinte.
a lata
(um menino no lixo)
quase um bicho
busca um “x”
x salada
x brinquedo
x sorriso.
um menino
(lata de lixo)
não é uma metáfora
não é um capricho
é um fato!
(constatação).
latas,
lixos
meninos, bichos
vagam...
eu, expectador...
(simples expectador).
alheio,
viro o rosto.
faz de mim teu mimo mulher
faz de mim teu mimo mulher,
despeja teu amor e não se
arrependa.
crie
caso,
me
morda,
faz cara de amor partido,
mas faz de mim teu mimo mulher.
exceda. faz de mim teu
exercício...
vício.
me tome para teu gozo
com tamanha leveza
e não ligue para o sacrifício
da carne machucada.
faz de mim teu detalhe mais
discreto,
teu afeto,
tua total falta de medidas
e não pense...
seja uma tarde blues.
ah mulher! faz de mim teu ciúme
disfarçado.
ronda meu desamparo
com essa tua finesse de pessoa
e, numa boa,
faz de mim teu mimo?
eu já desaprendi a caminhar com
as próprias pernas,
hiberna em mim, em qualquer
estação,
a sutileza com que reverencias
o
meio dia,
a
tarde toda...
as
horas de tua ilusão.
faz de mim teu mimo mulher,
teu brinquedo único
teu lugar de meiguice...
o
brilho de meu céu é feito do teu olhar.
teu corpo é geografia perfeita,
território de meus suores
e de meus descansos,
montes,
pomos
&
curvas dos meus desejos.
tenho fome de ti,
de tuas substâncias e do teu frescor.
tenho sede dos teus lábios úmidos
e beberia, nas horas tantas,
o líquida essência de teu sentir.
Blog: daufen bach.
Facebook: Poeta daufen bach.
Os dez poemas, acima, foram uma escolha minha e se alguém tem algum poema deste poeta e não está na lista, nos mande e terei o prazer de acrescentar.
Espero que tenham gostado desta linda viagem nos versos do poeta daufen bach., faremos outras viagens tão belas e anônimas quanto esta! Se você tem alguma sugestão,
teremos o prazer de publicar o seu poeta preferido.
Vale a pena ler, reler, reler, reler e se encantar sempre...
Aguardem!
Ivana Schäfer
- Pedagoga com Habilitação em Orientação Educacional, Especialização em
Psicopedagogia e Cerimonialista. Sou Cuiabana de "tchapa e cruz", amo
minha terra, meu povo e a nossa cultura. Sou do Mato ....de Mato Grosso.
Página na internet:
http://espiacuyaba.blogspot.com.br/
Um comentário
VIVA A POESIA...! https://gustavoreymond.blogspot.com
Postar um comentário