Maurício
Leite: promotor de leitura
Finalista do Prêmio Astrid
Lindgren (ALMA) de 2014, ele fala de seu trabalho de promoção de leitura e da
importância da escola e da família para formar leitores.
Beatriz
Santomauro
"Há quase 40 anos
trabalho com promoção do livro e
incentivo a leitura. Vejo a literatura como arte, como gosto e como prazer", diz Maurício Leite. Ele foi o único nome brasileiro entre os finalistas
do Prêmio Astrid Lindgren (ALMA) de 2014,
um dos maiores reconhecimentos do mundo a escritores, ilustradores, organismos
e pessoas que se dedicam ao livro e a leitura. "No prêmio não são aceitas
inscrições, apenas indicações. Por 5 anos, a Biblioteca Nacional de Angola
apontou meu nome, mas este ano fui indicado pela própria organização do prêmio,
o que para mim foi uma surpresa!", diz.
Matogrossense nascido em
1954, Maurício foi valorizado por rodar o mundo distribuindo malas de livros,
montando espaços de leitura, orientando profissionais de escolas e comunidades
a aguçar o gostinho de crianças e jovens pela leitura, e ainda fazer disso um
esforço permanente. Saiba mais sobre esse trabalho de formiguinha na entrevista
abaixo.
1.
De professor a indicado ao importante Prêmio ALMA: como foi sua trajetória
profissional?
Já nasci professor e desde
criança brincava de dar aulas. Minha formação foi em Arte-Educação e trabalhei
com diversas áreas relacionadas a isso: escolas que educam por meio da arte,
teatro infantil, teatro na educação e teatro de bonecos. Mas, por traz de tudo,
sempre estiveram os livros como minhas fontes de inspiração. Então comecei a
percorrer o mundo, às vezes com mais apoio, às vezes com menos, levando livros
e orientando a como se trabalhar com eles. Já passei por todos os estados
brasileiros e em muitos países africanos de Língua Portuguesa.
2.
Quais foram as experiências mais marcantes nessas suas andanças?
Todas elas são
interessantes, cada uma por um aspecto. Já fui em prisões, aldeias indígenas,
cidades que saíram de guerras, e encontrei muitas pessoas que nunca viram um
livro. Procuro fazer com que minha estada com elas seja prazerosa, que não me
esqueçam, e que passem a sentir que o livro é importante para elas. Nós, países
de Língua Portuguesa, não formamos leitores de fato e o caminho é longo para
mudar essa situação.
Nota-se que há mais livros
à disposição nas escolas brasileiras do que na África, mas muitas vezes os
exemplares não saem das caixas por falta de um plano de trabalho. O acervo pode
ser o melhor possível, mas se falta formação dos profissionais que lidam com
eles, a leitura fica de lado. É aí que eu procuro entrar: preparar a comunidade
para que deem continuidade ao trabalho de leitura.
3.
Como você monta espaços de leitura e o que tem em suas malas de livros?
Às vezes monto espaços de
leitura em uma casa na árvore, às vezes é um canto no pátio ou em um carro.
Eles partem da realidade local e são construídos com a participação da
comunidade, mas não há um formato único que satisfaça a todos. Já para montar a
mala de livros procuro me informar sobre a situação do lugar para onde vou: se
as pessoas são muito católicas, se as famílias foram destruídas pela guerra, se
passam fome, se não imaginam o que seja uma vida urbana ou se moram na
periferia de um grande centro. Tudo isso tem que ser levado em conta para
pensar nos livros que possam seduzi-las e despertar o interesse pela leitura.
4.
Quais são os seus cinco livros infanto-juvenis preferidos?
É muito difícil listar
apenas cinco, mas existem alguns que marcaram minha vida em momentos
diferentes.
- "Uxa, Ora Fada ora
Bruxa", de Sylvia Orthof (Ed. Nova Fronteira), me fez ter vontade de ficar
na profissão de leitor de histórias em voz alta.
- "Onde tem bruxa tem
fada...", de Bartolomeu Campos Queirós (Ed. Moderna), ganhei da minha
mestra, a escritora Fanny Abramovich, a mão que me guia por esta profissão.
- "Reinações de
Narizinho" e os demais títulos do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro
Lobato (Ed. Globo), foram o início de tudo.
- "O Coração de
Corali", de Eliane Ganem (Ed. José Olympio), gosto pela beleza do tema.
- E, por fim, "O
Abraço", de Lygia Bojunga, é um livro que sempre me instiga, meio que me
assusta.
5.
Qual você acredita ser o papel dos pais na formação de crianças e jovens
leitores?
Como responsáveis pela
Educação e pela Cultura da criança, os pais e a sociedade precisam garantir
acesso à literatura de qualidade. A escola vai dar conta de certos
conhecimentos, mas não pode ser responsabilizada por toda a formação leitora. O
livro no Brasil pode ser caro, mas uma ida à lanchonete ou a compra de roupas
novas também são. É possível trocar livros entre amigos, fazer empréstimo em
bibliotecas, comprar exemplares usados sem gastar. Livro bom não é
exclusivamente o livro novo e nem precisa ser caro. Não é comprar um livrinho
qualquer, é comprar literatura o que faz um leitor.
Fonte:
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/mauricio-leite-autor-infantil-780969.shtml
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