O
mercado editorial sob a ótica dos escritores V: "Sem o mediador, a leitura
não se estabelece como valor e desejo"
entrevista com Marô
Barbieri
Maria
Eunice Garrido Barbieri, conhecida como Marô Barbieri, é uma
escritora, professora e contadora de histórias. Formada em Letras pela PUCRS,
Marô destaca-se pelas obras voltadas ao público infantil. Autora de 26 livros,
recebeu o Prêmio AGES Livro do Ano pelo livro “Pestilóide e o Sumiço na Chuva”
e o troféu Palavra Viva do SINTRAJUFE, pelo conjunto da obra Sindicato dos
Trabalhadores da Justiça Federal. Nesta entrevista Marô, que foi presidente da
Associação Gaúcha de Escritores por 6 anos, conta como a sua experiência como
professora a levou para o caminho da escrita.
Como
e quando surgiu a vontade de ser escritora? Você já iniciou publicando em
livros?
A escolha em ser
professora de Português já indicava que eu tinha uma relação muito grande com a
palavra e com a fascinação que ela pode criar através da literatura. Mas o
início da carreira de escritora começou 20 anos depois do início da minha
caminhada como professora. Eu trabalhava em um projeto de iniciação à
literatura nas séries iniciais do primeiro grau, no Instituto Educacional João
XXIII, quando percebi que era uma boa contadora de histórias. E, nessa
atividade, resolvi inventar histórias que não estavam nos livros da nossa
Biblioteca. A história da “Tinoca Minhoca” foi a primeira delas e acabou
virando meu primeiro livro, publicado pela Editora do Brasil.
Você
é uma das pioneiras no trabalho em escolas. Como e quando você iniciou este
trabalho?
Assim que comecei a atuar
como escritora, percebi que era necessário trabalhar como mediadora de leitura,
compartilhando minha experiência pedagógica com colegas que também valorizavam
a literatura. Sem o mediador, a leitura não se estabelece como valor e desejo.
Ao mesmo tempo, senti que era preciso incrementar a divulgação e a venda de
livros porque leitura não se faz sem o objeto livro. E porque é preciso que a
gente inclua o livro na lista de nossos desejos por objetos culturais, assim
como na música, no cinema, etc. Então propor a aquisição de livros passa a ser
parte do processo de sensibilização do leitor, seja ele professor ou aluno. E,
quase sempre, no âmbito das escolas de ensino público e privado.
Você
tem livros publicados por importantes editoras nacionais e livros publicados
por conta própria, sendo que nos últimos anos tem priorizado os livros por
conta própria. Por quê?
A ideia de trabalhar com
publicações próprias veio da vontade de trabalhar na divulgação de minha obra e
de ganhar a vida como escritora. Não fazia sentido realizar um grande esforço
de contatos diretos com escolas e municípios para receber apenas 10% de
direitos autorais. Além disso, sendo dona dos direitos autorais de meus livros,
poderia ajustar preços e condições de aquisição às diversas necessidades
apresentadas pelos clientes. É claro que produzir os próprios livros é um risco
e uma grande despesa, mas é preciso acreditar em nossa capacidade de empreender
mesmo que isso signifique uma carga bem pesada de trabalho constante (pesquisa
de clientela, contatos, execução de serviços paralelos como palestras, oficinas
e cursos, etc).
Vamos
falar um pouco sobre as editoras tradicionais. Quanto elas têm oferecido de
direito autoral para o escritor de livro infantil?
Pelo que sei, a quota de
direito autoral é de 10% sobre o valor do preço de capa do livro. Há editoras,
no entanto, que trabalham com percentuais menores, de até 5%.
Nas
editoras tradicionais, como se dá o pagamento de cachê para a realização de
palestras e oficinas em escolas?
Há anos atrás, boa parte
das editoras entendiam que o autor devia “auxiliar” na venda de seus livros e
que sua participação não devia ser remunerada. Com o passar do tempo, no
entanto, várias delas perceberam que apenas o pagamento de direitos autorais
não cobre o esforço profissional que o autor faz para elaborar e apresentar
palestras para grupos que – às vezes – chegam a muitas centenas de ouvintes.
Neste caso, oferecem pagamento de cachê que varia por conta do volume de livros
comercializados. E – quase sempre – oferecem cobertura para as despesas de
viagem e estadia.
Seus
livros publicados por editoras nacionais têm uma boa venda em livrarias?
Infelizmente, não. As
livrarias, em geral, vendem muito pouco e só se preocupam em colocar em
destaque livros que já são sucesso ou que são acompanhados de uma campanha
forte da editora junto aos clientes. Além disso, são poucas as livrarias que
promovem ações junto ao público comprador. E, no mundo atual, quem não divulga
e promove o seu produto não alcança bons resultados de venda. O verdadeiro
mercado para livros está nas instituições de ensino, que desenvolvem programas
de leitura e nos diversos projetos que privilegiam a relação autor/livro.
O
autor que deseja enviar seu original para uma editora de livros infantis deve
enviar apenas o texto ou já o texto com a ilustração?
Isso varia de editora para
editora. A rigor, o que deveria contar mesmo é o texto. Mas, às vezes, mostrar
o livro já ilustrado pode ajudar na decisão da editora. As editoras maiores
costumam ter um time de ilustradores já estabelecido e, em geral, prefere
utilizar o serviço desses ilustradores. As menores recebem com mais boa vontade
os livros já ilustrados.
O
que o autor deve cuidar no contrato da editora?
É necessário ler (e
entender!) TODAS as cláusulas, com cuidado. Principalmente aquelas que dizem
respeito às compras de governo, onde os percentuais são alterados para menor
(ou calculados sobre base de cálculo menor.)
No caso de publicações por
conta própria, você utiliza ou já utilizou alguma editora para o processo
editorial e de divulgação ou faz diretamente com a gráfica?
Em geral, eu mesma faço
todo o processo. Porque gosto e porque fui aprendendo a fazer. Nada como saber
do que se está falando quando se negocia com prestadores de serviço.
Como
funciona a divulgação dos seus livros e de seu trabalho em escolas?
Fazer palestras e oficinas
para mediadores de leitura e contadores de histórias é uma boa maneira de
divulgar os livros. Além disso, é preciso ter um site (e um facebook) bem
informativo e atualizado.
Marcelo Spalding
é formado em jornalismo e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS,
professor da Oficina de Criação Literária da Uniritter, editor do portal
Artistas Gaúchos, autor dos livros 'As cinco pontas de uma estrela',
'Vencer em Ilhas Tortas', 'Crianças do Asfalto', 'A Cor do Outro' e
'Minicontos e Muito Menos', membro do grupo Casa Verde e colunista do
Digestivo Cultural. Recebeu o Prêmio AGES Livro do Ano 2008 pelo livro
'Crianças do Asfalto', categoria Não-Ficção, e o Prêmio Açorianos de
Literatura em 2008 pelo portal Artistas Gaúchos. Site: www.marcelospalding.com.
Esse texto foi originalmente publicado no site: http://www.artistasgauchos.com.br/
Nenhum comentário
Postar um comentário