O mercado editorial sob a
ótica dos escritores VII: escritora de Caxias mostra a força da literatura fora
das capitais
entrevista com Helô
Bacichette
Helô Bacichette é formada
em Letras. Publicou livros para adolescentes e crianças. O primeiro foi em
1997, “O amor em três tempos”(poesia, ilustrado por Clari Tessari). Em 1999
conquistou o 1º.Lugar no 33º. Concurso Anual Literário de Caxias do Sul,
categoria Obra Literária, com a novela juvenil “O segredo da escaramuça”,
publicada no ano 2000. Nesta entrevista Helô conta sobre sua paixão pela poesia
e fala sobre os editais e fundos de cultura, como oportunidade para publicação
de livros.
Quando surgiu a vontade de
ser escritora? Você já iniciou publicando em livros?
As coisas foram
acontecendo. Lembro que ficava apaixonada por alguns textos que lia e tinha
necessidade imediata (quase simultânea) de sublinhar, copiar num caderno,
comentar com alguém ou comigo mesma e depois reinventar textos com todas
aquelas palavras bonitas que ficavam rodopiando na minha cabeça. Era intenso (e
imenso) o desejo de escrever sobre coisas que despertassem os mesmos
sentimentos que a leitura despertava em mim. A poesia sempre esteve em primeiro
lugar. Encantava-me brincar com as palavras no papel, nas canções que inventava
ou no teatro. Quando adolescente, publiquei poemas num jornal da cidade e
participei de concursos literários, mas não imaginava que algum dia me tornaria
escritora. Meu primeiro trabalho publicado foi um livro de poemas com
ilustrações coloridas, impresso numa pequena gráfica do bairro onde moro, no
ano de 1997. Trabalho quase artesanal.
Você tem belos livros
publicados de forma independente. Por que você tem optado por esta modalidade
de publicação?
Publicar por editoras
maiores é bastante interessante e pode abrir muitos caminhos, principalmente
quando a editora tem uma boa distribuição e possibilita a participação em
eventos literários, premiações e editais. Contudo, o processo para análise e
publicação de originais é bastante demorado. Nos últimos anos realizei vários
trabalhos na minha cidade e em outras cidades do estado que solicitaram novos
títulos para crianças e adolescentes. Então, a solução mais rápida e eficiente
foi a de publicar meus próprios livros.
No caso de publicações por
conta própria, você utiliza ou já utilizou alguma editora para o processo
editorial e de divulgação ou faz diretamente com a gráfica?
Tenho experiência com
publicação direta com gráfica e também via editoras, mas com investimento
próprio. Nos últimos três anos consegui publicar quatro livros com
acompanhamento direto do processo, inclusive em relação à divulgação e
distribuição.
Como funciona a divulgação
dos seus livros e de seu trabalho em escolas?
Foi produzido material
básico para divulgação dos livros e das oficinas (folders e banners), além da
publicação nas redes sociais, site e blog. O contato com as escolas flui com
naturalidade. Gosto muito de participar de atividades envolvendo alunos e
mantenho uma boa rede de relacionamentos. Uma coisa puxa a outra e o chamado
"trabalho de formiguinha", "o boca a boca" continua sendo o
mais eficiente meio de divulgação.
Vamos falar um pouco sobre
as editoras tradicionais. Quando elas têm oferecido de direito autoral para o
escritor de livro infantil?
O percentual é variável.
Creio que a média seja de 8 a 10%, mas não posso afirmar que esses números
sejam oferecidos por todas as editoras.
Nas editoras tradicionais,
como se dá o pagamento de cachê para a realização de palestras e oficinas em
escolas?
Depende da editora e do
número de livros comercializados ou pelas combinações feitas entre as partes.
Algumas oferecem o custeio de despesas com transporte, alimentação e
hospedagem; outras negociam um valor para cachê correspondente ao número de
atividades, mais o custeio das despesas.
O autor que deseja enviar
seu original para uma editora de livros infantis deve enviar apenas o texto ou
já o texto com a ilustração?
A maior parte das editoras
solicita que seja enviado somente o texto. Geralmente a editora sugere alguns
nomes de ilustradores e o autor faz sua indicação. Porém, existem editoras que
indicam determinado ilustrador(a), sem abrir possibilidade de interferência por
parte do(a) autor(a).
Recentemente você tem
trabalhado num projeto de publicação digital, para tablets. Como surgiu essa
ideia?
Foi no ano passado,
durante um encontro com crianças que perguntaram se tinha planos para publicar
e-book. Numa outra ocasião, alguns adolescentes também fizeram a mesma pergunta
e comecei a pensar na possibilidade. Ainda estou pesquisando a respeito,
analisando as viabilidades, riscos, enfim. O projeto está em construção, mas
não suficientemente maduro para ser executado.
Você já participou de
algum edital ou Fundo de Cultura para publicar livros? Como foi esse processo?
Não. Como sou funcionária
pública municipal a lei não permite que participe de projetos para publicação,
seja via LIC Municipal ou pelo Financiarte. Talvez em algum momento possa
participar de projetos via Lei Estadual e Federal. O que você sugeriria para um
autor iniciante que quer publicar seu livro, mas está em dúvida sobre qual a
melhor forma de proceder. Caso esse(a) autor(a) não seja funcionário público
uma boa via ainda é a de participar de Projetos de Lei. Outra alternativa seria
a de inscrever seu livro em concursos. Além dessas possibilidades seria
interessante encaminhar originais para várias editoras. Claro que essa
alternativa seria para longo prazo, pois grande parte das editoras que aprovam
textos informa que a publicação não será imediata. Publicar com recursos
próprios pode ser uma boa alternativa, mas também oferece dificuldades e
riscos, principalmente em relação à distribuição.
Mais informações em www.helobacichette.com.
Marcelo Spalding
é formado em jornalismo e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS,
professor da Oficina de Criação Literária da Uniritter, editor do portal
Artistas Gaúchos, autor dos livros 'As cinco pontas de uma estrela',
'Vencer em Ilhas Tortas', 'Crianças do Asfalto', 'A Cor do Outro' e
'Minicontos e Muito Menos', membro do grupo Casa Verde e colunista do
Digestivo Cultural. Recebeu o Prêmio AGES Livro do Ano 2008 pelo livro
'Crianças do Asfalto', categoria Não-Ficção, e o Prêmio Açorianos de
Literatura em 2008 pelo portal Artistas Gaúchos. Site: www.marcelospalding.com.
Esse texto foi originalmente publicado no site: http://www.artistasgauchos.com.br/
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