A primeira publicação
ninguém esquece
Maurem Kayna
Publicação em papel vale
mais?
O que tem mais peso para
um autor estreante e/ou independente? Publicar junto com outros autores no
formato impresso ou lançar um livro solo mas apenas em formato digital? A
resposta é mais que óbvia: “depende”. Depende das pretensões do autor com a
primeira publicação, do tipo de público que pretende atingir, do quanto pode /
quer investir em divulgação, e de sua persistência quanto a futuras
publicações.
E para quem esperava uma
resposta contundente à pergunta, digo, com certa audácia, que ela (a resposta)
não importa! Para quem quer ser lido, toda publicação tem valor, mais
importante, talvez, é a construção de um caminho que permita chegar ao alvo: o
leitor. Então, se o seu público alvo não costuma ler no formato digital, ou
você precisa se empenhar para mudar essa realidade ou publicar no formato que
seu público aceita. Sem maiores dramas.
Curadoria faz a diferença?
Pois é, em tempos de
fomento à autopublicação e de tantas ferramentas disponíveis praticamente com
custo zero, qualquer um pode publicar sua produção. Daí a conseguir audiência
são outros quinhentos. E considere-se ainda que ter audiência não é o mesmo que
ter leitores. Sim, pois ter muitos seguidores em redes sociais e curtidas na
sua fan page não é sinônimo de que o texto em si foi ou será lido. E isso é
tanto mais relevante quanto maior o interesse de quem escreve em ter sua obra
lida e não apenas sua figura visível na mídia, mas isso dá pano para muitas
mangas.
E para ter leitores antes
de ser conhecido, podemos assumir que, pelo menos em parte, faz diferença para
o leitor se um livro tem o “aval” de alguma editora (aqui me refiro a editoras
de fato, não a prestadores de serviço para publicação independente, sem nenhum
demérito no serviço, vale ponderar) ou conta apenas com a convicção de quem o
escreveu de que se trata de um material relevante.
O parecer de figuras cuja
opinião é respeitada pode ser decisivo, mas como ser lido por um crítico
literário, responsável por colunas literárias (cada vez mais raras) ou por um
escritor conhecido sem a intermediação de bons contatos ou ótima divulgação?
Aqui também poderíamos divagar por horas.
O caso é que qualquer tipo
de avaliação externa – seja via editora, crítica especializada, edital público,
prêmio literário ou até mesmo o sucesso em um projeto de financiamento coletivo
- é mais que a possibilidade de agradar
ao ego do escritor, pode ser uma forte influência na percepção do público
leitor.
Isso não significa que sem
curadoria ou aval externo uma obra não possa atingir um número expressivo de
leitores, mas neste caso, a resposta à pergunta é clara: sim, curadoria faz
diferença!
Preparado para ser mais
que escritor?
Bons resultados para uma
publicação dependem (obrigatoriamente) de muito trabalho. Mas, infelizmente,
muito trabalho não é sinônimo de bons resultados (em vendas,
especialmente). Isso significa que se
você quiser publicar de modo independente ou terá de aprender muitas outras
coisas do mercado editorial ou terá de delegar algumas tarefas.
Se saber como revisar,
editar, diagramar, produzir uma boa capa e um bom plano de divulgação parece
coisa de outro mundo para você, trate de se qualificar. Aliás, mesmo que você
possa contar com recursos para pagar por esses serviços, convém ter um mínimo
de conhecimento sobre cada etapa do processo.
Resumindo: Não se apresse.
Considere que entre aprender a divulgar um livro e desenvolver uma forma de
tornar suas personagens mais consistentes, a segunda opção é mais relevante
para sua literatura. Pense que se o tempo disponível é curto, será melhor
dedicá-lo a aprimorar sua escrita, do que bombardeando seus contatos nas redes
sociais para que leiam e divulguem seu texto.
E se a ânsia por publicar
for imensa (e eu sei que as vezes é!), então se prepare para assumir todas
essas funções que já comentei e faça direito, do contrário o fracasso é
garantido (seja lá o que isso signifique para você).
Quanto esperar para fazer a
primeira publicação?
Quanto a mim, desde a
primeira vez que escrevi algo com aspirações literárias (não necessariamente
bem sucedidas) e a primeira publicação em um site da web foram pelo menos dois
anos. Outros quatro anos se passaram até que eu participasse de uma coletânea e
meu primeiro e-book saiu quase dez anos depois do meu primeiro conto ser
escrito. Nesse meio tempo, adquiri noções rudimentares sobre vários aspectos do
mercado editorial, o suficiente para não alimentar expectativas irreais e para
medir meus passos em termos de publicação com prudência.
Se puder escolher entre
estar satisfeita com um texto no meu computador ou envergonhada de um texto
publicado por afobação, fico com a alternativa um (isso não significa que não
tenha cometido equívocos nesse sentido ou que ainda não os venha a cometer).
Maurem
Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura
desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de
literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se
interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de
publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil.
Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela
iniciativa da Simplíssimo. Sites: mauremkayna@uol.com.br
- mauremkayna.com/ - twitter.com/mauremk
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