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Significados [Dy Eiterer]

Significados


Na brasa de mais um cigarro aceso ela contabilizava por quantas camas já havia passado as suas noites.

Silenciosa, imaginava uma lista de quantas vezes sussurrava palavras em orelhas frias que esqueceriam tudo aquilo pela manhã. 

Tentava lembrar as cores dos lençóis em que se enrolara nas manhãs de atraso, quando o despertador preguiçoso não se lembrou de acordá-la.

Deu-se conta de que ainda esperava como uma donzela por alguém que a despisse de verdade. 

Para todas aquelas coisas que já havia feito na vida existiam significados. Uma mesma ação tomava nuances diferentes. Mas nada nem ninguém ainda a tinha tocado de verdade.

Envolvidos na fumaça de seu cigarro, seus pensamentos ganharam os céus pintados no teto do quarto, já com tintas desbotadas. Se pudesse fazer três desejos, apenas um bastaria. Não porque se satisfazia com pouco, mas por ter encontrado, naquele momento o único significado que valia a pena desejar. 

Desejaria, de todo seu coração, alguém que a visse nua. Não, não alguém que jogasse suas roupas pelo assoalho, mas alguém que a desnudasse plenamente, até a alma. Alguém a quem ela se mostraria completamente nua, sem nenhum medo. 


Diante de seu expectador se revelaria. Abriria todas as suas gavetas, contaria todas as suas histórias, organizaria todo o seu mundo e, livre, o convidaria a entrar, sem pressa, com leveza, com entrega.

Despida de si mesma ela teria a firmeza e a segurança de convida-lo a participar de sua vida. Convidaria-o a tatear a sua pele e os seus sentimentos.

Iria se desfazer de toda maquiagem, de todos os artifícios que a afastavam de quem realmente era, deixando à tona apenas sua própria essência, aquela que ela tinha por costume deixar velada. 

Frente a frente com seu expectador não temeria perder nada, pois já o teria ganhado. Já teria conquistado o maior espaço que se pode haver no mundo, que é o coração de alguém.

Exposta ao seu único observador, aos poucos, ganharia coragem de sair nua pelas ruas. Uma nudez que não se refere às roupas, mas ao que se sente e, de peito aberto, passaria a encarar todos com olhar mais altivo, mais certeiro, confiante de quem sabe muito bem o que quer, para onde vai e qual a companhia tem.

Na brasa de mais um cigarro, percebeu-se brasa à espera de um sopro leve para incendiar. E desejou ter direito a pelo menos um pedido a uma estrela cadente que riscou o céu naquele momento.


Dy Eiterer. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora, escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu, seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando

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