"Contos de
Amores Vãos"
O homem é tão vão quanto o
amor
Pela jornalista Suélen
Bastian.
Desde os primórdios da
história do homem o amor é um enigma. O mistério amoroso é o mero fato de não
existir uma lógica, ou seja, não temos como fazer um cálculo e chegar a um
raciocínio exato. Sempre haverá dúvida. Então, sabemos que o amor não possui uma
teoria perfeita. Muitos escritores o mencionam, mas cada um do seu ponto de
vista e sabendo que as suas descrições estão sobre um tapete flutuante. Este
livro “Contos de Amores Vãos” é nada mais e nada menos que uma viagem aos olhos
e pensamentos de Uili Bergamin, porém de grande originalidade e magnitude.
Ao decorrer dos tempos
modernos, são perceptivos os devaneios sobre o significado do amor e questões
como: porque o amor nem sempre dá certo? porque mesmo depois de ter conquistado
o grande amor, ainda existe uma sombra de solidão em nossas vidas? como o amor
acontece? nós escolhemos ou somos escolhidos? Essas perguntas jamais serão
respondidas com uma lógica de razão. Isso por que este sentimento só pode ser
experimentado por meio da prática.
Os contos deste livro não
trazem soluções ou respostas, e sim uma reflexão sobre as experiências das
personagens que amam e que sofrem por consequência de uma escolha que lhes
parecia ser o “caminho dos sonhos”. Conforme as páginas vão sendo folhadas, o
autor desvela o contraste do amor e da dor – frustrações e vazios que não
puderam ser preenchido pelos seus amados. Amar muitas vezes significa uma luta
contra tudo e todos. Já dizia William Shakespeare: “Lutar pelo amor é bom, mas
alcançá-lo sem lutar é melhor”. Isso porque nem sempre as pessoas são
correspondidas, outras são desprezadas e descartadas (aqui saliento as
tragédias amorosas).
Diante da leitura de “Contos
de Amores Vãos”, me atrevo a dizer que Uili tem uma identidade muito próxima a
de Jean-Jacques Rousseau. Os diálogos falam dos devaneios e impulsos dos
indivíduos mediante a situação inusitada de simplesmente existir. O ser humano
é complexo em todos os sentidos. Os escritores que tentam compreender os
pensamentos e os significados da existência, sempre criam um prelúdio de
reflexões que tentam amenizar as incertezas do que realmente os indivíduos são
e pensam que são.
Esta obra, na sua
excelência, nos oferece novas formas de pensar, de perceber o fluxo da vida e
nossas próprias motivações nas relações amorosas. Porque uma boa parcela da
sociedade pode se refletir nas palavras encontradas nos contos deste livro. De
acordo com Rousseau:
Quando meu destino me lançou
na torrente da sociedade, não encontrei mais nada que pudesse deleitar por um
instante meu coração. Assim, tudo contribuía para desviar minhas aflições deste
mundo, mesmo antes dos infortúnios que me tornariam totalmente estranho a ele.
(Rousseau, p.30e 31 do livro “Os devaneios do caminhante solitário”, 2011)
Existe uma peculiaridade nos
textos de Bergamin, que é muito familiar com os de Rousseau: os dois fazem
contrastes da sociedade e da realidade vivida pela mesma. Veja um trecho de
“Contos de Amores Vãos”:
Há, porém, um tipo de
sujeito que põe em risco sua existência de tanto querer a vida. Exploram tão
intensamente e de forma tão irresponsável seus dias, que os acabam abreviando.
Essas escrituras se cruzam,
mas não se tocam. Ambos os autores fazem uma reflexão, abordando a estranheza
de si mesmo e do mundo a sua volta. A diferença é que um se utiliza da primeira
pessoa e o outro da terceira. Contudo, a semelhança se encontra na forma de
escrever e na visão das emoções e da sociedade.
Na sequência, segundo Ezra
Pound: “A grande literatura é linguagem carregada de significado até o máximo
grau possível”. Então, o significado dos Contos não é fazer as pessoas
desistirem dos relacionamentos amorosos, e sim repensar sua formas de se
relacionar. Um bom livro não é o que te dá uma resposta pronta sobre um fato, e
sim aquele que te faz perder uma noite de sono, refletindo. Só por você ter
pensando a respeito, já valeu a leitura.
Não tenho dúvida do futuro
brilhante de Uili, um talento indescritível com as palavras. Quando falo do
brilho dos escritos dele, é porque seus textos realmente causam conflitos de
pensamentos e proporcionam uma nova visão sobre as coisas mais simples como a
vida, o tempo, a crença, os sonhos e o amor. Consequentemente, é importante ver
as possibilidades, enxergar a dor, mas também nos enxergarmos no espelho da
realidade. O escritor não pinta quadros de felicidades em seus livros; ele
escreve os sentimentos de diante da tragédia, ou seja, da vida como ela é.
A existência tem seus
encantos, mas ela ainda passa pela miséria, guerra, farsa, catástrofe,
violência e morte. Se as pessoas pudessem olhar além das suas janelas
bonitinhas, também poderiam ver esta realidade e perceber que o olhar de Uili
não é somente o de um livro, e sim uma realidade em contos.
Então, falar dos conflitos
humanos das mais diversas formas é falar daquilo que nós somos. Que o homem
contemporâneo contínua buscando um formato de satisfação e muitas vezes fica
sujeito ao fracasso. A imagem humana de Uili, em suas narrativas, é como o ser
real atualmente, um ser vão. O amor vive vazio porque se tornou vão, e a sociedade
foi a passo largos para o abismo de seus entendimentos nublados.
Sobre o autor
Uili Bergamin-Nasci
em Bento Gonçalves e ainda criança mudei-me para Cotiporã. Já adulto,
estabeleci-me em Caxias do Sul, onde venci inúmeros prêmios literários,
nacionais e internacionais. Sou autor de seis livros: "O Sino do
Campanário" (contos), "Cela de Papel" (novela), "Do Útero do Mundo"
(poesias), "A Ilha Mágica" (juvenil), "Contos de Amores Vãos" (contos) e
"Tetraedro" (crônicas) em parceria com mais três autores caxienses.
Também escrevo para a Revista Acontece Sul, onde indico bons livros e
colaboro para jornais da região.
"Contos de Amores
Vãos"
Autor: Uili Bergamin
Obra que narra o vazio
humano e os destinos quebrados, que um gesto ou palavra trarias de volta ao
curso.
Editora: LIVRARIA DO MANECO
LTDA
ISBN: 8577051447
Edição: 1
Coleção:
Ano: 2011
Páginas: 130
Dimensões (A x L x P):
21,00cm x 14,00cm x 1,00cm
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