Contos de Autoajuda para
Pessoas Excessivamente Otimistas:um nocaute por página
Por Jana Lauxen
Livros de autoajuda são
destinados a um público bastante específico: o leitor melancólico, com
tendências pessimistas e dificuldades para encontrar, sozinho, motivos para
sorrir – ou simplesmente para não morrer de desgosto. Daí o nome: autoajuda.
Você se (auto) beneficia lendo frases otimistas, cheias de esperança e
reconforto. “Ser feliz só depende de você”, “Nunca desista dos seus sonhos”,
“Sorria perante as dificuldades”. São conclusões simples e talvez até
simplórias, mas que, quando consumidas por um leitor mais sorumbático, possuem
um efeito transformador. E assim, livros deste gênero costumam figurar entre as
obras mais vendidas do país.
Justamente por isso, o livro
de estreia do escritor mineiro Luís Fernando Amâncio chamou minha atenção já no
título: Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas (Ed.
Literacidade, 2014, R$25.90). Ora, por que raios pessoas otimistas precisam de
um livro de autoajuda? Foi o que eu pensei.
Afinal, estas obras existem para
que pessoas excessivamente pessimistas se tornem, na medida do possível,
excessivamente otimistas. Correto?
Sim e não. Pois conforme o
autor deixa claro já nos primeiros contos de seu livro, o excesso de otimismo
pode ser tão nocivo e doentio quanto o excesso de pessimismo. O que faz sentido,
se pararmos para analisar.
Contos de Autoajuda para
Pessoas Excessivamente Otimistas reúne contos e microcontos que tratam da
condição humana vista sob uma nova ótica: a do sarcasmo e a da descrença.
Levantando temas cotidianos e situações aparentemente comuns, Luís Fernando
mergulha com habilidade e desenvoltura no lado sombrio e ambíguo da nossa
psique, mostrando que, não importa quantos livros de autoajuda sejam vendidos:
o ser humano ainda se mantém agarrado em sua origem patética e essencialmente egoísta.
Fica claro em cada uma das
56 páginas da obra que Luís Fernando Amâncio é um observador atento e perspicaz
– e como todo bom observador, percebe a beleza e a leveza da vida, das coisas e
das pessoas. Mas também apreende suas nuanças questionáveis, seus recalques,
seus traumas, seus medos e sua impertinência. O cômico e o trágico – irmãos
gêmeos que são – passeiam livremente pelos 28 contos que compõem a obra, e
tornam suas histórias temperadas, instigantes e, acima de tudo, convincentes.
Sua narrativa é curta e
certeira – um nocaute por página. Não sobra e nem falta nada em seus contos. A
escrita de Luís Fernando flui em um ritmo veloz e divertido, e em cada história
há um lugar para o leitor. Sabendo que não se faz literatura sozinho, o autor
divide com seu leitor as rédeas de sua obra.
Ademais, Luís Fernando
possui uma característica que, pessoalmente, admiro e respeito muito: o humor e
a fina ironia – que não são para quem quer; mas para quem sabe. E é através
desta índole literária debochada que Luís passeia livremente, ora flertando com
o otimismo, ora com o pessimismo. Neste espaço entre o positivo e o negativo o
autor encontrou o seu compasso, e a medida exata e sensata de suas palavras. E
é por isso que Contos de Autoajuda para Pessoas Excessivamente Otimistas não é
um livro apenas para pessoas excessivamente otimistas.
Trata-se de uma obra para
todos que apreciam a boa literatura, sem frescuras e nem enfeites. Para quem
sabe que o ser humano é complexo e caótico demais para ser convertido apenas
com palavras bonitas e inspiradoras. Afinal, é exatamente esta complexidade e
este caos que nos tornam interessantes. E ignorar os mecanismos que forjam
nossa personalidade seria ignorar a riqueza de nossa individualidade,
empobrecendo o que nos torna humanos. E únicos.
Luís conhece e reconhece
esta complexidade e este caos, pois emergiu deles. E através de seu livro de estreia levanta
mais perguntas do que respostas, induzindo seu leitor a avaliar se é o otimismo
ou o pessimismo que pode nos colocar frente a frente com a nossa própria natureza.
Um livro para quem não tem
medo de mergulhar na mente humana, nos seus exageros, nas suas contradições e
caprichos. Por que pessoas excessivamente otimistas também precisam de um livro
de autoajuda para não se esquecerem de quem são, e de onde vieram.
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site www.doproprioautor.lojaintegrada.com.br/contosdeautoajuda.
Jana Lauxen é editora,
produtora cultural e escritora, autora dos livros Uma Carta por Benjamin (2009)
e O Túmulo do Ladrão (2013). Contato: www.janalauxen.com /
osdezmelhores@gmail.com
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