Fome
Sentia fome. Uma fome de
vida. Ou seria de viver?... Queria todas as experiências que não caberiam em
suas mãos e nem em nenhuma mala e tampouco seriam alcançadas ali da janela do
oitavo andar.
Era faminta pelas pessoas.
Queria devorar cada uma delas. Conhecer cada vírgula de todas as histórias. E
entender onde doíam as feridas. Desejava, sobretudo, curar todas as dores.
Tinha fome do que era, do
que pensava. Queria ir sempre além, enxergar atrás da curva da luz, além de
onde o vento pousava. E inquietava-se por não conseguir.
Sentia no peito a fome que
só os silêncios prolongados podem proporcionar. E desejava engolir todas as
notas, de toda dó ao sol mais fascinante, para que pudesse, em dias mudos,
abrir a boca e fazer ressoar pela casa sustenidos e bemóis que a saciariam.
Era dona de uma fome pelo
futuro que saciava olhando para o passado, redescobrindo coisas, esmiuçando os
nãos ditos para entender todos os ditos. Virava páginas para escrever novos
parágrafos, como se debruçada na borda de uma fonte dos desejos, em que seu
reflexo traria respostas.
Tinha fome de fogo, de
aquecer tudo o que era frio. De estreitar os laços, dar as mãos, sentir o toque
e o calor das peles e das fogueiras que ardem dentro de cada um.
Sentia fome de azul, como se
pudesse, um dia, degustar todo o azul do céu, como ele fosse capaz de aplacar
as melancolias e os apertos cinzentos das almas cativas em peitos-de-gaiola
construídos sem intenções de aprisionar.
Desejava comer partes dos
caminhos, misturados a saladas de flores, bem coloridas, bem perfumadas, bem
leves, cheios de desconhecidos. Prontos a serem desbravados.
Sentia uma fome que não
cabia em si. E a compartilhava com o vento, na esperança que outros famintos
como ela a ouvissem e se ajuntassem a uma só voz, clamando pelo cardápio de
novos sabores, muito diferentes de todos aqueles que já se fazia conhecidos.
Sentia uma fome pelo novo.
Pelos horizontes, pelos segredos nunca revelados, pelas releituras da vida,
sentia uma fome de si mesma e se saciava quando se encontrava nas páginas que
escrevia.
Dy Eiterer -
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Edylane é Edylane desde 20 de
novembro de 1984. Não ia ter esse nome, mas sua mãe, na última hora,
escreveu desse jeito, com "y", e disse que assim seria. Foi feito. Essa
mocinha que ama História, música e poesia hoje tem um príncipe só seu,
seu filho Heitor. Ela canta o dia todo, gosta de dançar - dança do
ventre - e escreve pra aliviar a alma. Ama a vida e não gosta de nada
morno, porque a vida deve ser intensa. Site:Dy Vagando
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