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Graziela Medori: Uma das promessas da MPB. [Cleo Oshiro]

Graziela Medori: Uma das promessas da MPB.


Graziela Rallo Medori/29 anos, nasceu e mora em São Paulo. Essa jovem cantora carrega um DNA incrível, ela é filha de uma das interpretes mais brilhantes da nossa MPB, a cantora Claudya e do grande músico, compositor e produtor musical Chico Medori. Desde cedo Graziela viveu e respirou música da melhor qualidade, e isso serviu para molda-la e prepara-la para seguir a carreira musical com talento, responsabilidade e uma alegria contagiante, que todos podem conferir indo assistir os seus shows.

Graziela, como foi sua infância vivendo num lar onde reinava a música?

Foi uma infância ótima, sempre ouvi muita música em casa. Achava engraçado por exemplo os exercícios vocais que minha mãe fazia, não entendia muito bem aquilo e hoje faço todos eles.
No meu caso se eu não cantasse, eu teria de qualquer forma uma ligação muito forte com a música. Minha mãe viajou grávida, cantou até fora do país de barrigão, eu sentia a música muito próxima, até mesmo antes de nascer. Essa conexão é incrível.

Com que idade decidiu seguir a carreira musical?

Decidi cantar e seguir a profissão pra valer, aos 16 anos, quando fiz minha primeira gravação profissional.

Suas influências sempre foi a MPB?

Quando eu era adolescente adorava música Pop, fui cair no universo da MPB com 18 para 19 anos, mas só fui me interessar de verdade quando comecei a cantar no Hotel Fasano, aos 23 anos.

Quando gravou seu primeiro CD?

Fui gravando meu Cd em doses homeopáticas, ele passou por muitas fases de transformação, comecei a gravar com uma idade, ficamos um tempo sem gravar e quando ouvia novamente, já não gostava do que tinha gravado, enfim… O Cd ficou pronto em 2011 e saiu pela Lua Music.

É difícil selecionar as músicas que vão fazer parte de um CD?

Pra mim é bem complicado, gosto de vários autores, de diversas canções, essa parte é bem crítica e quando penso que fechei o repertório, o meu pai lembra de alguma canção e vem com o arranjo quase pronto, fico louca. Estou descobrindo alguns compositores novos também, eles têm me mandado canções. Isso me deixa extremamente feliz e empolgada.


O CD contou com regravações de grandes compositores da MPB?

No primeiro disco regravamos Lobão, Dominguinhos, que fez participação especial em duas faixas, Marcos e Paulo Sérgio Valle, João Bosco e Aldir Blanc, Roberto e Erasmo Carlos, entre outros.

O CD recebeu o nome de A Hora é Essa. Porque a escolha de uma das músicas do Roberto e Erasmo Carlos como título?

Tinha tudo a ver com o momento mesmo, era a minha estréia em disco.
Eu curto muito a pegada dessa música, acho alto astral, gosto das frases de metais e a letra super anos 70, de adolescente rebelde, combina com a minha personalidade, apesar de ser apegada a família, tenho meu lado do chega pra la!
Sou muito grata aos autores por autorizarem essa canção para estar no meu primeiro disco.

Seu pai é músico, produtor e compositor. Quantas composições dele estão nesse CD? 

Meu pai é um ótimo compositor, quando estamos produzindo digo a ele: “Não me mostre mais músicas, já tem várias suas aqui e quase tudo que me mostra eu gosto”, rsrs… No primeiro disco tem 5 músicas que ele assina.

Nesse trabalho você teve participação de vários músicos consagrados?

Tive a honra de ter Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeon e Fernando Nunes, que foi baixista da Cássia Eller e hoje é baixista do Zeca Baleiro.

Seu segundo CD, tem novamente um time dos melhores da nossa música. Não economizou em qualidade musical não é mesmo?

Estamos seguindo a mesma linha, pois deu certo, só que com uma pegada mais Pop. Escolhi a dedo todas as músicas, escolhi o que eu realmente quero cantar e passar para as pessoas. Nesse time tem Marcos Valle novamente, uma parceria do Medori com o Paulo César Pinheiro, Raul Seixas, Mutantes, Lô Borges, entre outros.

Seu Jorge foi o convidado de honra para participar de uma das faixas. Como surgiu essa parceria?

Sempre fui fã do Seu Jorge, curto suas músicas e sua história de vida que é uma lição de dignidade, luta e conquista. Ele é um exemplo!
Meu pai me mostrou a canção que será título do segundo disco: Toma Limonada e eu achei a cara dele. Eu não tinha nenhum contato com a produção, então fui em um Show, levando dois CDs na bolsa.
Consegui ingresso com a produção dele, assisti o Show e joguei um CD no palco. Após o Show, entrei no camarim depois de um certo esforço e finalmente consegui falar com ele.
Dei meu primeiro CD e mantive contato com o assessor dele, que fez a ponte entre nós. Ele foi super simpático todas as vezes que nos encontramos e quando deu o sim para a gravação, ficamos muito emocionados, pois foi realmente uma conquista tê-lo dividindo essa faixa comigo. 

E a seleção para o repertório desse segundo CD. Como foi o processo?

Foi mais fácil, eu não tive muita dificuldade. Cantei em diversos lugares durante esse período, entre o primeiro CD e esse que esta saindo do forno. Sinto que existe uma carência de alguns autores, que são super famosos, mas que as pessoas não ouvem em gravações. Trouxe um pouco do universo da noite, para o meu disco. Uma pegada mais dançante, pop, com letras fortes!

Seu pai assina a produção desse trabalho também?

Assina sim, o que me deixa muito feliz. Ele sabe a linguagem que eu quero abordar e eu entendo o que ele quer passar com seus arranjos.

Vocês compartilham as mesmas ideias ou existem divergências?

Compartilhamos e a gente se entende, às vezes as idéias não batem, mas é muito difícil de acontecer e se acontece, resolvemos o problema rápido.

Falando nisso, qual o peso da responsabilidade de ser filha de um grande músico, e de uma das grandes damas da MPB?

Hoje eu encaro de outro jeito, eu acho maravilhoso ser filha deles, eu sou muito fã dos meus pais, admiro a carreira que construíram. Quando eu tinha 15 anos, não gostava de falar que ia cantar, apesar de já gostar da coisa, mas me sentia altamente insegura e achava a profissão muito incerta, com altos e baixos.
As pessoas por sua vez, nunca me cobraram que eu fosse igual a minha mãe, o que eu acho incrível, na verdade elas ficavam muito curiosas para ver como eu ia cantar, como seria meu timbre de voz.
Sou filha da Claudya e do Chico Medori, tenho total influência deles no meu som, mas sou a Graziela Medori.

Costuma se apresentar com seus pais?

Nós fizemos um Show juntos, ano passado. Foi uma experiência maravilhosa, já tinha cantado com eles, mas foi a primeira vez que nos apresentamos juntos, um Show todo, na íntegra.
Nos divertimos muito!

Além do trabalho solo, você é vocalista de uma banda?

Sou vocalista da banda Os Brazucálias. Nós fazemos um resgate de alguns compositores consagrados da década de 70 como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Mutantes, Secos e Molhados, entre outros e fazemos homenagem aos novos como Zeca Baleiro, Lenine e Criolo.

Já fez shows em cruzeiros. Como é a experiência de se apresentar em alto-mar?

Eu fiz quando tive minha primeira bandinha, aos 18 anos. Tocar em alto mar, é uma experiência maravilhosa. Foi nessa ocasião que comecei a cantar música brasileira.
Era um misto de nervoso por estar ali pela primeira vez, mais a empolgação da idade, enfim...Um momento que eu nunca mais vou esquecer.

Durante 1 ano fez shows no bar do Hotel Fasano- Baretto. Onde mais costuma se apresentar?

Eu canto em Teatros, casas de Show, Sescs.

Além do seu trabalho autoral participou da homenagem aos “100 anos de Ataulfo Alves”. Como foi participar de um projeto tão importante como esse?

Foi a primeira vez que participei de um projeto grande, com diversos artistas. Fiz a gravação, que foi ótima e depois me apresentei ao lado da Zezé Motta no Centro Cultural São Paulo, com repertório todo do Ataulfo. Fiquei extremamente nervosa, mas esse foi um dia também especial, pois muitas pessoas me conheceram ali e nunca mais deixaram de me prestigiar.
Foi a primeira porta aberta, agradeço muito ao Thiago Marques Luiz por essa oportunidade!

Participou também do projeto “Literalmente Loucas”, em homenagem a Marina Lima?

Fui convidada para participar desse projeto e o mais incrível foi ouvir a canção gravada por nós, cantoras atuais, pela própria Marina. Rolou uma audição na casa da Patricia Palumbo, ficamos todas apreensivas, mas ela é uma pessoa super simpática, além de ser uma grande artista.
Também um projeto que me orgulha de ter participado, são registros que levarei com muito carinho para o resto da vida.

O que acha do atual momento musical no Brasil?

O que se mostra na mídia, não tem duração, são músicas para serem consumidas nesse momento, depois serão descartadas, mas tem muita coisa boa, de qualidade escondida da grande massa.
Se todos tivessem acesso ao que eu estou podendo ver, ouvir e prestigiar, seria um grande passo, o problema é fazer o público ter esse acesso. Quem não conhece a fonte, o canal, não sabe o que esta rolando de bom musicalmente falando, no Brasil hoje.

Porque é tão difícil ver músicas de qualidade fazendo sucesso no mercado brasileiro?

Esse problema vem lá de trás, é uma bola de neve, tem muita coisa burocrática ai no meio, mas nós chegamos a um ponto, onde se massacra realmente a cultura, porque música é cultura.
É uma pena você ver historicamente que “Garota de Ipanema” chegou a ser um hit de rádio e hoje são músicas que denigrem a imagem da mulher que estão no topo.
Para mim há uma inversão de valores, não sou saudosista, sou a favor de um espaço igualitário para todos os gêneros musicais, espaço para todos nas rádios e na televisão.
Para que isso aconteça, teriam que mudar o sistema já viciado, é bem complicado, mas eu ainda tenho fé no Brasil musicalmente, tem muita coisa boa rolando mesmo, muita gente indo na direção contrária e vivendo bem do que faz, espero que isso se espalhe cada vez mais, que haja uma ramificação de qualidade, estamos precisando, pois uma boa cultura, muda o comportamento de uma sociedade.

Tenho acompanhado interpretes maravilhosos fazendo turnês internacionais, mas sem espaço no seu próprio país e na mídia, para mostrarem seu trabalho. Porque esses artistas tem o reconhecimento no exterior e não são valorizados no seu país de origem?

Não consigo entender isso de verdade e sei de muitos artistas que trabalham mais fora, do que no Brasil, eu mesma, tenho muita vontade de passar um período tocando em outros países e estou trabalhando para isso.
Na verdade é triste, você ter que buscar outros meios de divulgar seu trabalho, se no seu próprio país, as portas não são escancaradas como deveriam ser.
A nossa música é a mais rica de todas e o mundo sabe disso, nós temos influências de músicas do mundo inteiro: africana, portuguesa, espanhola e por ai vai… Feita a fusão, originou-se ritmos maravilhosos como: maxixe, maracatu, baião, samba, olha como nosso país é rico musicalmente e o mundo sabe e valoriza isso.
Quando nos apresentamos para gringos, eles ficam loucos, amam o nosso trabalho, pelo valor que ele tem.

Graziela, a internet favorece o artista para divulgar seu trabalho?

Favorece muito, hoje a internet é por exemplo minha grande fonte para divulgar o meu trabalho.
Uso e abuso dessa ferramenta e temos muita sorte de tê-la a nossa disposição!

Para encerrarmos essa entrevista...qual seu maior sonho?

Viver tranquilamente da minha música e espalha-la para todos os cantos, para que as pessoas me conheçam.
Não quero ser super famosa, essa nunca foi a intenção, a intenção é ser feliz fazendo o que se ama!!

Obrigada.


 


Cleo Oshiro,mineira mas viveu a maior parte da sua vida em São Paulo até se mudar para o Japão em 2002. Colunista Social no Japão, EUA e Suíça.Seu trabalho é divulgado em vários países no exterior onde existem comunidades brasileira.

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