Eu cuido de todos. E quem
cuida de mim?
Bárbara Farias
Artigo publicado no site contioutra
Muitas vezes encontramos
pessoas dispostas a cuidar de tudo e de todos, a qualquer hora, em qualquer
lugar e sob qualquer circunstância. Guarda a dor no bolso e vai cuidar da dor
do outro. Qual ferida esse curador esconde?
Dias e dias passados com aquele
parente no hospital, vive cozinhando para várias pessoas, é sempre o primeiro a
se oferecer para ajudar em um mudança de casa, na organização de uma festa, no
cuidado com as crianças, é “pau pra toda obra”! É aquela mãe que vive só em
função dos filhos; nada de fazer as unhas, arrumar o cabelo, comprar uma roupa
nova. É mãe com dedicação exclusiva aos filhos. Tem também aquele que faz todo
mundo rir, pois se preocupa em manter todos sempre com um alto astral. São
pessoas que dedicam-se ao cuidado do outro. Você conhece alguém assim? Então
esse texto é para você!
Que se dispor a cuidar das
pessoas, dedicar-se, ser solícito, sejam atos admiráveis, disto não restam
dúvidas. Estamos precisando de pessoas que se importam verdadeiramente com as
outras, pois o mundo está lotado de pessoas egoístas e cheias de si. O problema
é quando a dedicação ao outro é tanta que se esquece do cuidado de si mesmo.
Além disso, quem precisa receber cuidados, precisa de alguém que esteja em boas
condições física, psíquica e emocional. É preciso estar inteiro!
Quando o tempo está sendo
ocupado sempre com o outro, deixa-se pouco ou quase nada de espaço para o
cuidado consigo mesmo. Ao voltar-se o olhar para o externo, para o outro,
desvia-se do olhar para dentro, para si mesmo. Então precisamos iniciar uma
autoanálise: O que não pode ser visto? Há algo em mim que estou evitando? O que
em mim é tão difícil de encarar? São perguntas que devem ser feitas para que se
possa analisar como está sendo o cuidado com a própria vida. Essa vida tão
única e passageira.
Por mais que a vida do outro
seja muito importante, a própria vida também é. A própria ferida precisa ser
cicatrizada. A realização pessoal, a felicidade, o bem-estar, não podem
depender apenas do riso do outro, do conforto do outro, da qualidade de vida só
do outro. Quando o outro se vai (e as pessoas vêm e vão), precisamos nos
perguntar: O que resta de mim? O quanto de mim pode ser preservado? Cuidado?
Qual é a minha identidade? Do que eu gosto, minha música preferida, o meu prato
especial, meu filme favorito, meu passatempo aos finais de semana… Tudo isso
são modos de saber quem somos, do que gostamos e qual a forma que sentimos que
estamos cuidando de nós.
Em síntese, precisamos
refletir: Gosto de cuidar do outro; isso eu já sei fazer bem. Agora preciso
aprender a cuidar de mim, a gostar de mim, a me olhar, a me tratar com carinho
e com respeito, a me amar. Eu tenho esse direito!
Bárbara Farias
Psicoterapeuta de orientação
psicanalítica, possui especialização em Psicologia Hospitalar, com ênfase em
Oncologia (FCM-UNICAMP) e é mestranda no programa ICHSA (FCA-UNICAMP), tendo a
morte como tema de pesquisa. Administradora da página Por que você se foi?
-Falando sobre a morte.
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