Gosto dos amigos que
respeitam o tempo, o silêncio e o espaço
Texto original em espanhol
de Valeria Sabater.
Meus melhores amigos podem
ser contados nos dedos de uma mão. São poucos, mas são grandes, com sentimentos
sinceros e sem duplos sentidos. É uma amizade cúmplice, altruísta, que não sabe
de chantagens, que se oferece com liberdade para incentivar, para fazer minha
vida mais completa…
E você, quantos amigos tem?
Há quem se orgulhe de ter
uma enorme quantidade de amigos, nomes que coleciona nas redes sociais, pessoas
que mal conhece e que, no entanto, são aquelas que sempre lhe oferecem uma
“curtida” em cada uma de suas publicações.
Os bons amigos não são só
nomes e fotografias nas agendas de nossos celulares. São pessoas que atendem
nossas palavras e sabem interpretar nossos gestos.
São vidas que se encaixam em
nossos cantos vazios, vozes que enchem nossos espaços nos maus e bons momentos,
são risadas que relativizam os problemas e pessoas com as quais construímos
nossos dias.
Entretanto… como poderíamos
definir os bons amigos? Não pense em favores. A amizade não deve se basear
somente em “Um dia você me dá, no outro eu te dou”. Às vezes, além do apoio, da
diversão ou da ajuda mútua, uma boa amizade, uma GRANDE amizade, baseia-se também
no silêncio, no espaço e no tempo.
Vamos refletir sobre isso.
A linguagem dos silêncios
Certamente isso já aconteceu
com você alguma vez. Estar em uma reunião com outras pessoas e sentir um
verdadeiro incômodo quando surge um silêncio no grupo.
É aí então que fazemos
aqueles comentários vazios e ocos com os quais aliviamos o vazio das palavras,
que os rostos são examinados sem saber muito bem o que fazer.
É algo que não acontece
somente com desconhecidos. Há vezes em que sentimos esse mesmo incômodo com
alguns familiares ou com companheiros de trabalho.
É como se o silêncio abrisse
as portas para estes pensamentos calados que nos causam medo… “Será que a
pessoa está me julgando? ”, “O que será que ela está pensando sobre mim?
Isso não acontece com os
bons amigos. Poderíamos dizer também, e como uma reflexão, que as pessoas
praticam muito pouco o valor do silêncio.
Lá onde as almas repousam
tranquilas, onde a cumplicidade adquire seu autêntico sentido. Somos pessoas
que não precisam das palavras para estarmos unidas, para nos sentirmos bem. Os
silêncios são cômodos com as pessoas de quem gostamos porque nos permitimos ser
nós mesmos, com toda nossa autenticidade, sem sermos julgados.
O silêncio une corações e relaxa nossas
mentes.
A inexistência do tempo…
“Mas o que está acontecendo
com a sua vida…? Parece que você se esqueceu de todo mundo, você sempre está na
sua e não se lembra dos demais! Você sumiu! ”
Pode ser que alguma das suas
amizades seja desse jeito. Você deixou passar um dia de “incomunicação” sem
nenhuma razão, simplesmente porque queria ou porque você não se vê obrigado a
ter que estar em contato constantemente. E pouco a pouco aparecem as
reclamações.
É assim, tem gente que não
entende esse tipo de coisa. Há quem pense que a amizade é um noticiário que
temos que “atualizar diariamente”, onde temos que comunicar cada coisa que
fazemos e pensamos.
No momento em que aparece a
pressão da obrigatoriedade, nos sentimos um pouco assediados. Porque quem não
respeita um tempo de privacidade e, inclusive, de desconexão, não entende o
autêntico valor da amizade.
Há pessoas que, seja por
razões pessoais ou de trabalho, ficam distantes durante meses ou até mesmo
anos, no entanto, ao se reunirem novamente, a mágica da cumplicidade que tanto
aquece nossos corações continua existindo. É como se o tempo não tivesse
passado, porque o sentimento continua o mesmo.
Isso já lhe aconteceu alguma
vez?
Espaços próprios, espaços
comuns
Poderíamos dizer que o
problema básico é que muita gente não controla de modo adequado a solidão, suas
emoções, nem respeita os espaços pessoais.
Todos nós temos ou tivemos
aquelas amizades que precisam estar em contanto constante para compartilhar um
pensamento, um medo, uma ansiedade… E, de fato, nós costumávamos dar tudo o que
tínhamos para atendê-las.
Pouco a pouco fomos
compreendendo que essa pessoa disponia de uma escassa habilidade para controlar
seus próprios problemas, até o ponto de projetar nos demais seus medos e sua
negatividade.
E, sem dúvidas, damos tudo
por eles, mas com um limite: que respeitem nossos espaços pessoais, nossa
identidade e nosso equilíbrio emocional.
Apesar de tudo, as pessoas
não têm motivos para viver com as pedras que os outros encontram em seu próprio
caminho, porque fazer isso, unir tais problemas aos nossos, fará com que seja
muito complicado avançar.
As
verdadeiras amizades não devem oferecer cargas nem serem tóxicas. Devem
harmonizar nossa vida como companheiros de viagem, como confidentes que sabem
respeitar espaços, tempos e silêncios. Os bons amigos sempre vivem do lado mais
autêntico do nosso coração.
Nenhum comentário
Postar um comentário