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"CASTELO DA CINDERELA" ALEMÃO FOI ESCONDERIJO NAZISTA


"Castelo da Cinderela" alemão foi esconderijo nazista

Encravado nos Alpes bávaros, Neuschwanstein foi modelo para filmes da Disney e é candidato a Patrimônio Mundial da Unesco. Na Segunda Guerra, regime de Hitler usou palácio para ocultar tesouro artístico roubado.
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Situado no alto de um penhasco nos Alpes da Baviera perto de Füssen, Alemanha, o Castelo de Neuschwanstein é o epítome do idílico. As suas torres elevam-se aos céus, enquanto as paisagens envolventes convidam ao devaneio. É o material dos contos de fadas. Tanto assim, que o homem que o construiu é apelidado de "rei dos contos de fadas": Ludwig 2° da Baviera, nascido em 1845. "Neuschwanstein está situado nesta paisagem alpina. Reminiscente de um cenário teatral, Ludwig 2° pretendia unir arquitetura, arte e paisagens em uma obra de arte completa", diz Alexander Wiesneth, da administração dos palácios da Baviera.


Concebido como lugar de refúgio

Neuschwanstein foi aberto ao público apenas algumas semanas após a misteriosa morte de Ludwig 2° em 1886. Foi uma reviravolta irônica do destino, pois o rei o construiu como um refúgio particular para si mesmo, buscando desesperadamente a solidão.


Ares medievais

Ludwig 2° colheu a inspiração para Neuschwanstein, construído no estilo de um castelo medieval, durante as viagens que fez em 1867 ao Castelo de Wartburg perto de Eisenach, Alemanha, e ao Chateau de Pierrefonds, na França.

Em maio de 1868, o excêntrico Ludwig 2° escrevia a seu tão admirado amigo, o compositor de ópera Richard Wagner: "É minha intenção reconstruir a ruína do velho castelo em Hohenschwangau, próximo do desfiladeiro de Pollat, no verdadeiro espírito dos velhos castelos alemães de cavaleiros, e devo confessar a você que estou ansioso para lá um dia (em três anos) morar".

Cartão de noivado de Ludwig 2° e da duquesa Sophie: rei bávaro não chegou a se casar e viveu solitário a maior parte da vida
A construção do novo palácio, que deveria ter 200 quartos, começou em setembro de 1869. A primeira coisa a ser concluída em 1873 foi o edifício onde fica o portal de entrada, para o qual Ludwig 2° se mudou. Mas ele não conseguiu concluir seu projeto. Quando morreu, a maior parte dos trabalhos de construção foi paralisada.

Apesar de todo o seu ar romântico e esplendoroso de conto de fadas, Neuschwanstein já ostentava avanços modernos, como aquecimento central, vasos sanitários com descarga e um sistema de campainha para chamar os criados.

A grande admiração de Ludwig 2° por Wagner e suas obras se refletiu no projeto do palácio. As óperas de Wagner Tannhäuser, Lohengrin e Parsifal tiveram uma forte influência em Ludwig 2°. Numerosas pinturas e murais nos salões do castelo mostram motivos do mundo das lendas e contos de fadas da Idade Média.


Depósito para obras de arte roubadas pelos nazistas

Mas não apenas o desenho arquitetônico elaborado e de conto de fadas de Neuschwanstein tornou o castelo famoso. Ele também ficou conhecido por ter sido usado pelos nazistas como um depósito para obras de arte roubadas durante a Segunda Guerra Mundial – como mostra o filme de George Clooney de 2014, Caçadores de obras-primas.

Soldados americanos com arte saqueada encontrada em Neuschwanstein em 1945
Depois que as tropas alemãs invadiram a vizinha França em 1940, Adolf Hitler autorizou a força-tarefa liderada por Alfred Rosenberg a registrar e confiscar bens culturais valiosos pertencentes a "propriedade judaica não reclamada".

Entre 1940 e 1945, os nazistas transferiram esses bens saqueados, principalmente de judeus, a lugares por toda a Europa e, mais tarde, também à Alemanha, incluindo minas de sal, mosteiros e castelos.

O Castelo de Neuschwanstein serviu como depósito ideal e quartel-general da força-tarefa de Rosenberg. Localizado perto da fronteira austríaca, longe da capital Berlim e de outros possíveis alvos aliados, ele oferecia amplo espaço.


Descoberta dos tesouros saqueados

Quando os Aliados invadiram Neuschwanstein em 1945, encontraram catálogos, slides e listas de mais de 20 mil obras de arte e outros itens saqueados pelos nazistas, incluindo joias e móveis da família Rothschild e a obra-prima dos irmãos Van Eyck, o Retábulo de Gante.

Um soldado americano desembrulha uma pintura descoberta no depósito de Neuschwanstein em 1945
Muitos dos itens vieram da França. Foi graças aos esforços corajosos da curadora francesa Rose Valland que as forças aliadas descobriram o esconderijo em Neuschwanstein, de acordo com o historiador de arte S. Lane Faison Jr. – um dos "caçadores de obras-primas". "Ela fingiu ser uma colaboradora [nazista]", disse Faison sobre Valland, que trabalhava na Galerie Nationale du Jeu de Paume em Paris, um museu usado pelos nazistas como ponto de coleta de arte saqueada antes do envio à Alemanha.

Valland rastreou secretamente durante anos para onde as obras de arte foram transportadas. Felizmente, suas meticulosas anotações acabaram nas mãos dos Aliados. No final da guerra, o Munich Central Collecting Point (MCCP) foi fundado com o objetivo de devolver as obras de arte roubadas pelos nazistas aos seus legítimos proprietários.

Cate Blanchett, como Rose Valland, junto com Matt Damon em cena de "Caçadores de obras-primas", de 2014
Olhar para o futuro

Neuschwanstein foi apenas um dos luxuosos projetos de construção de Ludwig 2°. Outros incluem o palácio rococó de Linderhof, o barroco Palácio de Herrenchiemsee e o Königshaus am Schachen.

Juntamente com o Castelo de Neuschwanstein, eles estão atualmente se candidatando para serem incluídos na lista do Patrimônio Mundial da Unesco. Espera-se que a decisão sobre a admissão seja tomada em meados de 2025.

Seja como o sonho de um rei, como um antigo depósito de arte saqueada pelos nazistas ou como inspiração para os castelos da Cinderela e da Bela Adormecida de Walt Disney – Neuschwanstein tem uma história para contar. E o popular destino turístico voltou a ser iluminado à noite: no auge da crise energética, os holofotes haviam sido desligados para economizar eletricidade. Mas, neste mês de abril, o Castelo de Neuschwanstein voltou a brilhar.




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