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Aprender a lidar com pesadelos é especialmente importante para pessoas que sofrem de transtorno pós-traumático |
Sonhos lúcidos podem ajudar a lidar com traumas
Por Selma Narine
Quando aliada à psicoterapia, a indução de sonhos em estado consciente pode ajudar pessoas com pesadelos recorrentes e até mesmo esquizofrênicos. Mas tentar controlar a mente durante o sono também tem seus riscos.
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Voar como um pássaro ou controlar o pesadelo: o que soa como um superpoder pode ser realizado através dos sonhos lúcidos. Neles, as fronteiras entre sonho e realidade tornam-se difusas: alguém que dorme e sonha, mas tem plena consciência disso e pode, até mesmo, interferir no que se desenrola em sua consciência.
Nem todos têm essa experiência ou a conhecem pelo termo técnico: uma análise baseada nos resultados de outros estudos científicos publicados anteriormente concluiu que uma em cada duas pessoas dizem já ter tido um sonho lúcido – cerca de 25% dos adultos afirmam tê-lo com frequência.
Mas a capacidade de ter sonhos lúcidos é algo que pode ser treinado, tornando-se acessível a quem raramente vive a experiência ou mesmo a quem nunca a viveu.
Como ter sonhos lúcidos
Há diversos métodos disponíveis na internet – embora a comprovação científica da eficácia deles , segundo o psicólogo Daniel Erlach, Como cursos online não têm um controle de qualidade, explica ele, é muitas vezes difícil saber qual deles levar a sério.
A técnica mais simples é o teste de realidade, que consiste em se perguntar várias vezes ao dia: "Estou sonhando ou estou acordado?" O segredo é tornar esta pergunta um hábito, para que ela surja com facilidade também no sonho.
Ao longo do dia, e também no sonho, a pergunta deve ser respondida com um autoteste, por exemplo beliscando-se. Se não estiver dormindo, irá sentir dor; caso contrário, o teste falhará e você saberá que está sonhando. Manter um diário de sonhos também pode ajudar.
Quem tem pesadelos recorrentes, porém, não deve se aventurar em sonhos lúcidos sem a supervisão de um terapeuta.
O que acontece nos sonhos lúcidos?
A ciência do sono se dedica a uma análise mais intensa do fenômeno desde a década de 1980. Pesquisadores conseguiram provar que sonhos lúcidos acontecem – o estágio do sono em que, diferentemente do sono profundo, há maior atividade cerebral; essa fase é perceptível pelos rápidos movimentos dos olhos por debaixo das pálpebras.
Durante o sonho lúcido, algumas áreas do cérebro têm nitidamente maior atividade. "Entre elas, por exemplo, uma região cerebral que é ativada quando estamos acordados, pensando em nós mesmos", explica o neurocientista Martin Dresler, da Universidade Radboud de Nimega.
O cérebro de pessoas que têm sonhos lúcidos frequentes também exibe outra particularidade notável: o lobo frontal, área importante para a reflexão sobre si mesmo, é maior.
Sonhos lúcidos também podem ser úteis para "treinar mentalmente" movimentos rotineiros que fazemos quando estamos acordados, melhorando-os na vida real.
Sonhos lúcidos na psicoterapia
Na terapia, sonhos lúcidos ganham cada vez mais importância. Segundo Brigitte Holzinger, psicoterapeuta e pioneira na ciência do sono e do sonho, eles são um excelente instrumento para lidar com pesadelos – algo especialmente importante para quem sofre de transtorno de estresse pós-traumático, um distúrbio que surge após situações extremas ou ameaçadoras.
Sonhos lúcidos podem empoderar esses pacientes que revivem esses traumas constantemente em pesadelos, ajudando-os a confiar mais em si mesmos, explica Holzinger: "Minha experiência é que pessoas que passaram a ter pesadelos após um trauma sentem um alívio imenso ao perceberem que não estão mais tão desamparadas."
Ela diz que o papel do psicoterapeuta, em um tratamento desses, não é prescrever uma solução pré-definida para como lidar com o pesadelo. "Conversamos sobre as possibilidades. O que a pessoa que sonha leva daquilo para os sonhos dela, isso é algo que deixamos a cargo do paciente."
Ao ter sonhos lúcidos, esse paciente pode ir atenuando a experiência traumática que o marcou introduzindo elementos próprios novos, imaginando um grupo de pessoas que o protege ou apoia, exemplifica Holzinger.
Os resultados, para ela, são animadores: no sonho, pacientes passam a repelir ativamente pessoas que os assombram, ou aprendem a se defender. O tratamento da esquizofrenia também pode se beneficiar de sonhos lúcidos, ajudando a treinar a consciência dos pacientes.
Riscos e contraindicações
Embora sonhos lúcidos soem como algo interessante para quem deseja o impossível, Holzinger aconselha a tratar a experiência com respeito. "Alguns mergulham tão fundo nisso que passam a querer ter sonhos lúcidos todos os dias", afirma.
O mundo dos sonhos, adverte ela, não deve substituir o mundo real e também tem seu lado sombrio. Ela recomenda acompanhamento especializado especialmente no caso de pessoas com pesadelos recorrentes. "É preciso ir trabalhando devagar, não dá para sobrecarregar os pacientes."
Quem se dedica muito rapidamente e sem supervisão aos sonhos lúcidos pode acabar conseguindo o oposto de uma mente mais saudável. "Aí sim é que podem desenvolver um adoecimento psíquico", alerta Holzinger.
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Fonte: DW
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